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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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Em termos menos abstratos, o comunismo influencia habitualmente toda a faixa <strong>de</strong> pessoas<br />

i<strong>de</strong>ologicamente situadas entre ele e o centro. Mas esta influência não produz efeitos uniformes sobre<br />

todos os segmentos em que esta faixa se divi<strong>de</strong>.<br />

Com efeito, nos setores <strong>de</strong>ssa faixa mais próximos ao centro, a influência comunista não tem<br />

por efeito, o mais das vezes, a manifestação <strong>de</strong> pendores insofismáveis em prol da extrema-esquerda.<br />

O efeito da influência esquerdista po<strong>de</strong> não consistir senão em um incremento do antidireitismo que<br />

anima o centrista.<br />

Mas esse efeito – quão discreto! – por sua vez elimina na mentalida<strong>de</strong> do centrista as últimas<br />

amarras que o vinculavam ainda a um tal ou qual espírito direitista residual. A caminhada para a<br />

esquerda já não experimenta oscilações. Ela se torna mais leve e mais rápida. E ten<strong>de</strong> a queimar as<br />

próximas etapas, rumo à profissão <strong>de</strong> um esquerdismo integral.<br />

Dir-se-ia que, daí por diante, o centrista é movido por uma aceleração horizontal parecida<br />

com a que a lei <strong>de</strong> Newton <strong>de</strong>screve em sentido vertical. Ou seja, o itinerário do centrista rumo à<br />

extrema-esquerda seria percorrido por ele com a celerida<strong>de</strong> crescente do objeto que cai. Ou, numa<br />

outra metáfora, do cavaleiro que galopa numa carga <strong>de</strong> cavalaria.<br />

Engano. Não é raro que o ex-centrista em “viagem” para a extrema-esquerda, se tenha<br />

sentido atraído, sem arrière-pensée, pelo aceno que o comunismo lhe faz à distância; mas, à medida<br />

que vai observando mais <strong>de</strong> perto o seu ídolo esquerdista, é possível que este lhe vá causando<br />

estranhezas, distonias, ou mesmo categóricas objeções.<br />

Po<strong>de</strong> então resultar que a força <strong>de</strong> atração da extrema-esquerda diminua novamente, se bem<br />

que muito raramente cesse <strong>de</strong> se exercer. O que acarreta não poucas vezes que a passagem do<br />

esquerdista categórico militante para a extrema-esquerda constitua a fase mais lenta da “viagem”.<br />

Imagine-se entretanto que, por uma disposição da Providência, por ora pelo menos<br />

impensável, o pólo propriamente comunista per<strong>de</strong>sse condições <strong>de</strong> atuar no tabuleiro político ou<br />

sócio-político das nações. O que suce<strong>de</strong>ria então?<br />

A atração da extrema-esquerda sobre a esquerda socialista, ou mesmo sobre o centroesquerda,<br />

cairia, talvez vertiginosamente. E, lentamente, a massa esquerdista “<strong>de</strong>spolarizada”<br />

refluiria para o centro. De on<strong>de</strong>, pelo menos boa parte <strong>de</strong>la se poria a caminhar gradualmente para a<br />

direita. É que, extinto um pólo, a opinião pública ficaria sujeita exclusivamente ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração<br />

do pólo oposto.<br />

11 . I<strong>de</strong>ntificar todo movimento categoricamente anticomunista com o nazifascismo,<br />

mero artifício da propaganda comunista<br />

E o que dizer, nesta perspectiva, do nazismo e do fascismo, habitualmente apontados como<br />

<strong>de</strong> extrema-direita?<br />

O pânico <strong>de</strong> que aqueles extremismos da II Guerra Mundial revivam induziu um número<br />

crescente <strong>de</strong> pessoas a crer, como lhes sopravam as tubas <strong>de</strong> certa publicida<strong>de</strong>, que toda posição<br />

i<strong>de</strong>ológica ou política <strong>de</strong> direita é clara ou veladamente nazi-fascista.<br />

Segundo esta mentalida<strong>de</strong>, que se manifesta <strong>de</strong> modo característico nos extremistas do<br />

centrismo, por pouco que suspeite alguém <strong>de</strong> direitista, já é ele tachado <strong>de</strong> nazi-fascista, <strong>de</strong><br />

extremista. Mas se alguém apresentando sintomas <strong>de</strong> esquerdismo, ainda que múltiplos e acentuados,<br />

é visto habitualmente, por estes mesmos radicais do centrismo, como homem <strong>de</strong> “idéias largas” e<br />

“generosas”, qualificável no máximo, conforme o caso, <strong>de</strong> socialista “mo<strong>de</strong>rado” ou “avançado”.<br />

Para que alguém seja tachado <strong>de</strong> a<strong>de</strong>pto da extrema-esquerda, é necessário que se manifeste um<br />

odioso comunista, apologista da violência.<br />

Em via <strong>de</strong> regra, o centrista é um relativista. E o “herege” do mundo relativista é o<br />

extremista: extremista <strong>de</strong> direita ou extremista <strong>de</strong> esquerda. Essas categorias, o centrista as aplica<br />

com uma parcialida<strong>de</strong> e simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcertantes, com menosprezo espantoso da realida<strong>de</strong>,<br />

sempre rica em matizes.<br />

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