1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
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se <strong>de</strong>veu mais à imagem favorável que conseguiu pessoalmente formar. A estrondosa <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong><br />
Francisco Julião confirma, por contraste, o mesmo quadro <strong>de</strong> fracasso geral da esquerda.<br />
É o seguinte o balanço que a “Folha <strong>de</strong> S. Paulo”(28-12-86) faz da situação: O resultado das<br />
eleições em Pernambuco é paradoxal: Arraes ganhou, a esquerda per<strong>de</strong>u. Arraes, 53,51% dos<br />
votos, contra 34,34% <strong>de</strong> José Múcio; mas na bancada essa diferença é bem menos expressiva: treze<br />
fe<strong>de</strong>rais, mais um do PCB contra onze do PFL: <strong>de</strong>zenove estaduais mais três do PMB (que também<br />
<strong>de</strong>u um senador, Antônio Farias) contra <strong>de</strong>zoito do PFL, mais dois do PDC e um do PDS; fazendo<br />
com que os seis do PDT <strong>de</strong>finam a maioria. O preço da eleição <strong>de</strong> Arraes, do avanço que ele<br />
inequivocamente representa para os movimentos populares, acabou sendo a <strong>de</strong>sestruturação <strong>de</strong><br />
toda a esquerda, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, militante e diletante.<br />
8 . A todas essas razões para pôr em dúvida a autenticida<strong>de</strong> do significado i<strong>de</strong>ológico que se<br />
preten<strong>de</strong>u atribuir às eleições em Pernambuco, acrescenta-se outra.<br />
Se bem que haja uma legítima diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matizes no quadro dos posicionamentos<br />
i<strong>de</strong>ológicos manifestados nos diversos Estados <strong>de</strong> nossa Fe<strong>de</strong>ração, há, sobrepairando a essas<br />
diversida<strong>de</strong>s (exclusão feita <strong>de</strong> alguns corpúsculos políticos <strong>de</strong> extrema-esquerda – PCB e PC do B),<br />
uma larga e genérica homogeneida<strong>de</strong>, por efeito da qual os aspectos divergentes – com<br />
enraizamento pon<strong>de</strong>rável na população – não passam em geral <strong>de</strong> simples matizes. E nunca atingem<br />
as proporções <strong>de</strong> discrepâncias abismáticas e furiosas. Este é, até mesmo, um dos mais fortes pilares<br />
<strong>de</strong> nossa imponente unida<strong>de</strong> nacional.<br />
Nessas condições, no dia em que um ou mais Estados do Brasil se manifestassem<br />
compactamente pró-comunistas, na oposição a outros que permanecessem fiéis à atual or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
coisas, começaria a pairar sobre a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nosso País-continente o espectro <strong>de</strong> um agravamento<br />
<strong>de</strong> relações inter-estaduais, próprio a conduzir a uma trágica secessão.<br />
Ora, a conjeturar-se como objetivo o quadro <strong>de</strong> um Pernambuco contemporâneo que já não<br />
teria na vida pública uma presença anticomunista pon<strong>de</strong>rável, pareceria estar-se em presença <strong>de</strong> uma<br />
evolução i<strong>de</strong>ológica e sócio-econômica da população pernambucana, em vias <strong>de</strong> atingir em breve a<br />
formação <strong>de</strong> uma compacta maioria pró-comunista.<br />
Daí <strong>de</strong>correria necessariamente uma série <strong>de</strong> fricções acaloradas entre a força política<br />
vencedora em Pernambuco e as dos outros Estados. Como também entre pernambucanos divergentes.<br />
E a pesada nuvem do secessionalismo pareceria não estar longe do horizonte nacional.<br />
Apuradas as eleições, o que se passou foi, entretanto, diametralmente oposto.<br />
Como já foi <strong>de</strong>monstrado (cfr. Parte II, Cap. I), todo o eleitorado brasileiro acompanhou com<br />
<strong>de</strong>sacoroçoada indiferença a campanha-eleitoral-sem-idéias e, em seguida a eleição-sem-idéias. Se o<br />
voto não fosse obrigatório, não se sabe a que proporções exíguas teria chegado o número <strong>de</strong> votantes.<br />
Isto posto, afigura-se ilógico, contraditório, absurdo raciocinar sobre o que ocorreu em<br />
Pernambuco sem tomar em linha <strong>de</strong> conta a presença, naquele Estado, da apatia i<strong>de</strong>ológica geral que<br />
dominou e continua a dominar o Brasil, a propósito do pleito <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro.<br />
Na verda<strong>de</strong>, a situação em Pernambuco é absolutamente idêntica à do resto do Brasil, que<br />
elegeu uma Constituinte na qual a votação esquerdista conduziu a uma nítida minoria parlamentar.<br />
9 . Assim, tudo bem pon<strong>de</strong>rado, a que conclusão se chega? É esta tão clara, tão simples, tão<br />
condizente com o que percebe o bom senso e dizem os impon<strong>de</strong>ráveis, que os espíritos imparciais<br />
facilmente a ela se abrem:<br />
a) Em Pernambuco, como mais ou menos por todo o Brasil, os meios <strong>de</strong> comunicação<br />
social, levados por circunstâncias diversas – que seria longo enumerar no presente estudo<br />
– criaram uma impressão fortemente inflada, sobre o po<strong>de</strong>r eleitoral das esquerdas.<br />
b) Tal impressão levou a que certos candidatos i<strong>de</strong>ologicamente sem expressão e <strong>de</strong>sejosos<br />
<strong>de</strong> angariar votos, quisessem somar à votação a-i<strong>de</strong>ológica e rotineira dos respectivos<br />
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