Edição Nº 19 - Uneb
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Yara Dulce B. de Ataíde; Edmilson de Sena Morais<br />
pele mais escura se viam relegados a uma marginalização<br />
cada vez maior, com reflexos sobre<br />
sua auto-estima e auto-imagem.<br />
Várias teorias etnocêntricas permearam os<br />
ideais de branqueamento e afirmaram a inferioridade<br />
racial dos africanos, aborígines americanos,<br />
australianos, polinésios, orientais etc. Lombroso,<br />
na Itália, foi um dos preconizadores de<br />
tal visão do “outro” no século passado. Entretanto,<br />
essa não é uma atitude exclusiva da ideologia<br />
euro-etnocêntrica. Existem registros de<br />
preconceitos semelhantes entre os egípcios e<br />
os gregos, que já faziam restrições à presença<br />
de indivíduos culturalmente diferentes no seu<br />
meio (FREIRE-MAIA, <strong>19</strong>81).<br />
O princípio da inferioridade racial, elaborado<br />
em bases supostamente cientificas pelos<br />
europeus, baseava-se no chamado determinismo<br />
biológico-geográfico e na mistura racial.<br />
Segundo esta teoria, esses fenômenos provocavam<br />
a degenerescência humana, na qual os<br />
indivíduos teriam tendências comportamentais<br />
criminosas e perversões libidinosas, advindas<br />
dessas contingências (MUNANGA, <strong>19</strong>99).<br />
Ao longo do tempo, essas ideologias amalgamaram<br />
o comportamento reprimido e inferiorizado<br />
dos afro-descendentes. Somente a partir<br />
dos anos setenta, com o Movimento Negro<br />
Internacional repercutindo em todo o mundo,<br />
no rastro do movimento descolonizador na África<br />
e na Ásia, é que na América do Norte e no<br />
Brasil, os afro-descendentes de São Paulo e da<br />
Bahia passaram a reforçar, através do Movimento<br />
Negro Unificado, o sentimento de africanidade,<br />
enquanto identidade étnica (SILVA,<br />
<strong>19</strong>88).<br />
O projeto pedagógico brasileiro é exógeno e<br />
xenófobo. As concepções de educação são alienígenas<br />
e não se priorizam as especificidades<br />
étnico-culturais dos diversos grupos sociais que<br />
interagem no espaço escolar. Na Bahia, o PRO-<br />
JETO EDUCAR PARA VENCER, elaborado<br />
no sul do país, foi implantado em todo o Estado<br />
para solucionar o grave problema da distorção<br />
série/idade, implantado para a regularização<br />
de fluxo. Este projeto, dentre as múltiplas falhas,<br />
possui conteúdo desvinculado da realidade<br />
do aluno e não favorece discussões e reflexões<br />
sobre as diferenças, a diversidade cultural<br />
e a identidade étnico-cultural. Um outro projeto<br />
em vigor é o PEI, importado de Israel com o<br />
propósito de desenvolver o raciocínio lógico dos<br />
estudantes do Ensino Médio. Este projeto também<br />
peca por não considerar seriamente as<br />
questões étnico-culturais presentes no cotidiano<br />
escolar.<br />
Nesses projetos, o livro e o material didático<br />
transformam-se em cartilhas bitoladas que<br />
limitam o processo pedagógico e a criatividade<br />
do professor, aprisionando-o nos trilhos estreitos<br />
determinados pelos manuais. O livro didático<br />
não deveria assumir o papel de norteador do<br />
processo, pois esta tarefa deveria caber ao professor<br />
enquanto problematizador do seu conteúdo,<br />
que deveria apenas servir como referencial.<br />
Esses materiais, por sua vez, não trazem<br />
abordagens de aspectos civilizatórios aborígines<br />
e africanos, e o profissional que o utiliza não<br />
possui referenciais dessas arkhés civilizatórias,<br />
não as privilegiando na sua prática docente.<br />
Quando o fazem, isso é feito de maneira inadequada<br />
ou caricatural.<br />
Isso nos remete à melancólica reflexão de<br />
que os dirigentes políticos consideram que os<br />
professores da rede pública não teriam capacidade<br />
para desenvolver esse tipo de educação,<br />
razão pela qual, em decorrência desta incapacidade<br />
criativa e incompetência profissional, eles<br />
teriam de ser monitorados na sua atividade; esta<br />
postura governamental implica, porém, na desmoralização<br />
da figura do professor. Em projetos<br />
como esse, não se valoriza o ser plural que<br />
compõe a população baiana e brasileira, de uma<br />
forma geral.<br />
As propostas pedagógicas alternativas baseadas<br />
nos processos civilizatórios afro-aborígenes,<br />
atuantes em Salvador, não são mais que<br />
experiências isoladas. Como práticas pedagógicas<br />
afro-brasileiras bem sucedidas vale citar<br />
o Ilê Axé Opô Afonjá, localizado não bairro de<br />
São Gonçalo, no Cabula e o Ilê Axé Jitolú, no<br />
Curuzu, onde está situada a sede do Ilê Aiyê.<br />
Além dessas, existem, também, outras instituições,<br />
como o Olodum, Steve Bico, o Ceafro<br />
e outras. Uma experiência de educação<br />
pluricultural bem sucedida em Salvador é o Pro-<br />
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 81-98, jan./jun., 2003<br />
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