1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
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O montante <strong>de</strong> dinheiro que o País vem dispen<strong>de</strong>ndo com os trabalhos constituintes é<br />
assustador. A notícia do “Correio Braziliense” (5-7-87), sob o título A Constituinte já gastou Cz 3 bi,<br />
dispensa comentários:<br />
“Só para que se tenha uma idéia do que foi produzido até agora, tomemos o volume <strong>de</strong><br />
papéis que passou pelas máquinas da gráfica do Senado, responsável pela impressão dos avulsos da<br />
Constituinte. Colocados um ao lado do outro, esses papéis dariam para cobrir 2.127 quilômetros, ou<br />
a distância aproximada entre Brasília e Natal. Empilhados, chegariam à altura <strong>de</strong> um prédio <strong>de</strong> 374<br />
andares. E os trabalhos ainda estão pela meta<strong>de</strong>. ...<br />
“Com o orçamento (<strong>de</strong> Cz$ 2 bilhões) elaborado em junho do ano passado, e portanto já<br />
prevendo as <strong>de</strong>spesas da Constituinte, a Câmara precisou, contudo, <strong>de</strong> uma suplementação<br />
orçamentária. Foram Cz$ 700 milhões a mais para pagamento <strong>de</strong> pessoal e Cz$ 290 milhões para<br />
custeio e investimentos”.<br />
E note-se que o cômputo abrange tão-somente os seis primeiros meses <strong>de</strong> 87 ...<br />
Capítulo VIII – Um <strong>Projeto</strong> <strong>de</strong> Constituição que <strong>de</strong>sagradou<br />
profundamente o País<br />
1 . O texto constitucional em elaboração suscitou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo pesadas críticas<br />
À medida que <strong>de</strong>senvolvia seus trabalhos, a Assembléia Nacional Constituinte foi<br />
<strong>de</strong>sagradando cada vez mais amplos setores da opinião nacional e suscitando as mais pesadas críticas.<br />
O Ministro da Justiça, Paulo Brossard, via nos trabalhos da Constituinte: “fantasias,<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m mental, irrealismo exacerbado. ... <strong>de</strong>svios conceituais, ... ausência <strong>de</strong> uma reflexão<br />
mínima”, bem como “total ausência <strong>de</strong> critérios, <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong>” (Alexandre Costa, “O Estado <strong>de</strong> S.<br />
Paulo”, 16-4-87).<br />
Um documento da Associação Comercial <strong>de</strong> São Paulo consi<strong>de</strong>ra os 24 relatórios das<br />
Subcomissões da Constituinte como “casuísticos quanto à forma e xenófobos e socializantes quanto<br />
ao mérito” (“Diário do Comércio”, São Paulo, 20-5-87).<br />
“Detalhista, utópico e progressista” são qualificativos “repetidos agora em razoável escala<br />
na Assembléia Nacional Constituinte” (“O Globo”, 16-5-87).<br />
Para “O Estado <strong>de</strong> S. Paulo”(17-5-87) era “gran<strong>de</strong> o risco <strong>de</strong> ser elaborada uma<br />
Constituição i<strong>de</strong>al, lírica, poética e, sob certo aspecto, fantasiosa, mas inexeqüível”.<br />
Em suma: “O festival <strong>de</strong> besteiras que assola a Constituinte é praticamente ilimitado”<br />
(Nertan Macedo, “O Estado <strong>de</strong> S. Paulo”, 14-6-87).<br />
Essas críticas, aliás, prosseguiram com a publicação dos sucessivos Substitutivos do <strong>Projeto</strong><br />
Cabral. O “Jornal do Brasil” (1 º -9-87), por exemplo, comenta:<br />
“É difícil evitar uma sensação <strong>de</strong> constrangimento ou até <strong>de</strong> perplexida<strong>de</strong> em relação ao<br />
que está acontecendo com a Assembléia Constituinte. A Constituição é a ‘lei maior’. Mas on<strong>de</strong> estão<br />
os indícios <strong>de</strong> que e trata, realmente, da ‘lei maior’ em elaboração? On<strong>de</strong> está a serieda<strong>de</strong> própria<br />
a uma tal ocasião?<br />
“A impressão que se tem, em vez disso, é a <strong>de</strong> que estão em elaboração milhares <strong>de</strong><br />
‘pequenas leis’, tratando <strong>de</strong> tudo quanto é questão específica ...<br />
“A idéia <strong>de</strong> Constituição é inseparável <strong>de</strong> um or<strong>de</strong>namento que trate os assuntos <strong>de</strong> acordo<br />
com a sua hierarquia. É como a construção <strong>de</strong> um edifício: há que haver alicerces e um plano geral,<br />
a partir do qual os <strong>de</strong>talhes vão se encaixando em seus respectivos lugares. Em vez disso, o que se<br />
avoluma à nossa frente, nesta jornada constituinte, é uma autêntica Torre <strong>de</strong> Babel, on<strong>de</strong> cada<br />
pedaço parece obe<strong>de</strong>cer a uma inspiração diferente. ....<br />
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