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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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As etnias ou grupos nacionais minoritários fixados no Brasil <strong>de</strong>vem reconhecer, na maioria<br />

luso-brasileira, o ponto <strong>de</strong> convergência e <strong>de</strong> união entre todas elas. Embora sem se mesclarem<br />

inconsi<strong>de</strong>rada e quiçá oportunisticamente com ela, <strong>de</strong>vem retribuir-lhe <strong>de</strong> modo leal e generoso o<br />

trato compreensivo e amigo que <strong>de</strong>la recebem. Não <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar a maioria luso-brasileira como<br />

montanha em cujo topo elas porfiam entre si para cravar cada qual sua própria ban<strong>de</strong>ira. Pelo<br />

contrário, <strong>de</strong>vem aceitar como fato histórico legítimo, <strong>de</strong>finitivo e benéfico o primado – melhor se<br />

diria a paternida<strong>de</strong> ou primogenitura – do luso-brasileiro no país-continente que é <strong>de</strong>les.<br />

Assim se <strong>de</strong>fine um movimento centrípeto da vida brasileira, cujo equilíbrio com o elemento<br />

centrífugo constitui uma das condições do equilíbrio nacional.<br />

3 . Culturas diversas que se completam amistosamente em um só povo<br />

Cumpre, aliás, acrescentar que o modo <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar esse nobre equilíbrio <strong>de</strong>ve ser estreme<br />

<strong>de</strong> chauvinismo cultural.<br />

Em outros termos, não há que consi<strong>de</strong>rar aqui as culturas como <strong>de</strong>vendo ser separadas umas<br />

das outras por cortinas-<strong>de</strong>-ferro psicológicas que isolam “universos” paralelos, ciosos <strong>de</strong> se manterem<br />

assim, e que só se encontrem no infinito. Ou, em outros termos, nunca, <strong>de</strong> modo nenhum, em lugar<br />

nenhum.<br />

Culturas diferentes po<strong>de</strong>m – servatis servandis – conviver e completar-se amistosamente, a<br />

ponto <strong>de</strong> constituir gradualmente um só povo, uma só nação.<br />

Foi o que se <strong>de</strong>u, por exemplo, e em consi<strong>de</strong>rável medida, com a cultura romana, a qual<br />

conviveu com as culturas <strong>de</strong> outros povos sem lhes estancar a vida nem as características. E isto ainda<br />

muitos séculos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o Império Romano ter sumido na voragem da História. Ela permaneceu<br />

como uma luz e um estímulo para todos os povos que provinham do Império por alguma continuida<strong>de</strong><br />

étnica, cultural ou histórica, e até para povos que <strong>de</strong>struíram o Império e não obstante foram irrigados,<br />

com o correr do tempo, pela influência latina da Igreja Católica. O exemplo mais característico <strong>de</strong> tal<br />

fato quiçá seja a exemplar fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> dos povos germânicos à cultura latina.<br />

Por fim, há que acrescentar que, em se tratando <strong>de</strong> um povo compactamente católico como<br />

o brasileiro, a presença da Igreja Católica nesse assunto não po<strong>de</strong> <strong>de</strong> nenhum modo ser subestimada.<br />

Des<strong>de</strong> suas origens, a Igreja se tem mostrado admiravelmente exemplar no equilíbrio <strong>de</strong> seu duplo<br />

movimento centrípeto (a confluência <strong>de</strong> todos os povos para a Cátedra <strong>de</strong> Pedro, em Roma) e<br />

centrífugo (a expansão <strong>de</strong>ssa influência por todo o universo).<br />

Esse equilíbrio, que <strong>de</strong>ixa ver a santida<strong>de</strong> sobrenatural da Igreja, conduz ao fato <strong>de</strong> que ela<br />

atrai todos os povos a Jesus Cristo, Salvador e Re<strong>de</strong>ntor <strong>de</strong>les. E, <strong>de</strong> outro lado, que ela O leva a todos<br />

eles.<br />

Assim se explica que a Santa Igreja una <strong>de</strong> modo suave mas fortíssimo, tantos povos, numa<br />

união que se realiza antes <strong>de</strong> tudo no campo religioso e eclesiástico. Mas os efeitos <strong>de</strong>ssa união<br />

transbordam <strong>de</strong>sse campo para o temporal, <strong>de</strong> modo admiravelmente penetrante e benfazejo. De sorte<br />

que por toda parte a influência da Igreja penetra, vivifica e aproxima as culturas locais, sem lhes<br />

<strong>de</strong>struir entretanto as características. Pelo contrário, tonifica-as, em tudo quanto nelas é conforme à<br />

Lei <strong>de</strong> Deus e à or<strong>de</strong>m natural. De sorte que <strong>de</strong>ssa influência sobrenatural da Igreja <strong>de</strong>corra, ao mesmo<br />

tempo, uma longa e gloriosa continuida<strong>de</strong> das culturas e uma mútua compreensão entre elas; por<br />

on<strong>de</strong>, em lugar <strong>de</strong> se invejarem, hostilizarem e entre <strong>de</strong>struírem, alargam e elevam mutuamente os<br />

respectivos horizontes, rumo a um ápice comum que se po<strong>de</strong> chamar cultura católica. E daí nasce<br />

essa magnífica realida<strong>de</strong> una e múltipla que foi a civilização cristã.<br />

Essas consi<strong>de</strong>rações estão longe dos horizontes do Substitutivo Cabral 2. Embora fale<br />

genericamente em etnias, ela só toma em consi<strong>de</strong>ração índios e, em alguma medida, os negros. E, ao<br />

consi<strong>de</strong>rar as relações <strong>de</strong> ambas essas etnias com os brancos, fá-lo em um espírito <strong>de</strong> singular<br />

chauvinismo pró-indígena e pró-negro, rumando para a criação <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> coisas que, em lugar<br />

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