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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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<strong>de</strong>bates <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong> substância i<strong>de</strong>ológica apreciável. Governaram mudos, e mudos caíram ao<br />

chão, pelo impacto da argumentação doutrinária (não raras vezes da parlapatagem...) do adversário.<br />

Mera caricatura da <strong>de</strong>mocracia genuína é a <strong>de</strong>mocracia-sem-idéias que <strong>de</strong> todos estes fatores<br />

resulta, caracterizada por um pragmatismo vazio <strong>de</strong> perguntas e <strong>de</strong> rumos.<br />

8 . A TFP face à <strong>de</strong>mocracia-com-idéias e à <strong>de</strong>mocracia-sem-idéias<br />

A distinção entre <strong>de</strong>mocracia-com-idéias e <strong>de</strong>mocracia-sem-idéias leva a um tema que <strong>de</strong>ve<br />

ser analisado com particular objetivida<strong>de</strong>.<br />

Extrapartidária por <strong>de</strong>finição, a TFP não opta por formas <strong>de</strong> governo. Ela aceita o<br />

ensinamento <strong>de</strong> Leão XIII, confirmado por São Pio X, <strong>de</strong> que nenhuma das três formas <strong>de</strong> governo –<br />

monarquia, aristocracia ou <strong>de</strong>mocracia – é intrinsecamente injusta 9 .<br />

Mas ela não exorbita <strong>de</strong> sua posição extrapartidária ao pleitear que, uma vez instalada uma<br />

forma <strong>de</strong> governo, esta seja aplicada com coerência.<br />

Assim, posto que estamos em regime <strong>de</strong> Abertura, cumpre que essa Abertura seja coerente.<br />

O que certamente conduz à vigência da <strong>de</strong>mocracia-com-idéias. E à rejeição da <strong>de</strong>mocracia-semidéias.<br />

9. A inexpressivida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica na fase pré-eleitoral<br />

Ora, nas últimas eleições dir-se-ia que quase tudo concorreu para que o voto irrefletido e<br />

meramente “intuicionista” representasse um papel <strong>de</strong> primeiríssima importância.<br />

Só merece ser chamado <strong>de</strong> refletido o voto dado em função dos reais problemas do País. A<br />

própria escolha do candidato <strong>de</strong>ve ser condicionada essencialmente ao programa com que ele se<br />

apresente para a solução <strong>de</strong> tais problemas.<br />

Isso, que é verda<strong>de</strong>iro para qualquer eleição, o é maximamente para o caso concreto da<br />

escolha <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados à Constituinte, incumbidos pois <strong>de</strong> elaborar a Carta Magna do País.<br />

Ora, como adiante se verá (cfr. Parte II, Caps. I e III), estas eleições foram as mais a-<br />

i<strong>de</strong>ológicas e vazias <strong>de</strong> conteúdo programático, que se possa imaginar.<br />

Tal resultou da fase pré-eleitoral, em que quase todos os partidos políticos e candidatos<br />

evitaram compromissos explícitos com o eleitorado, a respeito dos gran<strong>de</strong>s problemas nacionais. O<br />

que concorreu gravemente para a inautenticida<strong>de</strong> do pleito, como adiante também se verá (cfr. Parte<br />

II, Cap. VIII).<br />

Capítulo III – Obstáculos para a formação da <strong>de</strong>mocracia, na atual<br />

conjuntura da vida pública brasileira – Políticos-profissionais e<br />

profissionais políticos<br />

São consi<strong>de</strong>ráveis os obstáculos para que, na vida pública brasileira, os cidadãos tenham<br />

modos <strong>de</strong> pensar próprios sobre os gran<strong>de</strong>s temas <strong>de</strong> interesse nacional, <strong>de</strong> maneira a se tornarem<br />

9<br />

Segundo a doutrina tradicional da Igreja, qualquer <strong>de</strong>ssas formas é legítima “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que saiba caminhar<br />

retamente para seu fim, a saber, o bem comum, para o qual a autorida<strong>de</strong> social é constituída”(Leão XIII, Encíclica Au<br />

Milieu <strong>de</strong>s Sollicitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> 16-2-1892, Bonne Presse, Paris, vol. III, p. 116).<br />

A tese <strong>de</strong> que “só a <strong>de</strong>mocracia inaugurará o reino da perfeita justiça!”, esposada pelo movimento mo<strong>de</strong>rnista<br />

Le Sillon, foi explicitamente con<strong>de</strong>nada pelo Papa São Pio X, em princípios <strong>de</strong>ste século: “Não é isto uma injúria às outras<br />

formas <strong>de</strong> governo que são rebaixadas, por este modo, à categoria <strong>de</strong> governos impotentes, apenas toleráveis?”- exclama,<br />

em forma <strong>de</strong> interrogativa apóstrofe, o imortal Pontífice (Carta Apostólica Notre Charge Apostolique, <strong>de</strong> 25-8-1910 –<br />

Coleção Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, 1953, 2 ª ed., vol. 53, p. 14).<br />

Cfr. também Leão XIII, Encíclica Diuturnum Illud, <strong>de</strong> 29-6-1881 (Coleção <strong>de</strong> Documentos Pontifícios, Vozes,<br />

Petrópolis, 1951, 3a. Ed., vol. 12, pp. 5-6).<br />

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