1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
confiança popular que, seguramente, per<strong>de</strong>mos ao longo do último mandato (“Diário do Congresso<br />
Nacional”, 26-11-86, seção I, p. 10.937).<br />
César Maia, ex-Secretário da Fazenda do Governo Brizola e candidato mais votado do PDT,<br />
no Rio <strong>de</strong> Janeiro, para a Câmara, afirma que a gran<strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> votos em branco e nulos tira<br />
qualquer legitimida<strong>de</strong> da nova Constituição (“Folha <strong>de</strong> S. Paulo”, 27-11-86).<br />
O advogado paulista Hélio Bicudo escreve: As questões aqui sucintamente expostas estão a<br />
<strong>de</strong>monstrar que o futuro Congresso Constituinte não terá a legitimida<strong>de</strong> necessária para redigir um<br />
texto constitucional que seja a expressão da vonta<strong>de</strong> da maioria, porque todo o processo eleitoral se<br />
qualificou por <strong>de</strong>svios que <strong>de</strong>sfiguraram a sua representativida<strong>de</strong> e sem representativida<strong>de</strong> não se<br />
po<strong>de</strong> falar em constituição <strong>de</strong>mocrática (“O São Paulo”, 5 a 11-12-86).<br />
5 . Referendum popular, para sanar a irrepresentativida<strong>de</strong> da Constituinte<br />
Para tentar sanar a grave carência <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> da presente Constituinte, ergueram-se<br />
numerosas vozes, em todos os quadrantes do panorama político nacional, pleiteando o referendum<br />
popular para a nova Constituição.<br />
Assim, “O São Paulo” (12 a 18-12-86), órgão oficioso da Arquidiocese <strong>de</strong> São Paulo, afirma:<br />
Cresce, no meio político, a idéia <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> um referendo popular para a nova Constituição a<br />
ser redigida pelo Congresso Constituinte ... O gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> votos nulos e em branco torna ainda<br />
mais ilegítima a Constituinte Congressual.<br />
Ricardo Noblat, do “Jornal do Brasil” (20-11-86), comenta: O <strong>de</strong>putado Ulysses Guimarães<br />
sugeriu, ainda que timidamente, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> submeter a um referendum da população as mais<br />
cruciais <strong>de</strong>cisões que a Constituinte venha a tomar. Alargue-se a sugestão: que a nova Constituição,<br />
como um todo, passe pelo crivo <strong>de</strong> um plebiscito. O recurso não a absolverá dos seus pecados<br />
originais, mas servirá, pelo menos, para reforçar o fruto que conceber.<br />
O governador Orestes Quércia, também acha muito boa a idéia. Ele consi<strong>de</strong>ra, ainda, que o<br />
plebiscito retiraria da Constituição a mácula que representou a avalanche <strong>de</strong> votos brancos e nulos<br />
para a escolha <strong>de</strong> senadores e <strong>de</strong>putados (Ricardo A. Setti, “Jornal do Brasil”, 23-11-86).<br />
E, na mesma linha, pronunciou-se o Governador Franco Montoro: Sempre fui favorável a<br />
submeter a futura Constituição à aprovação popular, <strong>de</strong>clarou. Os anais do Senado guardam<br />
discurso que fiz nesse sentido (“Jornal do Brasil”, 23-11-86).<br />
O Car<strong>de</strong>al-Arcebispo <strong>de</strong> São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, é enfático: É uma questão <strong>de</strong><br />
honestida<strong>de</strong>. Se não aprovarem o plebiscito antes mesmo <strong>de</strong> elaborarem a constituição, esta terá sua<br />
credibilida<strong>de</strong> irremediavelmente abalada (“Jornal do Brasil”, 26-11-86).<br />
Parte III – A carência <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong> da Constituinte, manifestada<br />
no funcionamento tumultuado e anômalo <strong>de</strong>sta<br />
Provada embora a insuficiente autenticida<strong>de</strong> da Constituinte que saiu das urnas a 15 <strong>de</strong><br />
novembro <strong>de</strong> 1986, po<strong>de</strong>r-se-ia alegar quiçá que ela se legitimaria por uma atuação consoante com a<br />
lei <strong>de</strong> Deus e a vonta<strong>de</strong> da Nação. Infelizmente, não foi o que ocorreu, como se mostrará a seguir.<br />
* * *<br />
O entrechoque político, seja ele doutrinário, partidário, puramente pessoal, ou ainda <strong>de</strong><br />
qualquer outra natureza, apaixona facilmente.<br />
E essa paixão costuma contagiar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo círculos mais amplos do que aqueles em que tal<br />
episódio ou tal lance tenha ocorrido: “torcedores” da política em rodas intelectuais ou sociais, homens<br />
<strong>de</strong> imprensa, leitores ou tele-ouvintes particularmente interessados em assuntos políticos etc.<br />
71