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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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partido dividido na luta fraterna <strong>de</strong> grupos circunstancialmente <strong>de</strong>savindos. Mas adversários<br />

rancorosos, jurados <strong>de</strong> morte, que se xingavam dos nomes mais vis, que se agrediam a trancos, tapas,<br />

murros e coices e que tiveram que ser mantidos à distância, separados pela polícia e cordões <strong>de</strong><br />

isolamento como torcidas passionalizadas nos estádios <strong>de</strong> futebol.<br />

Vamos dar nomes aos bois. A Convenção nada teve <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática. Foi um arremedo<br />

caricato do fascismo ... Nenhuma discussão foi possível no ambiente <strong>de</strong> tumulto e bulha.<br />

Augusto Nunes, também do “Jornal do Brasil” (2-8-87), aponta a presença do MR-8, na<br />

Convenção do PMDB, como muito ilustrativa das tensões internas que dilaceram o partido<br />

majoritário:<br />

A força eleitoral do Movimento Revolucionário 8 <strong>de</strong> Outubro, nosso irrequieto MR-8, foi<br />

medida com precisão no pleito <strong>de</strong> 1986, tão livre e <strong>de</strong>mocrático quanto po<strong>de</strong> ser um pleito nos<br />

trópicos. ... Embora tivesse conseguido empoleirar-se em muitos palanques <strong>de</strong> muitos estados, o MR-<br />

8 não fez um único <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral, um mísero <strong>de</strong>putado estadual. ... Num país menos amalucado,<br />

tanto bastaria para que a sigla fosse varrida do mapa político... como isto aqui é o Brasil, aí está o<br />

MR-8 fazendo acertos e arreglos com gran<strong>de</strong>s partidos, extorquindo verbas <strong>de</strong> governadores,<br />

pendurando seus revolucionários <strong>de</strong> opereta em cabi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego, metendo a colher em coisas<br />

sérias e dando palpites em conversa <strong>de</strong> gente gran<strong>de</strong>. ...<br />

A ação do MR-8 na recente convenção do PMDB reforça a suspeita <strong>de</strong> que, no Brasil,<br />

gargantas a<strong>de</strong>stradas na emissão <strong>de</strong> vaias e palavrões acabam influenciando <strong>de</strong>cisões políticas<br />

cruciais – até porque muitos <strong>de</strong> nossos pais da pátria são pusilânimes incuráveis. Em Brasília,<br />

aglomerados num coral sempre afinado com a lira do <strong>de</strong>lírio, militantes do MR-8 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram o<br />

quinquênio sonhado pelo presi<strong>de</strong>nte Sarney distribuindo ofensas, insultos, provocações, ameaças e<br />

safanões. Inibiram alguns convencionais, assustaram outros. E assim justificaram as verbas e os<br />

favores recebidos dos patrões <strong>de</strong> ocasião.<br />

Consequentemente não é <strong>de</strong> estranhar que a Convenção não tenha produzido a almejada<br />

sutura do PMDB. É o que comenta Lawrence Pih, diretor-superinten<strong>de</strong>nte do Moinho Pacífico, na<br />

“Folha <strong>de</strong> S. Paulo” (29-7-87).<br />

A Convenção do PMDB, que <strong>de</strong>cidiu nada <strong>de</strong>cidir, no mínimo <strong>de</strong>monstrou o total<br />

<strong>de</strong>scompromisso do partido com as bases ... O PMDB não é o partido da transição mas sim o partido<br />

da transação. ...<br />

Assim o ciclo se fecha; o PMDB não é partido, é frente, é aglomerado ou é um saco <strong>de</strong> gatos<br />

espertos? É do governo ou não é, tem programa partidário ou não tem, é situação ou oposição? ...<br />

Não se po<strong>de</strong> governar sem representativida<strong>de</strong> e apesar da estrondosa vitória do PMDB há<br />

apenas oito meses, o Brasil é, hoje, um órfão político. Há uma aversão generalizada aos políticos,<br />

uma <strong>de</strong>scrença que permeia toda a socieda<strong>de</strong>.<br />

Tudo isto obriga a um trabalho <strong>de</strong> articulação interna, para evitar o fracionamento do partido,<br />

o qual, segundo “O Estado <strong>de</strong> S. Paulo” (12-4-87), vem sendo exercido pelo senador Mário Covas:<br />

Na Constituinte a missão do lí<strong>de</strong>r Mário Covas é a <strong>de</strong> evitar o fracionamento, inclusive em questões<br />

sócio-econômicas. ‘Entre buscar apoio na esquerda ou na direita <strong>de</strong> outros partidos, vou lutar para<br />

pacificar as esquerdas e a direita do PMDB’ – é o lema <strong>de</strong> Covas.<br />

Se esse trabalho tiver êxito, po<strong>de</strong>rá realizar-se a previsão <strong>de</strong> José Carlos Graça Wagner no<br />

“Jornal do Brasil” (20-5-87):<br />

Se a Constituinte passar ... será, quando muito, novo manifesto <strong>de</strong> um grupo só que disporá<br />

<strong>de</strong> força coercitiva. Será, portanto, <strong>de</strong> novo, um mo<strong>de</strong>lo sectário, sem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representar a<br />

Nação. ...<br />

A abertura política não chegou à máquina dos partidos, especialmente do PMDB ... Foi<br />

essa máquina velha, anterior ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do País, que escolheu os candidatos à<br />

Constituinte, que hoje representam quase dois terços dos que elaborarão a nova Carta.<br />

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