Edição Nº 19 - Uneb
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Práticas pedagógicas, cultura, história e tradição: um relato da experiência educativa em Novos Alagados<br />
resses e até problemas mal resolvidos de família,<br />
afeto, criação; enfim, a pessoa que está na<br />
sala é um mistério. Há uma complexidade na<br />
pessoa. Há um conjunto de conhecimentos prévios<br />
trazidos pelos alunos, de que muitas vezes<br />
nem sequer me dei conta, só me lembrando<br />
quando pediam para falar deles. Esses conhecimentos<br />
emergiam como produto de uma descoberta<br />
naquele exato momento da aula, fazendo<br />
o nexo entre o seu saber cotidiano e as aprendizagens<br />
em sala.<br />
Algumas vezes tive que calar a voz em meio<br />
à aula para ouvir um desabafo, um choro, que<br />
trazia em si o resquício de um passado, de uma<br />
dor que ainda insistentemente queimava nelas.<br />
Aqui, calar a voz é fundamental, assim como é<br />
importante não interpretar essas falas, pois as<br />
pessoas precisam ser ouvidas em suas questões,<br />
naquilo que é a sua vida. Aqui há uma<br />
confiança em expressar o que se sente, assim<br />
também como uma maneira de partilhar com o<br />
outro aquilo que se tem dentro de si.<br />
Foram muitas aprendizagens... A base da<br />
metodologia utilizada foi a aula como centro de<br />
um primeiro momento de tomada de relacionamento<br />
com o objeto estudado, através de materiais<br />
cuidadosamente preparados, de diversas<br />
fontes de pesquisa e texto-guia.<br />
Depois vieram a investigação, as perguntas,<br />
os comentários e as pesquisas subseqüentes,<br />
de onde emergiram novas descobertas para os<br />
envolvidos no processo ensino-aprendizagem,<br />
professor e alunos. São muito importantes a<br />
descoberta, o contato, a visita, a ida a lugares<br />
onde se tornam visíveis, de maneira concreta,<br />
os conteúdos explicitados no primeiro momento.<br />
Essa última etapa faz com que a pessoa se<br />
dê conta da pertinência da aprendizagem, envolvida<br />
com a própria vida, ou seja, com o ser<br />
de cada um, com a realidade existencial de<br />
cada coisa. A pessoa descobre que há uma conexão,<br />
um nexo profundo entre a aprendizagem<br />
e a realidade, que é o mesmo que entender que<br />
o que eu estudo existe, não é uma invenção ou<br />
uma simples teoria.<br />
Um exemplo foram as aulas para entender<br />
a história do Subúrbio Ferroviário, conforme se<br />
pode ver no texto escrito a partir dessas aulas.<br />
Nós estudamos, lemos alguns textos, etc. Na<br />
hora de verificar a pertinência da realidade com<br />
o tema estudado foi impressionante perceber<br />
como a aprendizagem se torna significativa, isto<br />
é, como passa a ser um patrimônio da pessoa.<br />
Quando fomos visitar o Engenho Freguesia,<br />
em Caboto, ficou evidente que elas aprenderam<br />
a valorizar o subúrbio e, mais do que isso, a<br />
ser uma humanidade que carrega em si o significado<br />
do lugar onde mora. E o significado inclui<br />
o conhecimento do passado, do presente e<br />
das transformações pelas quais esse lugar está<br />
passando.<br />
Essa insistência no aprender é uma característica<br />
quando o professor é visto como o detentor<br />
de um conhecimento maior, cuja tarefa é<br />
abrir horizontes, ajudar os alunos a descobrir o<br />
que há no mundo.<br />
Ou seja, a aula, se é interessante e tocante,<br />
faz com que o outro, que é um sujeito partícipe<br />
da aprendizagem, se mova, busque a si e sua<br />
história em cada coisa que faz. Nesse sentido,<br />
é importante que o elemento aula seja dominado<br />
pelo professor, pelo educador, pois pode acontecer<br />
que, por causa de algumas aulas, a pessoa<br />
esteja ali se refazendo, fazendo-se novamente<br />
em si mesmo.<br />
Por esse motivo a aula deve ser preparada,<br />
estudada, entendida, revisada, etc. É o mínimo<br />
que um professor deve fazer para que haja um<br />
interesse na sala, pois se não há esse antecedente<br />
o momento da aprendizagem torna-se<br />
certamente enfadonho.<br />
É a capacidade de maravilhar-se que toca<br />
o aluno. Se eu não sou provocado a apaixonarme<br />
pelo que faço as coisas saem mecânicas e<br />
sem gosto de uma vida nova, de um novo interesse<br />
pelas coisas. O maravilhamento deve estar<br />
para o professor e para o educador, assim<br />
como o sol está para o dia.<br />
ENCONTROS CULTURAIS COM A<br />
TRADIÇÃO CULTURAL E MUSICAL DA<br />
BAHIA: Riachão, Roberto Mendes,<br />
Jussara Silveira e Zilda Paim<br />
Experiências significativas dentro da educação<br />
em Novos Alagados foram a possibilidade<br />
120 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003