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Edição Nº 19 - Uneb

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José Eduardo Ferreira Santos<br />

receber; não a nós, mas a Ele que se utiliza destas<br />

vozes e de tantas mãos que talvez nem soubessem<br />

que são capazes de amar com tanto amor<br />

uma Presença tão sem igual.<br />

“Adeus, Santos Reis / adeus de amor /<br />

até para o ano / se nós vivos for”<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A prática educativa em Novos Alagados,<br />

descrita nestas páginas, revela-se portadora de<br />

significados que convergem com uma abordagem<br />

metodológica que busca valorizar as descobertas<br />

e as tradições culturais brasileiras, em<br />

oposição a uma educação cada vez mais descaracterizada<br />

de valores e percepções de um<br />

saber constituído a partir de nós, brasileiros e<br />

afro-descendentes. Conhecer a história, as<br />

músicas, as tradições e o modo de ser de um<br />

povo pode fazer emergir das práticas pedagógicas<br />

em sala de aula um espaço de convivência<br />

com a pluralidade e a diversidade. Podem<br />

também ganhar o mundo e adquirir os espaços<br />

do cotidiano, na favela e em outros contextos.<br />

Essas experiências que realizei como educador<br />

ajudaram-me a compreender que a educação<br />

é uma abertura à consciência de quem<br />

somos, a quem pertencemos. Identidade essa<br />

que necessita ser fortalecida cada vez mais ante<br />

a enxurrada de mudanças e modismos que vêm<br />

acontecendo na pós-modernidade.<br />

A educação revela que há espaços possíveis<br />

para uma emancipação cultural na educação<br />

brasileira, uma emancipação que nos faça<br />

descobrir quem somos.<br />

Proporcionar o encontro dos educandos com<br />

a cultura da Bahia é estabelecer vínculos e laços<br />

com um continuum civilizatório que acontece<br />

agora, sob os nossos olhos.<br />

A educação popular, conforme aqui descrita,<br />

procura valorizar os saberes ancestrais da<br />

cultura brasileira como forma de socialização<br />

dos educandos e dos educadores envolvidos<br />

nessa proposta. A conseqüência vai em direção<br />

a uma noção de cidadania que passa pela<br />

recuperação da auto-estima dos educandos e<br />

educadores num contexto social marcado pela<br />

estigmatização devido às condições de pobreza<br />

da área suburbana da cidade de Salvador.<br />

Os projetos sociais aparecem como espaços<br />

de educação inclusiva, que buscam valorizar<br />

e desenvolver a diversidade cultural como<br />

forma de reconhecimentos dos laços e vínculos<br />

dos indivíduos com a história civilizatória à qual<br />

pertencem, pois não devemos esquecer que a<br />

diversidade cultural é um dos nossos maiores<br />

patrimônios. Nestes espaços é possível a criação<br />

de alternativas à violência e exclusão, a partir<br />

de iniciativas que proporcionam a descoberta<br />

dessa mesma história comunal, muitas vezes<br />

sonegada.<br />

A proposição do estudo da história do Subúrbio<br />

Ferroviário e do reavivamento das tradições<br />

afro-brasileiras buscou valorizar o espaço<br />

e o território como contextos onde os habitantes,<br />

os antepassados e os atuais, marcaram uma<br />

trajetória de lutas pela sua cidadania, mostrando<br />

que o inconformismo com determinadas situações<br />

de opressão é um traço que não podemos<br />

esquecer.<br />

Essas experiências buscaram mostrar, sinteticamente,<br />

que a educação popular efetivada<br />

em espaços abertos a novas propostas<br />

educativas pode gerar conhecimentos e transformações<br />

na vida de crianças e adolescentes<br />

em situação de risco psicossocial. O encontro<br />

com a diversidade provoca o crescimento da<br />

liberdade, no sentido que vamos criando espaços<br />

de convivência, pautados pelo respeito e<br />

pelo acolhimento dessa mesma diversidade.<br />

Uma educação plural e aberta à história dos<br />

sujeitos envolvidos nela é a emergência que<br />

aparece à frente de todo educador comprometido<br />

com a transformação da realidade.<br />

A sistematicidade e a seriedade com o registro<br />

são fundamentais para fazer permanecerem<br />

as experiências que realizamos. Assim,<br />

estas páginas são um relato de experiências que,<br />

de certo modo, trouxeram às crianças e adolescentes<br />

de Novos Alagados um novo modo<br />

de perceber-se no mundo, no sentido de saberem-se<br />

pertencentes a um contexto mais amplo,<br />

tanto do ponto de vista cultural, quanto histórico,<br />

social e educativo.<br />

Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003<br />

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