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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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“O que mais chama a atenção não é perceber que, no interior <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses blocos, as<br />

diferenças são abissais. É constatar que as divergências entre ‘progressistas’ e ‘conservadores’ –<br />

que mais <strong>de</strong> uma vez já partiram para resolvê-las literalmente a pancadas – são muito menores do<br />

que parecem à primeira vista” (Igor Fuser, “Folha <strong>de</strong> S. Paulo”, 17-7-87).<br />

A formação <strong>de</strong>sses grupos tem atraído a atenção <strong>de</strong> incontáveis analistas políticos.<br />

Nesse sentido, é particularmente frisante o comentário <strong>de</strong> Jânio <strong>de</strong> Freitas, da “Folha <strong>de</strong> S.<br />

Paulo” (16-9-87):<br />

“Nova onda <strong>de</strong> cassações <strong>de</strong> parlamentares, sem distinção <strong>de</strong> partido, linha i<strong>de</strong>ológica e<br />

princípios morais, está em curso na Constituinte e ameaça sua autenticida<strong>de</strong>, já <strong>de</strong> si relativa dado<br />

o abandono dos compromissos <strong>de</strong> campanha eleitoral por tantos constituintes. ...<br />

“Só a uns 10%, ou muito pouco mais, está sendo concedida a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r ... à<br />

missão <strong>de</strong>legada pelas urnas. ... Quem não figura entre os que negociam os ‘acordos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças’<br />

está tendo sua tarefa constituinte impedida.<br />

“São 466 constituintes que não compõem a Comissão <strong>de</strong> Sistematização e mais algumas<br />

<strong>de</strong>zenas dos que a integram. Em 559, o total <strong>de</strong> marginalizados ronda os 500. São os novos cassados.<br />

Em uma Constituinte que vinha compor o Estado <strong>de</strong> Direito e abrir caminho à vida <strong>de</strong>mocrática”.<br />

O “Jornal do Brasil” (30-8-87) é severo na censura a esse processo <strong>de</strong> elaboração da Nova<br />

Carta:<br />

“Nada <strong>de</strong> <strong>de</strong>finitivamente bom se po<strong>de</strong> esperar <strong>de</strong> uma constituição tecida à sombra em que<br />

se refugiam propósitos inconfessáveis. ...<br />

“A Constituinte .... foi uma feira livre .... O resultado só po<strong>de</strong>ria ser duvidoso, porque o<br />

mandato representativo não tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> legitimar atos tramados no escuro e que não resistem à<br />

luz do dia”.<br />

Pense-se o que se pensar sobre a autenticida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas articulações <strong>de</strong> bastidores, o fato é que<br />

elas são reveladoras do impasse a que se chegou nos trabalhos <strong>de</strong> elaboração do novo texto<br />

constitucional.<br />

6 . A orientação <strong>de</strong> fundo do <strong>Projeto</strong> Cabral<br />

Muitas críticas ao <strong>Projeto</strong> Cabral salientam sua orientação <strong>de</strong> fundo:<br />

“O que caracteriza, acima <strong>de</strong> tudo, o arcaísmo <strong>de</strong> sua visão está no fato <strong>de</strong> encararem a<br />

ação do Estado, ou, <strong>de</strong> forma mais precisa, a intervenção do governo, como um recurso primeiro,<br />

último e constante <strong>de</strong> todo progresso social” (“Folha <strong>de</strong> S. Paulo”, 4-7-87).<br />

“A fatigante, tediosa e <strong>de</strong>salentadora leitura do ‘Anteprojeto <strong>de</strong> Constituição’” levaria à<br />

“imagem da centralização autofágica que torna incapazes e inoperantes um sem número <strong>de</strong><br />

organismos administrativos, sobretudo, na administração pública, em nossos dias”. Seria o reflexo<br />

<strong>de</strong> uma Constituição que “se obstina em cercear as iniciativas livres e conferir ao Estado, patrão<br />

supremo e onipotente, a tutela sobre todas as pessoas e ativida<strong>de</strong>s” (Dom Lourenço <strong>de</strong> Almeida<br />

Prado O.S.B., “Jornal do Brasil”, 15-7-87).<br />

“Além <strong>de</strong> utópico, prolixo e <strong>de</strong>magógico, é inexeqüível e inaplicável o anteprojeto ...<br />

Preceitua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o direito à felicida<strong>de</strong> à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corte da luz, por quem não pagar a conta.<br />

Institucionaliza a <strong>de</strong>lação e estabelece um sistema <strong>de</strong> governo impossível <strong>de</strong> funcionar, meio<br />

parlamentarista, meio presi<strong>de</strong>ncialista. Ilu<strong>de</strong> o trabalhador dispondo sobre a estabilida<strong>de</strong> no<br />

emprego aos 90 dias e abre as portas para o <strong>de</strong>semprego em massa. Fala em <strong>de</strong>sestatização mas<br />

amplia as tenazes do Estado sobre a economia, ao [mesmo] tempo em que, preten<strong>de</strong>ndo acabar com<br />

a discriminação, privilegia minorias. Dá aos estados e municípios maior receita tributária, mas, por<br />

conta disso, amplia os mecanismos para a União taxar ainda mais o cidadão comum.<br />

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