Edição Nº 19 - Uneb
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Práticas pedagógicas, cultura, história e tradição: um relato da experiência educativa em Novos Alagados<br />
na Baía de Itapagipe e subindo pelas entradas das<br />
igrejas de São Brás de Plataforma e de Nossa Senhora<br />
de Escada; dali marcharam para a cidade.<br />
(VILHENA, <strong>19</strong>69, p.264).<br />
O príncipe Maurício de Nassau veio com um<br />
exército e uma armada, mas encontrou, segundo<br />
Brás do Amaral, em seu comentário às cartas de<br />
Vilhena (<strong>19</strong>69, p.264), os fortes existentes na cidade<br />
que foram providentes diante de perigo. Na trincheira<br />
de Santo Antonio Além do Carmo, os holandeses<br />
“Ali assaltaram com furor e dali foram repelidos”.<br />
Em Pirajá aconteceu o cerco aos holandeses,<br />
em 17 de abril de 1638, conforme se pode ver<br />
numa placa comemorativa colocada na igreja de<br />
São Bartolomeu.<br />
Graças a essas tentativas de tomada da Bahia<br />
pelos holandeses é que as fortificações militares<br />
começaram a ser construídas.<br />
Dentro do rio Pirajá existiu o forte de São<br />
Bartolomeu da Passagem, demolido em <strong>19</strong>03,<br />
que também serviu como ponto estratégico de<br />
proteção à cidade.<br />
Vilhena, em suas cartas sobre as fortificações<br />
da Bahia, dá indicações da antiga posição deste<br />
forte, que junto com o de Itapagipe e o de<br />
Montserrat, segundo ele, não conseguiam realizar<br />
a tarefa de proteger a cidade de um ataque<br />
vindo da Praia Grande, por exemplo.<br />
Pirajá e São Bartolomeu<br />
Falar do Parque de São Bartolomeu é falar de<br />
um dos lugares mais belos existentes na Bahia,<br />
e que hoje encontra-se abandonado, sem segurança<br />
e esquecido pelos poderes públicos.<br />
Está localizado “no entorno da Baía de Todos<br />
os Santos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador”,<br />
faz parte do Parque Metropolitano de Pirajá, é um<br />
dos últimos remanescentes de Mata Atlântica que<br />
há no Brasil e é o único lugar dentro da Cidade do<br />
Salvador a guardar cachoeiras no seu âmbito. (SAN-<br />
TOS, 2002, p.131-146).<br />
O parque de São Bartolomeu tem uma grande<br />
riqueza histórico-cultural, uma grande reserva de<br />
Mata Atlântica, com 1.550 hectares de florestas,<br />
com manguezal, cachoeiras, pedras, ruínas, marcas<br />
de tiros de canhões das lutas pela Independência<br />
da Bahia e da Sabinada.<br />
É espantosa em São Bartolomeu a grande<br />
biodiversidade existente, assim como os sítios<br />
históricos nunca estudados, as lendas, as inscrições<br />
lapidares incrustadas nas pedras referentes<br />
aos milagres do santo protetor. Há a presença<br />
forte também do candomblé com suas oferendas<br />
e ritos, que valoriza toda a geografia e a natureza<br />
do parque, com suas cachoeiras, bacias, mangue<br />
e a floresta.<br />
Existem, logo no início do Parque, duas cachoeiras:<br />
a de Oxum e a de Nanã, que são as quedas<br />
do riacho Mané Dendê que nasce no Rio Sena.<br />
Infelizmente as duas belas cachoeiras estão poluídas<br />
e caem com um mau cheiro insuportável.<br />
Adentrando a trilha feita de cimento, temos a<br />
belíssima Cachoeira de Oxumaré, que nasce dentro<br />
do parque e deságua numa queda de 10<br />
metros de altura, de água limpa. Ocorrem nessa<br />
cachoeira muitos ritos ligados ao candomblé, e<br />
existem também lendas referentes ao arco-íris<br />
que aparece aos banhistas.<br />
Mais à frente e acima há uma outra cachoeira,<br />
a do Cobre, hoje inacessível devido à falta de segurança,<br />
com a água que vem da barragem do<br />
Cobre, antigamente utilizada para tomar banhos.<br />
Um lugar deslumbrante que descobrimos em<br />
meio às últimas visitas com os alunos do Centro<br />
Educativo João Paulo II, por ocasião das comemorações<br />
referentes à primavera.<br />
A história<br />
Nas matas de São Bartolomeu e Pirajá viveram<br />
os Tupinambá, conforme vimos. Também<br />
existiu ali um quilombo, o Quilombo dos Urubus,<br />
no qual 50 negros foram mortos depois da luta<br />
pela independência da Bahia, em 1826. Ele era<br />
chefiado por uma mulher, Zeferina. Conforme afirma<br />
Abdias do Nascimento (<strong>19</strong>80, p.52, apud<br />
SERPA, <strong>19</strong>98, p.68):<br />
... no ano de 1826 os escravos rebelados estabeleceram<br />
quilombo nas matas do Urubu, perto da capital<br />
da Bahia, cujas atividades agressivas contra a estrutura<br />
dominante provocaram sua destruição seguida<br />
de grande número de prisioneiros quilombolas,<br />
dentre estes a escrava Zeferina que valentemente<br />
manejou o arco e a flecha, lutou com denodo antes<br />
de ser capturada.<br />
Ao lado das cachoeiras de Nanã e Oxum existem<br />
as ruínas possivelmente de um engenho de<br />
açúcar dos Jesuítas que existiu naquela área no<br />
inicio da colonização da Bahia, nas primeiras reduções<br />
desta ordem religiosa em terras brasileiras.<br />
Essas ruínas jamais foram pesquisadas, o<br />
que mostra o mais completo abandono que há<br />
com a história do local.<br />
126 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003