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Edição Nº 19 - Uneb

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José Eduardo Ferreira Santos<br />

gem, ou os conhecimentos novos trazidos pelas<br />

alunas. Nós aprendemos no diálogo aquilo que<br />

para nós é uma sabedoria viva, que se expressa<br />

no conhecimento que os outros têm e que<br />

certamente nos enriquece a cada momento. A<br />

experiência com o curso de monitoras de creches<br />

mostrou-me que muitas vezes ouvir, dialogar,<br />

ajuda a desenvolver aquilo que a pessoa é<br />

e tem em si e que, muitas vezes, nós os professores<br />

não prestamos a devida atenção ao que<br />

os nossos alunos dizem, porque estamos entulhados<br />

em nossas lamentações e queixas diárias<br />

contra tudo e todos.<br />

Aprendi com elas que o educador deve ser<br />

realista. Não adianta mentir, fingir. Ser verdadeiro,<br />

dizer a vida, é uma tarefa a que muitos se<br />

furtam, e os educandos percebem quando os<br />

estamos enganando sobre a realidade interpessoal,<br />

cultural, política, enfim, qualquer que seja<br />

ela. O educador, a pessoa de referência na sala<br />

de aula, não se deve impedir de propor novos<br />

mundos, novas descobertas culturais. Para mim,<br />

foi importante a experiência de que temas fascinantes<br />

foram estudados, descobertos, aprendidos,<br />

a partir de um interesse que nascia em<br />

mim, mas ao mesmo tempo era evidente a reverberação<br />

na turma e seu conseqüente aprofundamento.<br />

Ou seja, o educador deve permitir-se<br />

querer descobrir, aprender mais. A leitura,<br />

neste sentido, ajuda de uma maneira fundamental.<br />

Nesses meses li e reli alguns livros 5<br />

fundamentais para entender a pessoa e desenvolver<br />

o trabalho na sala.<br />

O educador deve ter uma concepção de<br />

educação e de pessoa, e isso é fundamental pois<br />

só assim a prática pedagógica alcança certas<br />

dimensões. O que pautou o trabalho foi a definição<br />

da educação tomada de Giussani (2000a,<br />

p.49) que a entende como uma introdução da<br />

pessoa na totalidade da realidade; ele parte<br />

do pressuposto de que todas as pessoas têm<br />

dentro de si as mesmas exigências e evidências<br />

constitutivas, e que qualquer um pode se<br />

interessar pela beleza porque todos temos o mesmo<br />

coração, a mesma busca humana.<br />

Lembro também dos momentos em que pedi<br />

silêncio à turma, a qual, não sei se por costume,<br />

mostrava-se difícil em entender que determinados<br />

conteúdos e ensinamentos devem ser<br />

apreendidos com um clima de respeito, pois<br />

quando o conteúdo é novo, ele por si próprio<br />

exige, num primeiro momento, essa atitude, certamente<br />

propícia e preparatória aos diálogos,<br />

às perguntas, comentários, explicitação de dúvidas<br />

e problemas que venham a surgir após<br />

uma explicação.<br />

A aula, então, tem um caráter de relacionamento<br />

com instâncias da realidade pessoal e<br />

intelectual que transparecem no olhar das alunas,<br />

pois vi muitas vezes que o olhar evidenciava<br />

e demonstrava quando cada uma delas aprendia<br />

ou não determinados ensinamentos. Se uma<br />

pessoa aprende, ela comunica aquilo que aprendeu.<br />

Isto para mim foi impressionante; descobri<br />

isso nos relatos de diálogos delas com seus<br />

professores de escola, de cursinho, pais, amigos,<br />

a partir daquilo que foi trabalhado nas aulas.<br />

Ficou evidente que, quando uma pessoa<br />

descobre o significado das coisas, ela tem mais<br />

gosto e prazer de divulgar o conhecimento adquirido;<br />

pois quando uma pessoa explica, divulga<br />

e fala daquilo que aprendeu ela está tornando<br />

esse conhecimento muito mais seu do que<br />

aquela pessoa que o guarda para si.<br />

Aprendi que cada pessoa tem seu ritmo, sua<br />

época de aprender, e, por isso, o professor deve<br />

ser aquele que propõe, provoca, sendo livre para<br />

que, junto com a liberdade do aluno, os dois<br />

cheguem a descobertas. Mas o aluno é livre, e<br />

liberdade significa respeitar os silêncios, as<br />

emoções que eles trazem, suas histórias.<br />

Quando uma pessoa estuda seriamente e é<br />

livre diante de uma aula, ela sente-se provocada<br />

e, então, conceitos internos são afirmados, quebrados,<br />

refeitos. Há conflitos, certamente. Muitas<br />

vezes me dei conta de que um conteúdo<br />

abre brechas para descobertas pessoais, inte-<br />

5<br />

Antropologia Teológica, de Battista Mondin; O Homem<br />

Moderno, Enrique Rojas; Raízes do Brasil, de Sérgio<br />

Buarque de Holanda; O Povo Brasileiro - O Sentido e a<br />

Formação do Brasil, de Darcy Ribeiro; A Lição do Amigo,<br />

com cartas de Mário de Andrade a Drummond; Poesia, de<br />

Manuel Bandeira; Relicário Popular, de Dona Zilda Paim,<br />

de Santo Amaro; Diários Índios, também de Darcy Ribeiro,<br />

entre outros.<br />

Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003<br />

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