Edição Nº 19 - Uneb
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Odemodé egbé asipá: para além do “ensino da história e cultura afro-brasileira”<br />
além de elaborar e difundir conhecimentos sobre<br />
educação referidos às alteridades civilizatórias<br />
que constituem a formação social brasileira.<br />
(...)<br />
Descolonização e Educação é uma iniciativa que<br />
procura restituir aos descendentes das populações<br />
aborígines e africanas a compreensão e dignidade<br />
de sua alteridade civilizatória. (LUZ, 2000,<br />
p. 8).<br />
O PRODESE tem realizado pesquisas importantes<br />
no que diz respeito à afirmação da<br />
diversidade cultural na Bahia, entre elas a abordagem<br />
do universo da Ancestralidade africana<br />
em que sublinho como necessária a elaboração<br />
de políticas educacionais voltadas para o acolhimento<br />
do direito à alteridade e a afirmação<br />
da identidade da população infanto-juvenil afrodescendente,<br />
especialmente na análise sobre o<br />
projeto Odemodé Egbé Asipá.<br />
Em seu volume mais recente, lançado em<br />
maio deste ano, a revista Sementes trouxe uma<br />
gama de artigos compondo um repertório riquíssimo<br />
dentro das abordagens em Educação Pluricultural.<br />
O pólo irradiador das suas temáticas<br />
está fundamentado na ética da coexistência, caracterizando-se<br />
como uma possibilidade de trabalho<br />
com as questões ligadas à Educação.<br />
Para a geração de educadores deste século ainda<br />
persiste a mesma demarcação da norma<br />
geopolítica neocolonial-imperialista, mas com um<br />
novo diferencial: a instituição recente do “eixo<br />
do bem” e “eixo do mal” – fruto de acordos jurídico-políticos<br />
entre nações classificadas como<br />
grandes potências (parafraseando Sartre: ‘o inferno<br />
são os outros’). Tudo isso vem submetendo<br />
a existência do planeta a esses pólos equivocados<br />
que tendem a estimular a intolerância, o<br />
ódio, a negação do direito à alteridade própria e<br />
as identidades culturais de distintos povos. (LUZ,<br />
2002, p.8).<br />
Os artigos publicados por Sementes reforçam<br />
a necessidade de afirmação e concretização<br />
da ética da coexistência. No volume em<br />
questão, a revista traz diversas contribuições<br />
relacionadas ao direito à existência, novas percepções<br />
sobre a continuidade do processo civilizatório<br />
africano-brasileiro, compreensões sobre<br />
dinâmicas sócio-culturais baianas referendadas<br />
no contexto da civilização africano-brasileira,<br />
além de poesias e desdobramentos da pesquisas<br />
do PRODESE e novas perspectivas de leitura<br />
envolvendo essa temática. “A dinâmica<br />
socioexistencial emanada pela da coexistência,<br />
para a equipe do PRODESE, se constitui como<br />
a única possibilidade de assegurar a expansão<br />
da multiplicidade de vida no planeta.” (LUZ,<br />
2002, p. 8).<br />
3. O Odemodé Egbé Asipá – Juventude<br />
da Sociedade Asipá: ancestralidade,<br />
comunalidade e afirmação<br />
existencial num contexto pluricultural<br />
de educação<br />
O Projeto Odemodé Egbé Asipá – Juventude<br />
da Sociedade Asipá foi realizado pela<br />
comunidade-terreiro Ilê Asipá em <strong>19</strong>99 e 2000<br />
e concretizou uma perspectiva pedagógica pluricultural<br />
pautada na referência ancestral africano-brasileira.<br />
A comunidade-terreiro Ilê Asipá foi fundada<br />
por Deoscóredes Maximiliano dos Santos,<br />
Mestre Didi – Alapini, sacerdote supremo do<br />
culto aos ancestrais – e por um grupo de Ojés,<br />
que representam a hierarquia da comunidade e<br />
procuram zelar e manter a continuidade da religião<br />
africano-brasileira com absoluto respeito<br />
à liturgia deixada como legado pelos antepassados<br />
da família Asipá. A família Asipá é, acima<br />
de tudo, um ponto de ancoragem, de princípio-começo-origem,<br />
a arkhé da comunidade.<br />
A noção de arkhé é utilizada para projetar a<br />
compreensão da episteme africana e da linguagem<br />
que a sustenta. Trata-se de uma contextualização<br />
do universo simbólico africano-brasileiro.<br />
Esta é uma categoria utilizada por alguns<br />
autores 6 para a interpretação da episteme africana<br />
no Brasil e para a caracterização de idéias<br />
que a contextualizem no discurso acadêmico.<br />
A arkhé caracteriza-se por princípios inaugurais<br />
que dão propulsão ao existir. É uma elaboração<br />
de passado que dá significado à exis-<br />
6<br />
Para aprofundamento indicamos conhecer os trabalhos<br />
de Narcimária C. P. Luz, Marco Aurélio Luz, Deoscóredes<br />
Maximiliano dos Santos, Juana Elbein dos Santos e<br />
Muniz Sodré.<br />
104 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 99-111, jan./jun., 2003