1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
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Outro exemplo: já que uma pon<strong>de</strong>rada e harmônica <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os indivíduos, as<br />
famílias e as classes sociais é condição indispensável para o bem comum (cfr. Parte IV, Cap. IX, 4),<br />
atentam contra este último e violam a respectiva função social, os indivíduos, famílias e classes<br />
sociais que, pela mera influência <strong>de</strong> um humanismo igualitário e injusto, abusam <strong>de</strong> seus direitos civis<br />
ou políticos para contestar a primazia dos que lhe são proporcionadamente superiores.<br />
Nesta perspectiva, e em face da alarmante extensão que tomou em nosso tempo a contestação<br />
a toda e qualquer preeminência ou superiorida<strong>de</strong> sócio-econômica, o católico que se opõe a uma linha<br />
<strong>de</strong> conduta tão nociva ao bem comum, pratica uma opção preferencial simétrica com a análoga “opção<br />
preferencial pelos pobres”. É a “opção preferencial em favor dos superiores”.<br />
Nada mais errado que enten<strong>de</strong>r que entre uma e outra “opção preferencial” há conflito. Pelo<br />
contrário, há entre elas uma preciosa e insubstituível complementarieda<strong>de</strong>. Pois se, como ensinou São<br />
Pio X con<strong>de</strong>nsando o ensinamento <strong>de</strong> Leão XIII, no corpo social <strong>de</strong>ve haver “príncipes e vassalos,<br />
patrões e proletários, ricos e pobres, sábios e ignorantes, nobres e plebeus” (Motu proprio Fin dalla<br />
prima <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1903, item III – Coleção Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis,<br />
1959, 3 ª ed., vol. 38, p. 23), são validamente complementares todas as opções preferenciais <strong>de</strong>stinadas<br />
a favorecer os organismos sociais combalidos por fatores nocivos. E quem é preeminente em<br />
prestígio, em po<strong>de</strong>r ou em riqueza, quando injustamente contestado em seus direitos pelos<br />
revolucionários, po<strong>de</strong> reivindicar o apoio <strong>de</strong>fensivo dos outros membros do corpo social, pela mesma<br />
razão por que o po<strong>de</strong> fazer, em favor <strong>de</strong> seus direitos, o operário autêntico, laborioso e amante da<br />
parcimônia.<br />
Em suma, se na socieda<strong>de</strong> contemporânea ainda houvesse uma classe com direitos e<br />
encargos jurídicos específicos da nobreza, po<strong>de</strong>r-se-ia dizer que, conforme as circunstâncias, o<br />
verda<strong>de</strong>iro católico <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>dicar-se, ora à “opção preferencial pelos pobres”, ora à “opção<br />
preferencial pelos nobres”. Foi aliás, o que ensinou Pio XII em célebres alocuções ao Patriciado e à<br />
Nobreza Romana, quando se ocupou dos resíduos <strong>de</strong> influência e dos encargos correspon<strong>de</strong>ntes<br />
daquela alta categoria na Cida<strong>de</strong> Eterna 78 .<br />
13 . “Jesus se fez pobre para enobrecer a pobreza” (São Pio X)<br />
Essas consi<strong>de</strong>rações levam a dizer umas poucas palavras sobre o direito – o sagrado e<br />
precioso direito – das classes laborais, à sua própria dignida<strong>de</strong>.<br />
78<br />
Em sua Alocução ao Patriciado e à Nobreza Romana, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1946, Pio XII afirmou:<br />
“A socieda<strong>de</strong> humana não é porventura, ou pelo menos não <strong>de</strong>veria ser, semelhante a uma máquina bem<br />
or<strong>de</strong>nada, cujas peças concorrem todas para um funcionamento harmônico do conjunto? Cada um tem sua função, cada<br />
um <strong>de</strong>ve aplicar-se para um melhor progresso do organismo social, cujo aperfeiçoamento <strong>de</strong>ve procurar, <strong>de</strong> acordo<br />
com as suas forças e próprias virtu<strong>de</strong>s, se tem verda<strong>de</strong>iro amor ao próximo e razoavelmente ten<strong>de</strong> para o bem e proveito<br />
<strong>de</strong> todos.<br />
“Ora, que parte vos foi confiada <strong>de</strong> maneira especial, queridos filhos e filhas? Qual missão vos foi<br />
particularmente atribuída? Precisamente aquela <strong>de</strong> facilitar este <strong>de</strong>senvolvimento normal; aquilo que na máquina presta<br />
e executa o regulador, o volante, o reostato, que participam da ativida<strong>de</strong> comum e recebem a parte que lhes cabe da<br />
força motriz para assegurar o movimento <strong>de</strong> regime do aparelho. Em outros termos, Patriciado e Nobreza, vós<br />
representais e continuais a tradição” (Discorsi e Radiomessaggi, vol. VII, p. 340).<br />
E na Alocução <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1947, igualmente dirigida ao Patriciado e à Nobreza romana, Pio XII continua:<br />
“Vossa missão está, pois, muito longe <strong>de</strong> ser negativa; ela supõe em vós muita aplicação, muito trabalho,<br />
muita abnegação, e, sobretudo, muito amor. Não obstante a rápida evolução dos tempos, vossa missão não per<strong>de</strong>u seu<br />
valor e não atingiu o seu termo. O que ela também pe<strong>de</strong> <strong>de</strong> vós, e que <strong>de</strong>ve ser a característica <strong>de</strong> vossa educação<br />
tradicional e familiar, é o fino sentimento e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> não vos prevalecer<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vossa condição – privilégio hoje em<br />
dia muitas vezes grave e austero – senão para servir.<br />
“Caminhai, pois, com coragem e com humil<strong>de</strong> altivez rumo ao futuro, queridos filhos e filhas. Vossa função<br />
social, nova na forma, é substancialmente a mesma, como nos vossos tempos passados <strong>de</strong> maior esplendor” (Discorsi e<br />
Radiomessaggi, vol. VIII, pp. 370-371).<br />
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