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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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Segundo a “Folha <strong>de</strong> S. Paulo” (12-7-87), “Caiado inclusive tinha um ‘carregador’ oficial,<br />

que o levantava nos ombros sempre que a passeata atravessava um ponto <strong>de</strong> maior aglomeração <strong>de</strong><br />

pessoas” (cfr. também “O Globo”, 12-7-87).<br />

Se houve jornais que qualificassem <strong>de</strong> excessivamente longo o trajeto, a ponto <strong>de</strong> que,<br />

passando diante da rodoviária, consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong> participantes, atraídos pelos refrigerantes ali<br />

vendidos, iniciasse um sensível processo <strong>de</strong> dispersão, dir-se-ia que quase não houve outros reparos<br />

que não esse (cfr. “Folha <strong>de</strong> S. Paulo” e “O Globo”, 12-7-87; “Jornal do Commercio”, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

12/13-7-87).<br />

Entretanto, não se compreen<strong>de</strong> que, chegado o <strong>de</strong>sfile em frente do Congresso Nacional, seu<br />

ponto terminal, os participantes <strong>de</strong>le se limitassem a cantar o Hino Nacional e o hino da UDR, e assim<br />

<strong>de</strong>ssem por encerrado o ato. Pois, levantado nos ombros pelo seu “carregador” oficial, o sr. R.<br />

Caiado tinha então diante <strong>de</strong> si impressionante número <strong>de</strong> representantes dos órgãos <strong>de</strong> comunicação<br />

social que faziam a cobertura da manifestação. Assim, ainda que os srs. Constituintes não estivessem<br />

ali para ouvi-lo, <strong>de</strong> lá ele po<strong>de</strong>ria falar para o Brasil inteiro. Era essa, para ele, a melhor ocasião que<br />

até então se apresentara para explicar vários pontos sobre os quais observadores atentos e analistas<br />

estavam <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> ouvi-lo.<br />

Um dos pontos <strong>de</strong> que necessariamente <strong>de</strong>veria tratar era o direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> – questão<br />

capital sobre a qual não tem sido inteiramente clara e uniforme a posição da entida<strong>de</strong>.<br />

Com efeito, a atitu<strong>de</strong> da UDR foi, logo <strong>de</strong> início, <strong>de</strong> um agro-reformismo <strong>de</strong>clarado, o qual<br />

se dizia em <strong>de</strong>sacordo com o Plano Nacional <strong>de</strong> Reforma Agrária (PNRA) do Presi<strong>de</strong>nte Sarney,<br />

porém tão-só em alguns poucos matizes insuficientemente <strong>de</strong>finidos 36 .<br />

Gradualmente, as <strong>de</strong>clarações posteriores da entida<strong>de</strong> se foram tornando menos categóricas,<br />

em <strong>de</strong>smentir entretanto frontalmente os seus iniciais pronunciamentos. E também não foi explicado<br />

o motivo <strong>de</strong>ssa transformação. Ultimamente, o apoio <strong>de</strong>clarado da UDR à Reforma Agrária<br />

restringiu-se e só vem incidindo sobre a <strong>de</strong>sapropriação confiscatória dos imóveis rurais<br />

<strong>de</strong>socupados 37 .<br />

36<br />

Cfr. Plinio Corrêa <strong>de</strong> Oliveira, No Brasil: a Reforma Agrária leva a miséria no campo e à cida<strong>de</strong>, Editora<br />

Vera Cruz, São Paulo, 1986, p. 62, Nota 36.<br />

37<br />

Em longa entrevista ao diário “O Popular”, <strong>de</strong> Goiânia (19-7-87), contestando o repórter que lhe dizia ser a<br />

UDR “acusada <strong>de</strong> se posicionar contra a implantação da reforma agrária” o sr. R. Caiado retrucou: “- Nós nunca nos<br />

posicionamos contra a reforma agrária. A entida<strong>de</strong> sempre <strong>de</strong>ixou bem claro seu princípio. A UDR po<strong>de</strong> mostrar ...<br />

como se po<strong>de</strong> fazer reforma agrária”. E enunciou três requisitos básicos para isso: “orçamento disponível para sua<br />

implantação”, “utilizar as terras improdutivas do governo fe<strong>de</strong>ral”, e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “toda uma assistência e infraestrutura”.<br />

Estes requisitos, o presi<strong>de</strong>nte nacional da UDR, parece tê-los encontrado nos textos constitucionais em<br />

elaboração, a ponto <strong>de</strong> afirmar que “do jeito que está a Constituinte aten<strong>de</strong> a 100 por cento das propostas da UDR”<br />

(A<strong>de</strong>ildo Bezerra, “O Globo”, 13-7-87).<br />

Análoga <strong>de</strong>claração fizera o sr. R. Caiado em Maringá, dias antes, quando disse “que a proposta <strong>de</strong> reforma<br />

agrária abordada na Constituinte seguiu parâmetros <strong>de</strong>sejados pela classe produtora” (“Folha <strong>de</strong> Londrina”, 3-7-87).<br />

Afirmação essa que não se compagina com outra, feita na mesma ocasião, segundo a qual, em sua opinião, o Anteprojeto<br />

Cabral “preten<strong>de</strong> abrir caminho para a implantação no Brasil <strong>de</strong> uma República Socialista e não República Fe<strong>de</strong>rativa”.<br />

Em entrevista <strong>de</strong> página inteira concedida ao “Jornal do Brasil” (19-7-87), o presi<strong>de</strong>nte da UDR esclarece como<br />

<strong>de</strong>ve ser a Reforma Agrária que a entida<strong>de</strong> apoiaria: “Po<strong>de</strong> ter certeza <strong>de</strong> que, se formos convocados a participar <strong>de</strong> uma<br />

reforma agrária realista, em terra realmente improdutiva, <strong>de</strong> especulador, vamos ajudar com nosso maquinário, com<br />

nossa experiência, para realmente assentar o homem na terra”.<br />

O presi<strong>de</strong>nte da UDR <strong>de</strong> Goiás, Salvador Farina, por sua vez, informou que a entida<strong>de</strong> entregaria aos<br />

Constituintes “o ‘Manifesto da UDR; em <strong>de</strong>fesa da proprieda<strong>de</strong>, da <strong>de</strong>sestatização e <strong>de</strong> uma reforma agrária ‘que<br />

respeite a proprieda<strong>de</strong> produtiva’” (“O Globo”, 12-7-87). Ele parece ignorar, portanto, todas as razões – e não são poucas<br />

– que po<strong>de</strong>m tornar legítima a manutenção <strong>de</strong> uma terra sem cultivo, durante certo tempo e em <strong>de</strong>terminadas<br />

circunstâncias, sem nenhum prejuízo para o bem comum.<br />

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