1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Tudo isto levou a “Folha <strong>de</strong> S. Paulo”(4-11-86) a comentar que ao apontar para o futuro,<br />
Múcio e Arraes empatam: ambos colocam como priorida<strong>de</strong> a Reforma Agrária e a criação <strong>de</strong><br />
empregos, o que leva o próprio Múcio a admitir que ‘as ban<strong>de</strong>iras são idênticas.<br />
Já vitorioso, Arraes <strong>de</strong>clarou que iria cobrar o cumprimento do Pacto da Galiléia (cfr. “Diário<br />
<strong>de</strong> Pernambuco” e “Jornal do Commércio”, Recife, <strong>de</strong> 22-11-86).<br />
O fim da história é melancólico: Vamos falar <strong>de</strong> outra coisa – pediu ao repórter com ar<br />
constrangido, o presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Cultivadores <strong>de</strong> Cana, Gerson Carneiro Leão... – O<br />
Pacto não existe mais. ... Era um acordo <strong>de</strong> José Múcio com Julião, mas só teria valida<strong>de</strong> se Múcio<br />
fosse eleito”. ‘E eu nunca prestei qualquer <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> apoio a esse acordo’, emendou Antônio<br />
Celso Cavalcanti, presi<strong>de</strong>nte da Associação dos Fornecedores <strong>de</strong> Cana. (“Diário <strong>de</strong> Pernambuco”,<br />
25-11-86).<br />
4 . Carece, portanto, <strong>de</strong> qualquer fundamento sério a afirmação <strong>de</strong> que a temática<br />
comunismo x anticomunismo constituiu o gran<strong>de</strong> divisor <strong>de</strong> águas do eleitorado pernambucano<br />
em 1986: venceu o candidato mais conhecido do público, que articulou melhor suas alianças políticas<br />
e foi mais estruturado e ativo em sua campanha eleitoral.<br />
A <strong>de</strong>scrição do “Jornal do Brasil” (13-10-86) é muito sugestiva:<br />
Para enfrentar a maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização financeira <strong>de</strong> seus adversários, o PMDB<br />
pernambucano está lançando mão <strong>de</strong> uma po<strong>de</strong>rosa arma: a <strong>de</strong>dicação da militância política. Todas<br />
as noites, quando milhares <strong>de</strong> recifenses voltam do trabalho para suas casas, um grupo <strong>de</strong> cem<br />
pessoas, na maioria estudantes e profissionais liberais, sai pelos bairros da capital a fim <strong>de</strong><br />
conquistar votos para a candidatura <strong>de</strong> Miguel Arraes. São os integrantes da Brigada Porta a Porta<br />
do PMDB, um dos trabalhos mais valorizados no esquema <strong>de</strong> campanha do partido.<br />
Ao todo, as várias brigadas do PMDB mobilizam quase duas mil pessoas. ...<br />
Há um grupo <strong>de</strong> professores especialmente encarregados do preparo dos militantes, que<br />
sempre se <strong>de</strong>param, nas casas que visitam, com uma série <strong>de</strong> questões que <strong>de</strong>vem ser respondidas.<br />
Na maioria das vezes, os brigadistas têm que respon<strong>de</strong>r perguntas sobre a ida<strong>de</strong> avançada <strong>de</strong> Arraes,<br />
sobre as razões do golpe <strong>de</strong> 64, sobre os motivos que o levaram a não apresentar nenhum projeto na<br />
Câmara dos Deputados e, sobretudo, o questionamento i<strong>de</strong>ológico da posição <strong>de</strong> Arraes.<br />
Do resultado <strong>de</strong>ssa propaganda dá testemunho o ex-governador do Paraná, José Richa, o<br />
qual, em visita a Pernambuco, se <strong>de</strong>clarou impressionado com as manifestações populares diante dos<br />
candidatos do PMDB: Arraes, ... por exemplo, não é um simples político em busca <strong>de</strong> votos. É um<br />
ídolo que as pessoas querem tocar, quase como um santo (“Jornal do Brasil”, 13-10-86).<br />
5 . Aliás, <strong>de</strong>ntre os apoios políticos que carrearam ao candidato Arraes uma parcela não<br />
<strong>de</strong>spicienda <strong>de</strong> votos <strong>de</strong>staca-se o dos setores progressistas da Igreja Católica (cfr. “Diário <strong>de</strong><br />
Pernambuco”, 11-11-86).<br />
6 . Cabe ainda uma palavra sobre a <strong>de</strong>rrota que mais surpreen<strong>de</strong>u em todo o País –<br />
contrariando inclusive os mais persistentes e unânimes prognósticos eleitorais – que foi a do exgovernador<br />
<strong>de</strong> Pernambuco Roberto Magalhães, candidato ao Senado. A explicação, dada<br />
precipitadamente por observadores políticos, <strong>de</strong> que esse candidato resultou prejudicado pela<br />
‘cruzada anticomunista’ <strong>de</strong>senvolvida por seu partido é insustentável, como se viu por todos os<br />
aspectos já analisados, da campanha eleitoral no Estado. Para o fato há, aliás, uma razão mais<br />
comezinha aduzida por outros analistas políticos: uma hábil propaganda moveu o eleitorado, na reta<br />
final da campanha, a vincular os votos aos candidatos a governador e a senador pela mesma chapa,<br />
resultando daí a <strong>de</strong>rrota do ex-governador (cfr. “Jornal do Brasil”, 18-11-86; “Diário <strong>de</strong><br />
Pernambuco”, 21-11-86; “Jornal do Comércio”, 22-11-86).<br />
7 . Por fim, os resultados eleitorais em Pernambuco, longe <strong>de</strong> significarem um recuo do<br />
anticomunismo, conduziram <strong>de</strong> fato a bancadas tidas como conservadoras, e até com alguma<br />
tintura <strong>de</strong> direita ou <strong>de</strong> centro-direita, tanto no âmbito fe<strong>de</strong>ral quanto no estadual. Um<br />
candidato do PCB bem votado (<strong>de</strong>putado Roberto Freire) constitui, pois, exceção, e seu êxito eleitoral<br />
54