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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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esquerda mo<strong>de</strong>rada na superpo<strong>de</strong>rosa Comissão <strong>de</strong> Sistematização, cuja meta<strong>de</strong> dos membros é <strong>de</strong><br />

dirigentes dos órgãos temáticos.<br />

Efetivamente, em <strong>de</strong>corrência da vitoriosa manobra <strong>de</strong> Covas, o perfil i<strong>de</strong>ológico do grupo<br />

<strong>de</strong> sistematização tornou-se muito mais avançado que o do próprio plenário da Constituinte, segundo<br />

avaliação feita pelo senador José Richa.<br />

Estabelece-se assim, à maneira <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> inautenticida<strong>de</strong>s em ca<strong>de</strong>ia, uma estranha<br />

regra <strong>de</strong> três composta: 1 º ) o eleitorado é mais conservador que a Constituinte que resultou da eleiçãosem-idéias<br />

<strong>de</strong> 86; 2 º ) o Plenário da Constituinte, majoritariamente centrista e conservador, não foi<br />

a<strong>de</strong>quadamente representado no trabalho das Subcomissões e Comissões temáticas; 3 º ) a parcela mais<br />

esquerdista <strong>de</strong>stas últimas se concentrou na Comissão <strong>de</strong> Sistematização.<br />

Nenhuma medida foi negligenciada, pela cúpula do PMDB, para alcançar este resultado, o<br />

que chegou a provocar <strong>de</strong>sentendimentos com o PFL, que constitui, na atual conjuntura brasileira, o<br />

partido mais influente do centro conservador. O “Jornal do Brasil” (22-5-87) registra as reclamações<br />

do <strong>de</strong>putado José Lourenço, lí<strong>de</strong>r do PFL, sobre a inclusão, na Comissão <strong>de</strong> Sistematização, dos<br />

relatores esquerdistas <strong>de</strong>rrotados nas Subcomissões e Comissões temáticas:<br />

Os lí<strong>de</strong>res da Aliança Democrática na Constituinte, <strong>de</strong>putado José Lourenço (PFL) e<br />

senador Mário Covas (PMDB) tiveram um <strong>de</strong>sentendimento, motivado por <strong>de</strong>cisão do <strong>de</strong>putado<br />

Ulysses Guimarães, que manterá os relatores das subcomissões, mesmo que seus relatórios sejam<br />

rejeitados. ...<br />

No plenário, Lourenço acusou Ulysses <strong>de</strong> agir ‘como presi<strong>de</strong>nte do PMDB e não da<br />

Constituinte’ e disse que ‘os peeme<strong>de</strong>bistas radicais não vão conseguir fazer uma constituição <strong>de</strong><br />

esquerda’.<br />

Quando Lourenço ocupou a tribuna, Ulysses, que presidia os trabalhos, se retirou. O lí<strong>de</strong>r<br />

do PFL começou o discurso: ‘Ao PMDB não interessa obediência à lei, ao regimento. Faz a política<br />

do que eu quero, eu posso, eu faço’.<br />

‘O regimento da Constituinte é omisso no assunto e, nesse caso, como prevê o próprio<br />

regimento, <strong>de</strong>ve subsidiar-se no regimento da Câmara. O <strong>de</strong>putado Ulysses Guimarães não agiu<br />

assim porque quer manter os relatores, mesmo <strong>de</strong>rrotados, na Comissão <strong>de</strong> Sistematização e ter a<br />

maioria <strong>de</strong> esquerda. Essa não é a vonta<strong>de</strong> da maior parte do PMDB, <strong>de</strong> um PMDB mo<strong>de</strong>rado’,<br />

acusou Lourenço.<br />

Falando em seguida, Covas disse que não concedia ‘a ninguém o direito <strong>de</strong> dizer o que é<br />

maioria ou minoria <strong>de</strong>ntro do PMDB’.<br />

A habilida<strong>de</strong> da esquerda fica assim bem <strong>de</strong>lineada. Uma <strong>de</strong>stas, já apontada, foi a <strong>de</strong> não<br />

nomear relatores esquerdistas muito radicais. Isso se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> modo arquetípico na Comissão <strong>de</strong><br />

Sistematização, on<strong>de</strong> o senador Mário Covas favoreceu discretamente a indicação do <strong>de</strong>putado<br />

Bernardo Cabral, em prejuízo do senador Fernando Henrique Cardoso, ateu e marxista militante 28 .<br />

“O Globo”(10-4-87) assim noticia o que se passou:<br />

Parlamentarista convicto, Deputado cassado logo no início da vigência do AI-5 e expresi<strong>de</strong>nte<br />

da OAB, Bernardo Cabral foi o primeiro dos candidatos a <strong>de</strong>clarar que pleiteava o cargo,<br />

amparado em sua vasta experiência jurídica, e a trabalhar por ele. ...<br />

Contando com a discreta preferência <strong>de</strong> Mário Covas, jamais explicitada, Cabral começou<br />

a trabalhar pelo cargo <strong>de</strong> Relator muito antes <strong>de</strong> seus companheiros e, mesmo quando não sabia<br />

ainda que a <strong>de</strong>cisão seria submetida à bancada – idéia que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u – já conversava com os<br />

companheiros em busca <strong>de</strong> apoio a seu nome. Os principais argumentos <strong>de</strong> sua campanha foram sua<br />

atuação oposicionista durante o regime militar e a experiência em questões jurídicas.<br />

28<br />

Este último, entretanto, foi posteriormente <strong>de</strong>signado “relator adjunto” do <strong>de</strong>putado Bernardo Cabral, e vem<br />

exercendo uma influência cada vez maior nos trabalhos da Constituinte (cfr. “O Globo”, 29-9-87).<br />

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