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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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em como das surpresas que se suce<strong>de</strong>m em rápida cadência, é necessária uma preparação da opinião<br />

pública, não só próxima, nas semanas ou meses que antece<strong>de</strong>m a eleição, mas também remota, <strong>de</strong><br />

longo prazo.<br />

2 . Grupos, instituições e meios <strong>de</strong> comunicação social que <strong>de</strong>spertem a<br />

formação <strong>de</strong> uma opinião pública – e que sirvam <strong>de</strong> porta-vozes <strong>de</strong>sta<br />

A preparação remota supõe a existência, no País, <strong>de</strong> instituições privadas e públicas idôneas<br />

para estudar os problemas locais, regionais e nacionais, e propor-lhes soluções, bem como para a<br />

difusão <strong>de</strong>stas em larga escala, com o propósito <strong>de</strong> suscitar a tal respeito controvérsias esclarecedoras.<br />

Igualmente é necessária, para a formação da opinião nacional, a cooperação dos meios <strong>de</strong><br />

comunicação social que, por sua própria natureza, dispõem <strong>de</strong> peculiar influência na missão <strong>de</strong><br />

informar e <strong>de</strong> formar seus leitores ou ouvintes. Para tal, <strong>de</strong>vem eles refletir as principais tendências<br />

da opinião e, pelo diálogo como pela polêmica, manter o público informado da atuação e das metas<br />

das várias tendências ou opiniões.<br />

3 . A eliminação do voto irrefletido ou carente <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong><br />

É necessário ainda que tais instituições e órgãos <strong>de</strong> comunicação social se empenhem em<br />

erradicar do espírito público certa imprevidência otimista e sistemática, muito disseminada em nosso<br />

povo. Baseada no pressuposto <strong>de</strong> que “Deus é brasileiro”, essa atitu<strong>de</strong> imprevi<strong>de</strong>nte induz a<br />

negligenciar temerariamente o estudo e a reflexão sobre os problemas do bem comum, e a imaginar<br />

suficiente o mero “palpite” (emitido em via <strong>de</strong> regra tão-só com base em simpatias ou fobias<br />

pessoais), para dar fundamento ao voto. Voto este que, assim obviamente inidôneo e irrefletido, só<br />

po<strong>de</strong> dar origem a leis ineptas e governos incompetentes, que singrem <strong>de</strong>spreocupados os mares do<br />

absurdo.<br />

A esse vezo há que acrescentar ainda um certo espírito <strong>de</strong> “torcida”, o qual leva tantos<br />

eleitores a assistirem os <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> televisão entre candidatos, não como quem procura o argumento<br />

sério e convincente para justificar a solução sólida e salvadora, e a opção em favor do candidato que<br />

a sustenta; mas, pelo contrário, como quem está disposto a dar sua opção ao tele-contendor com<br />

aparência mais simpática ou com voz mais melódica, ou ainda com argumentação mais jocosa. O<br />

extremo <strong>de</strong>ste vezo conduz importantes contingentes eleitorais a darem seu voto a radialistas, artistas<br />

e outros, cujas profissões muito absorventes nem lhes permitem, em geral, tomar conhecimento<br />

sistemático e profundo para participar da direção do Estado na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> legisladores.<br />

Esses diversos vezos, responsáveis freqüentemente pela irreflexão política do eleitorado,<br />

oneram o País com o custo terrível da inautenticida<strong>de</strong> institucional. Quanto mais numerosos os que<br />

votam <strong>de</strong> modo irrefletido, tanto mais numerosos também se vão tornando os que duvidam da<br />

capacida<strong>de</strong> do regime <strong>de</strong>mocrático representativo para conduzir entre nós a algo <strong>de</strong> sério e eficaz.<br />

Nas atuais condições, tudo isto só po<strong>de</strong> conduzir, por fim, a uma política: a do avestruz, para quem a<br />

solução das situações arriscadas consiste em meter a cabeça na areia.<br />

Na realida<strong>de</strong>, a falta <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong> no clima pré-eleitoral, simbolizada com dramático po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> expressão pela presença cada vez mais marcante do show nos comícios políticos, prova que, no<br />

Brasil hodierno, o <strong>de</strong>bate sério ten<strong>de</strong> rapidamente a <strong>de</strong>saparecer. E, quando existe, interessa pouco.<br />

O que constitui uma prova a mais <strong>de</strong> quanto urge extirpar do Brasil o voto não sério, tornando<br />

freqüente, interessante, conclusiva a exposição – quando não o <strong>de</strong>bate dialético ou polêmico – dos<br />

gran<strong>de</strong>s temas nacionais.<br />

Se tal não se fizer, não adianta clamar, bradar ou uivar a favor da <strong>de</strong>mocracia. Presentemente,<br />

o principal fator da precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>la não resi<strong>de</strong> em seus adversários, porém nela mesma, isto é, no<br />

estado <strong>de</strong> espírito com que a praticam tantos e tantos dos que a louvam e aclamam.<br />

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