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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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quocumque <strong>de</strong>fectu”: diz-se que algo é bom quando nele tudo é bom; para ser mau, porém, basta-lhe<br />

um <strong>de</strong>feito qualquer.<br />

Se na última ponta <strong>de</strong> um raciocínio brota uma conseqüência patentemente contrária ao bom<br />

senso e aos bons costumes, não se <strong>de</strong>ve isto ao longo, luminoso e seguro caminhar da lógica, mas a<br />

algum erro que se tenha esgueirado fortuitamente no processo lógico.<br />

O mal não consiste pois, nem po<strong>de</strong>ria consistir, em ter levado a lógica intransigentemente<br />

até suas últimas conseqüências. Mas precisamente em ter faltado, <strong>de</strong> modo pelo menos inconsciente,<br />

a essa firme intransigência, <strong>de</strong>ixando penetrar algum erro na aceitação <strong>de</strong> alguma premissa, ou na<br />

contextura do raciocínio.<br />

Em outros termos, ser extremado, no sentido <strong>de</strong> remontar até a fonte do processo lógico<br />

autêntico, não é um mal. E, se se enten<strong>de</strong>sse por extremismo chegar aos extremos lógicos <strong>de</strong> alguma<br />

doutrina, ele seria um bem.<br />

Na realida<strong>de</strong>, os mo<strong>de</strong>rantistas <strong>de</strong> nossos dias inci<strong>de</strong>m no equívoco (no qual uma certa dose<br />

<strong>de</strong> fanatismo mo<strong>de</strong>rantista está presente) <strong>de</strong> confundir extremismo com excesso, e paixão da verda<strong>de</strong><br />

com fanatismo.<br />

Este é o fruto do novo fanatismo surgido do pânico <strong>de</strong> uma terceira Guerra Mundial: o<br />

fanatismo mo<strong>de</strong>rantista, levado a todos os exageros pelo instinto <strong>de</strong> conservação exacerbado.<br />

Quantos fatos narra a História, <strong>de</strong> erros e exageros <strong>de</strong> toda espécie, inspirados pelo instinto<br />

<strong>de</strong> conservação! Um <strong>de</strong>stes é, no caso concreto, a afirmação simplista, obsessiva e unilateral, <strong>de</strong> que<br />

no centrismo está sempre a verda<strong>de</strong>. E que tudo o que se diferencie <strong>de</strong>sse centrismo relativista amorfo,<br />

incongruente, eclético, ambíguo – mas ao mesmo tempo tão ou mais <strong>de</strong>spótico do que qualquer<br />

déspota do passado – importa em cair na gran<strong>de</strong> “heresia” do século XX, o extremismo.<br />

7 . Os intransigentes do centro levam sua “lógica” aos últimos extremos<br />

Para tais centristas, pois, os erros estão sempre à direita ou à esquerda. Nunca no centro.<br />

Ou seja, esses supostos “donos da verda<strong>de</strong>” são intransigentes, radicais, e levam, eles<br />

também, sua “lógica” aos últimos extremos. Em uma palavra, são extremistas.<br />

“Extrema-esquerda” e “extrema-direita” seriam intrinsecamente más, pelo simples fato <strong>de</strong><br />

serem extremos. Porque todos os extremos são maus enquanto tais.<br />

Isto posto, suponha-se que, no linguajar do centrismo fanático, os termos “centro”, “direita”<br />

e “esquerda” se reportem tão-só a um segmento <strong>de</strong> reta i<strong>de</strong>al – imagine-se um bastão – com as duas<br />

pontas ( seus dois extremos) rejeitáveis pelo simples fato <strong>de</strong> serem pontas. A solução consistiria em<br />

secionar essas pontas “na lei ou na marra”.<br />

Cortadas as duas pontas do bastão, nem por isto <strong>de</strong>ixa ele <strong>de</strong> ter pontas. Ambas as pontas<br />

anteriores são substituídas por duas pontas novas... menos distantes do centro. E, à força <strong>de</strong> cortar<br />

assim as sucessivas pontas... só resta o centro!<br />

Com efeito, após o primeiro corte, a direita até então mo<strong>de</strong>rada passaria a constituir uma das<br />

extremida<strong>de</strong>s do bastão. E a esquerda, até há pouco também ela mo<strong>de</strong>rada, passaria, por sua vez, a<br />

constituir a outra extremida<strong>de</strong>.<br />

Porém, como todo extremismo é censurável – segundo certas correntes <strong>de</strong> centro – haveria<br />

que suprimir mais uma vez, com análogos métodos, os dois novos extremos.<br />

Feita essa nova amputação, surgiriam, por sua vez, novos extremos para amputar. E isto no<br />

próprio centro. Assim só restaria o centro “absoluto” ou seja, o nada.<br />

8 . O centrismo como posição itinerante, em geral rumo à esquerda<br />

Há, como se vê, centro e centro.<br />

Há centristas que rumam muito lentamente para a esquerda, porque <strong>de</strong> quando em vez<br />

algo em seus corações ainda se volta, saudoso, para a direita, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>m. Estes são propensos<br />

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