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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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A explicação mais provável talvez consista em que, à margem da insuportável “or<strong>de</strong>m”<br />

vigente na era Brejnev, o costume foi constituindo localmente, no imenso território russo, miría<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> pequenos hábitos locais, ilegais uns, extralegais outros, mas constituindo – todos – uma vigorosa<br />

contextura <strong>de</strong> adaptações, sem as quais o povo não teria conseguido sobreviver. À semelhança <strong>de</strong><br />

certos bancos <strong>de</strong> coral que se constituem gradualmente a partir das últimas profundida<strong>de</strong>s do mar, e<br />

chegam às proximida<strong>de</strong>s da superfície <strong>de</strong>ste, sem emergir ainda das águas – pelo que não os nota o<br />

navegante <strong>de</strong>satento – assim esses costumes po<strong>de</strong>m ser ignorados pelos turistas que se aventuram a<br />

viajar na Rússia. Mas ai do governo que os queira ignorar! Quando a importância <strong>de</strong>les atingir um<br />

discreto auge na linha do seu <strong>de</strong>senvolvimento, tal governo está fadado ao naufrágio, como os barcos<br />

que se atiram contra esse recifes subaquáticos.<br />

9 . Um imprevisível <strong>de</strong>sfecho para o Estado brasileiro<br />

É <strong>de</strong> encontro a todas essas incertezas e riscos que estará exposto a naufragar o Estado<br />

brasileiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a Nação se constitua mansamente, jeitosamente, irremediavelmente à margem<br />

<strong>de</strong> um edifício legal no qual o povo não reconheça qualquer i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> consigo mesmo.<br />

Que será então do Estado? Como um barco fendido, ele se <strong>de</strong>ixará penetrar pelas águas e se<br />

fragmentará em <strong>de</strong>stroços. O que possa acontecer com estes é imprevisível.<br />

É para evitar à nossa Pátria esta catástrofe por antonomásia que a TFP, em espírito <strong>de</strong><br />

concórdia e <strong>de</strong> cooperação, dirige este brado <strong>de</strong> apelo, e esta cordial proposta aos Senhores<br />

Constituintes.<br />

E para que nos <strong>de</strong>svie <strong>de</strong> tantas e tão sinistras perspectivas, pe<strong>de</strong> a TFP a <strong>de</strong>cisiva e materna<br />

intercessão <strong>de</strong> Nossa Senhora Aparecida, gloriosa Rainha do Brasil.<br />

Desfecho – Para evitar o <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro do qual o Brasil vai se<br />

aproximando<br />

É chegado por fim o momento <strong>de</strong> resumir e concluir.<br />

Provado quão pouco é representativa da vonta<strong>de</strong> popular a Constituinte emanada da eleiçãosem-idéias<br />

<strong>de</strong> 1986 (cfr. Parte II) e quanto discrepa da orientação geral do eleitorado – nos seus<br />

aspectos sócio-econômicos – a Constituição que as correntes <strong>de</strong> esquerda tentam impor ao País,<br />

mediante hábeis manipulações (cfr. Partes III e IV), problemas dos mais graves se apresentam ao<br />

espírito dos observadores.<br />

Olhar <strong>de</strong> frente esses problemas, e enfrentar as perplexida<strong>de</strong> e apreensões que eles trazem<br />

consigo, oferecendo ao Po<strong>de</strong>r Público e à opinião do País sugestões viáveis: assim po<strong>de</strong> o bom<br />

brasileiro cumprir seu <strong>de</strong>ver em ocasiões dramáticas, como esta em que vamos entrando.<br />

Em conseqüência, quaisquer atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste gênero <strong>de</strong>vem ser acolhidas <strong>de</strong> boa mente pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s públicas, ainda que elaboradas a partir <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista diversos dos <strong>de</strong>las. Pois isto faz<br />

parte do direito <strong>de</strong> opinar livremente, que assiste a cada cidadão em um regime efetivamente<br />

<strong>de</strong>mocrático, como é ou quer ser o nosso.<br />

Pelo contrário, o Governo que visse em atitu<strong>de</strong>s como esta da TFP um ato <strong>de</strong> oposição<br />

política levado quiçá às raias da ilegalida<strong>de</strong>, ten<strong>de</strong>ria – talvez inadvertidamente – a transformar o<br />

regime <strong>de</strong>mocrático em mera ficção política, cuja essência seria ditatorial.<br />

A TFP se sente, pois, à vonta<strong>de</strong> para pôr no conhecimento da Nação – isto é, Governo e povo<br />

– tudo quanto acaba <strong>de</strong> ser dito.<br />

* * *<br />

• Admitido que este trabalho tenha <strong>de</strong>monstrado que o mandato popular para fazer uma nova<br />

Constituição foi conferido, na maior parte dos casos, a cidadãos brasileiros acerca dos quais o<br />

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