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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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Imobilismo este menos empenhado em encontrar uma saída discernindo qual dos contendores tem<br />

razão, com o objetivo <strong>de</strong> lhe dar apoio para que alcance a vitória, do que esperançoso <strong>de</strong> que,<br />

“<strong>de</strong>ixando tudo como está, para ver como fica”, sobrevenha uma circunstância qualquer, na qual,<br />

mediante algum inesperado “jeitinho”, mais uma vez “tudo se resolva”... sem rixa.<br />

Pela própria natureza das coisas, esse relativo imobilismo não se confun<strong>de</strong> com o centrismo<br />

europeu ou norte-americano, o qual é apenas um estágio algum tanto lento, <strong>de</strong> uma opinião pública<br />

que reflete, quiçá hesita, e em todos os casos acaba por tomar <strong>de</strong>cisão.<br />

De seu lado, a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> centrismo brasileiro – e talvez latino-americano – constitui<br />

mais bem uma estagnada falta <strong>de</strong> rumo.<br />

Na <strong>de</strong>mocracia-sem-idéias, tal centrismo constitui possante obstáculo a que os gran<strong>de</strong>s<br />

problemas da vida pública interessem efetivamente o corpo eleitoral. Há que ajudar nosso povo a<br />

evitar quanto possível esse estado <strong>de</strong> espírito “vegetativo”, sem o que nossa vida pública – qualquer<br />

que seja o regime em vigor – jamais alcançará autenticida<strong>de</strong>.<br />

De qualquer forma, importa não confundir centrismo com centrismo-sem-idéias.<br />

15 . Implicações da cordura brasileira no <strong>de</strong>sempenho dos partidos políticos<br />

A situação psicológica que acaba <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita tem implicações na conduta das várias<br />

correntes partidárias.<br />

Na adoção <strong>de</strong> um programa político – pelo menos a prazo breve ou imediato – é normal, em<br />

qualquer país, que as várias correntes ou partidos se <strong>de</strong>terminem antes <strong>de</strong> tudo em função das<br />

conveniências do bem comum, as quais cada qual enten<strong>de</strong> a seu modo. São assim fixadas as metas<br />

partidárias.<br />

Nem tudo, porém, se reduz a metas. As diferentes correntes têm necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver;<br />

em geral, <strong>de</strong> conviver com uma certa medida <strong>de</strong> cordialida<strong>de</strong>, a qual varia normalmente quase ao<br />

infinito, segundo as circunstâncias políticas do país, os problemas internos e externos <strong>de</strong> cada um<br />

<strong>de</strong>les, os diferentes temperamentos inerentes às diversas etnias, grupos e regiões, seus antece<strong>de</strong>ntes<br />

históricos, as perspectivas <strong>de</strong> futuro etc.<br />

Precisamente este contínuo anelo <strong>de</strong> cordialida<strong>de</strong> – que tem habitualmente influência<br />

secundária, ou até menos do que isso, na política interior dos vários países – tem no Brasil uma<br />

importância afetiva e temperamental particularmente atuante. O eleitor brasileiro comum <strong>de</strong>seja por<br />

certo a vitória <strong>de</strong> seu próprio partido. Porém, tanto ou até mais do que isso, <strong>de</strong>seja ele estar em bons<br />

termos, em suas relações pessoais e também políticas, com os membros dos partidos afins. E – não<br />

raras vezes – até com os membros dos partidos marcadamente adversos. Correspon<strong>de</strong> isto à nota <strong>de</strong><br />

cordura, já <strong>de</strong>scrita, que ao brasileiro agrada ver presente em todos os ambientes nos quais se move.<br />

Desta forma, ainda que as metas últimas dos diversos partidos sejam muito discordantes, as<br />

direções partidárias, ciosas <strong>de</strong> conservarem o apoio integral dos próprios eleitores, agirão com<br />

prudência sempre que não incluírem, em suas metas operacionais imediatas, pontos programáticos<br />

próprios a ocasionar fricções muito “quentes” com outras correntes.<br />

Assim, a carga <strong>de</strong> transigência ou <strong>de</strong> intransigência presente na psicologia dos diversos<br />

partidos políticos condiciona muito o proveito que consigam tirar <strong>de</strong> seu próprio “espaço” político.<br />

16 . Um centrismo polêmico e intratável po<strong>de</strong> ficar privado <strong>de</strong> sua<br />

popularida<strong>de</strong>, no Brasil<br />

Por paradoxal que seja, essa peculiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alma do povo brasileiro po<strong>de</strong> se voltar contra<br />

o próprio centrismo, se este assumir a feição sanhuda – extremista – que atrás se <strong>de</strong>screveu (cfr.<br />

tópicos, 1, 4 e 5 <strong>de</strong>ste capítulo).<br />

A conotação da palavra “extremista” é muito <strong>de</strong>sfavorável no Brasil, mas isto não só porque<br />

lembra os dois extremismos que mais marcaram nosso século – o comunismo (o extremismo <strong>de</strong><br />

esquerda) e o nazi-fascismo (o extremismo <strong>de</strong> direita) – como também porque, historicamente, ambas<br />

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