06.11.2023 Views

1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Por que essas transformações, verificadas mais por uma ampliação da área <strong>de</strong> silêncios da<br />

UDR sobre a Reforma Agrária, do que por <strong>de</strong>clarações enunciativas e explicativas categóricas? Não<br />

é claro.<br />

E os que esperavam que o jovem e vibrante presi<strong>de</strong>nte da UDR <strong>de</strong>sse, ao cabo <strong>de</strong> sua passeata<br />

popular rumo ao Congresso Nacional, uma elucidação sobre esse assunto <strong>de</strong> capitalíssima<br />

importância, esperaram em vão.<br />

6. O ensino tradicional da Igreja sobre o direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>: o melhor<br />

escudo do empresariado rural contra as calúnias do comunismo<br />

A tal respeito, cabe uma exposição. O direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>corre, para o homem, do<br />

próprio fato <strong>de</strong> que é um ser inteligente e dotado <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>. Pois, pela correlação natural e intrínseca<br />

entre as necessida<strong>de</strong>s do homem e as faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que é dotada sua natureza para prover a suas<br />

necessida<strong>de</strong>s, tem ele o direito e o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> si mesmo, <strong>de</strong> sua inteligência e <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong><br />

natural, para esse fim. E, pelo vínculo do direito natural entre esposo e esposa, como entre pais e<br />

filhos, incumbe também ao homem dispor <strong>de</strong> suas aptidões para o sustento <strong>de</strong> sua família.<br />

E os direitos da coletivida<strong>de</strong>? – perguntará algum socialista. E pon<strong>de</strong>rará que, nesse primado<br />

do indivíduo em favor <strong>de</strong> si mesmo e do próximo, mercê do qual a socieda<strong>de</strong> fica relegada para um<br />

terceiro plano, se viola o amor do próximo, preceituado por Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

A resposta à objeção socialista não po<strong>de</strong>ria ser mais simples. O amor do próximo, enquanto<br />

próximo, leva o homem a amar antes <strong>de</strong> tudo os que lhe são mais próximos. Logo, a si próprio e a<br />

sua família. Em conseqüência, tem ele o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinar o produto <strong>de</strong> seu trabalho diretamente<br />

para si e para os seus, a fim <strong>de</strong> prover às respectivas necessida<strong>de</strong>s. E, como estas se renovam<br />

constantemente, é natural que o homem tenha o direito <strong>de</strong> reservar do que ganha hoje o necessário<br />

para prover ao <strong>de</strong> que precise não só hoje, mas nos dias incertos que constituem o futuro <strong>de</strong> cada ente<br />

humano.<br />

O direito que o homem tem sobre si próprio e sobre o produto <strong>de</strong> seu trabalho dá-lhe o direito<br />

<strong>de</strong> usar, <strong>de</strong> consumir, ou <strong>de</strong> reter o que produziu. Tal direito – que se chama direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> –<br />

resulta, pois, <strong>de</strong> modo imediato, do direito do homem a dispor <strong>de</strong> si. Ser proprietário é conseqüência<br />

imediata do fato <strong>de</strong> ser livre. E, se se lhe tira o direito <strong>de</strong> ser proprietário, amputa-se-lhe um direito<br />

inerente à sua natureza humana.<br />

Por isso, afirmou com eloqüente coerência Leão XIII: a proprieda<strong>de</strong> “não é outra coisa senão<br />

o salário transformado” 38 . Negar a proprieda<strong>de</strong> é, pois, negar o direito do trabalhador a seu salário.<br />

Daí <strong>de</strong>corre que toda lei contrária, no todo ou em algum <strong>de</strong> seus aspectos, ao direito <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>, é intrinsecamente injusta, e oposta à doutrina católica.<br />

É a partir <strong>de</strong>sta conclusão tão límpida, que a TFP analisa aqui a posição da UDR face à<br />

proprieda<strong>de</strong>. O que ela faz, não sem lembrar, antes <strong>de</strong> tudo, que a <strong>de</strong>fesa do direito do homem - no<br />

caso concreto, do direito dos fazen<strong>de</strong>iros – à proprieda<strong>de</strong> individual como à livre iniciativa<br />

(obviamente justificada por argumentação análoga à <strong>de</strong> Leão XIII sobre a proprieda<strong>de</strong> privada)<br />

constitui a finalida<strong>de</strong> capital <strong>de</strong>ssa associação <strong>de</strong> classe que é a UDR.<br />

Ora, os pronunciamentos da UDR sobre essas matérias se mostraram sempre fragmentários<br />

e episódicos, ao contrário do que as circunstâncias estavam a exigir absolutamente.<br />

A mesma disposição <strong>de</strong> entregar as terras improdutivas à sanha da Reforma Agrária é manifestada pelo diretor<br />

regional da UDR do Norte do Pará, Luís Bueno, <strong>de</strong> acordo com notícia <strong>de</strong> “O Liberal”(10-7-87), da Capital daquele<br />

Estado: “O que preten<strong>de</strong>mos – disse – é que sejam <strong>de</strong>sapropriados somente os latifúndios improdutivos”.<br />

Adiante se mostrará (cfr. Parte IV, Cap. III, 3) quanto é injustificado pleitear, no Brasil, a <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong><br />

terras particulares ainda inaproveitadas.<br />

38<br />

Encíclica Rerum Novarum, <strong>de</strong> 15-5-1891 – Coleção Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, 1961, 6 ª ed,<br />

vol. 2, p. 6.<br />

107

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!