1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
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‘- Minha candidatura surgiu <strong>de</strong> um amplo <strong>de</strong>bate com o movimento operário, popular, as<br />
Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base e as pastorais, que tiveram participação no lançamento do nome e<br />
na elaboração <strong>de</strong> um primeiro programa, que agora <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>talhado, através <strong>de</strong> outros <strong>de</strong>bates<br />
– assinala Chico Ferramenta, que promete periodicamente submeter seu <strong>de</strong>sempenho como <strong>de</strong>putado<br />
estadual à análise <strong>de</strong> suas “bases metalúrgicas”’.<br />
* * *<br />
Não obstante o fato <strong>de</strong> a representação fe<strong>de</strong>ral do PT ter passado <strong>de</strong> 8 para 16 <strong>de</strong>putados, o<br />
resultado global do pleito <strong>de</strong>cepcionou seus lí<strong>de</strong>res. Respon<strong>de</strong>ndo a uma pergunta da “Folha <strong>de</strong> S.<br />
Paulo”, o jurista Hélio Bicudo assim avalia o <strong>de</strong>sempenho do partido: Ficou um pouco aquém das<br />
expectativas. Eu estava pensando que, a nível nacional, o PT alcançasse um número superior a vinte<br />
<strong>de</strong>putados. Em São Paulo, o partido estacionou, não vai passar <strong>de</strong> nove ou <strong>de</strong>z, enquanto a minha<br />
expectativa era <strong>de</strong> que fossem <strong>de</strong> 12 a 15 <strong>de</strong>putados fe<strong>de</strong>rais (“Folha <strong>de</strong> S. Paulo”, 20-11-86).<br />
A módica ascensão do PT mostra, por outro lado, que a influência da ala esquerdista que<br />
predomina na CNBB foi claramente menor do que se esperava.<br />
8 . Nem toda a votação do PT, porém, é <strong>de</strong> esquerdistas<br />
O PT é, inequivocamente, um partido <strong>de</strong> esquerda; mas haveria engano em concluir daí que<br />
toda a votação por ele recebida seja marcada por essa i<strong>de</strong>ologia: o personalismo que caracteriza a<br />
vida política brasileira, e o vasto espaço publicitário que a imprensa constantemente lhe abre (e muito<br />
principalmente a seu lí<strong>de</strong>r... Lula), explicam boa parte <strong>de</strong>sse votos.<br />
Por isso, comenta o “Jornal do Brasil” (20-11-86): De Lula, sabia-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do<br />
processo eleitoral que estouraria as urnas. A consagradora votação se dá pelas mesmas razões <strong>de</strong><br />
Ulysses Guimarães: por sua condição <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte nacional do PT, fundador e guru da CUT e exsindicalista<br />
<strong>de</strong> projeção internacional, garantiu presença quase que diária no noticiário.<br />
A <strong>de</strong>calagem entre as cúpulas do PT (entenda-se as cúpulas intelectualizadas) e a idéia<br />
confusa que o gran<strong>de</strong> público se faz do PT, é muito consi<strong>de</strong>rável.<br />
Enquanto na cúpula intelectualizada diferentes correntes procuram, nos figurinos<br />
internacionais da moda i<strong>de</strong>ológica sócio-econômica, o mo<strong>de</strong>lo mais a seu gosto, uns sociais<strong>de</strong>mocratas,<br />
outros socialistas etc., para nele meter mais ou menos forçadamente o PT, o público vê<br />
neste partido uma organização <strong>de</strong> políticos dotados <strong>de</strong> senso filantrópico mais ativo, e portanto mais<br />
capaz <strong>de</strong> remediar a situação da classe pobre.<br />
Assim, está fora da realida<strong>de</strong> objetiva quem procura ver no módico progresso eleitoral do<br />
PT – hoje o mais forte dos pequenos partidos – um mero resultado da posição i<strong>de</strong>ológica, obviamente<br />
ainda confusa, <strong>de</strong>le.<br />
9 . A autocrítica do PT<br />
Por tudo isto, é muito importante que o PT tenha feito também sua autocrítica: reconhece<br />
que não está conseguindo impressionar os eleitores das classes pobres, entre os quais cresce a<br />
“direita”.<br />
É o que afirma o próprio Lula, segundo informa o “Jornal do Brasil” (28-8-86): Desanimado<br />
com a campanha do PT em São Paulo, o presi<strong>de</strong>nte nacional do Partido, Luís Inácio Lula da Silva<br />
acha que entre os eleitores pobres quem está crescendo é a direita. ‘Ao tentar mudar a imagem, o<br />
PT não conseguiu politizar a periferia nem conquistar a classe média’, <strong>de</strong>sabafou, sem criticar o<br />
candidato petista Eduardo Suplicy.<br />
10 . A <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Brizola<br />
Em seu passado antigo e recente, Leonel Brizola traz a marca inquestionável <strong>de</strong> um político<br />
esquerdista: algo <strong>de</strong>sse cunho i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong>spontou na campanha eleitoral, o que, aliás, apenas serviu<br />
para tirar certo número <strong>de</strong> votos a seus candidatos. De qualquer modo, as razões <strong>de</strong> maior peso<br />
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