Edição Nº 19 - Uneb
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Práticas pedagógicas, cultura, história e tradição: um relato da experiência educativa em Novos Alagados<br />
educandos, visando abrir uma perspectiva de<br />
intercâmbio e diálogo com eles, e proporcionando<br />
uma experiência diversa daquela que é pautada<br />
pela violência e pela rigidez ou abandono<br />
aos quais alguns deles estão expostos. Há neles<br />
uma certa vulnerabilidade nascida da exposição<br />
constante a riscos psicossociais. Assim,<br />
não são crianças e adolescentes acostumados<br />
a estarem nas sala de aulas como alunos ideais,<br />
mas sim como pessoas reais, cujos comportamentos<br />
e inquietações refletem suas trajetórias<br />
de vida, muitas vezes marcadas pela violência.<br />
A EXPERIÊNCIA COM AS MONITORAS<br />
DE CRECHE<br />
Dentre as experiências que mais contribuíram<br />
para a minha formação enquanto educador,<br />
destaco um curso oferecido para adolescentes,<br />
no intuito de formar monitoras de creche.<br />
Nos meses de agosto a dezembro realizei,<br />
como coordenador pedagógico e professor do<br />
módulo básico, o curso de capacitação de auxiliar<br />
e monitoras de creche, financiado pelo programa<br />
Capacitação Solidária. O curso recebeu<br />
31 jovens de todo o Subúrbio Ferroviário,<br />
com idades entre 17 e 21 anos, com níveis variados<br />
de escolaridade, do 1 o ao 2 o grau. Esse<br />
curso foi dividido em três momentos diferenciados:<br />
o módulo básico, o módulo específico e a<br />
vivência prática, nos moldes do Capacitação<br />
Solidária, programa do governo federal.<br />
Para mim foi uma experiência muito significativa,<br />
pois tive a tarefa de introduzir essas jovens<br />
em temas da atualidade e da cultura brasileira<br />
e geral, de maneira que nelas fizesse surgir<br />
o gosto e o interesse pelos estudos, visto que a<br />
experiência de escola não foi das melhores.<br />
Tivemos 4 aulas sobre os mais diversos temas,<br />
a saber: sexualidade, globalização e neoliberalismo,<br />
correspondência oficial, história da<br />
arte, redação e interpretação de textos, história<br />
da Bahia, história do Subúrbio Ferroviário, história<br />
do Brasil, literatura infantil, Leis e Diretrizes<br />
de Base da Educação Nacional, poesia brasileira,<br />
postura ética e profissional, história do<br />
Parque de São Bartolomeu, características e<br />
aspirações do homem moderno, elementos para<br />
a construção da cidadania, método de estudo, o<br />
barroco brasileiro. Também tivemos diversas<br />
palestras e visitas de personalidades da cultura,<br />
como Myriam Fraga, escritora e poetisa; professores<br />
e alunos universitários como o biólogo<br />
Gilberto Cafezeiro Bonfim, o advogado Caio<br />
César Tourinho, o estudante de economia Ricardo,<br />
e Jaqueline, estudante do curso de enfermagem,<br />
e partilhamos momentos inesquecíveis<br />
quando, juntos, visitamos diversos lugares da<br />
cidade do Salvador e região metropolitana, a<br />
exemplo do Pelourinho e suas igrejas, o Engenho<br />
Freguesia, em Caboto, e diversos museus<br />
da cidade.<br />
O período mais intenso de aulas foi de agosto<br />
a setembro, quando diariamente ficamos juntos;<br />
com todas as imperfeições e dificuldades, foi um<br />
período de verdadeira aprendizagem, que me<br />
impressionou bastante e que, certamente, me ajudou<br />
a aprender com as experiências de cada uma<br />
dessas jovens, pois as aulas nunca se desenvolviam<br />
da maneira que se tinha planejado.<br />
Os assuntos fomentavam diálogos, conversas<br />
e aprendizagens significativas que nos ajudaram<br />
a entender que aprender é uma capacidade<br />
de fazer nexos entre uma realidade estudada,<br />
vivida e outras diversas que nos rodeiam<br />
e aparecem à nossa frente. Foi muito expressivo<br />
descobrir algumas coisas nesses momentos<br />
que realizam, de fato, o que vem a ser uma prática<br />
educativa, um educador. Primeiro, o educador<br />
deve preparar as aulas. Ele pode não<br />
saber tudo, mas certamente deve ter um universo<br />
cultural que abarque a sua curiosidade e<br />
seja capaz de aguçar ou espicaçar a curiosidade<br />
alheia, ou seja, deve haver uma paixão pelo<br />
ato de transmitir qualquer conhecimento; o educador<br />
é um profissional que deve ter a noção<br />
de previsibilidade, ou seja, segurança daquilo que<br />
vai propor e mediar. Segundo, a aula desenvolve-se<br />
por caminhos a que devemos estar abertos,<br />
utilizando os assuntos, quando estes sur-<br />
4<br />
A experiência educativa relatada nestas páginas envolve<br />
a presença de outros educadores, daí a voz no plural, o<br />
nós, que pode aparecer no corpo do texto.<br />
118 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003