Edição Nº 19 - Uneb
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A (re)construção da identidade étnica afro-descendente a partir de uma proposta alternativa de educação pluricultural<br />
a profissão escolhida por ela. Além disso, seu<br />
interesse aumentou significativamente por se<br />
tratar de um curso que seria realizado dentro<br />
uma nova modalidade, numa perspectiva étnico-africana.<br />
Embora já tivesse participado de<br />
um curso anterior de corte e costura, desejou<br />
reforçar seu aprendizado através deste curso<br />
patrocinado pelo CONGO-CENTRO MÉDI-<br />
CO SOCIAL.<br />
Nidiane tem consciência da importância de<br />
ampliar e melhorar seus conhecimentos e experiência<br />
na área que escolheu como profissão.<br />
Reconhece a excelência da oportunidade<br />
que tinha diante de si naquele momento, pois<br />
aquele curso iria prepará-la para o ingresso no<br />
mercado de trabalho. Assim ela se expressou a<br />
respeito:<br />
– O espaço de trabalho lá fora está muito difícil...<br />
está difícil encontrar algum espaçozinho, alguma<br />
vaguinha, alguma empresa...estou me preparando<br />
para entrar neste mercado... preciso estar<br />
pronta para enfrentar as condições lá fora... tudo<br />
que aprendi foi muito bom... muito importante...<br />
tudo ajudou muito na minha formação...<br />
Dentre as coisas importantes que Nidiane<br />
aprendeu ela destaca:<br />
– Ter postura, postura no trabalho, lá fora... saber<br />
como conversar... saber como conversar com<br />
as pessoas... como se comunicar com elas lá fora,<br />
tudo isso...<br />
Nidiane teve, também, aulas de etnia, microempreendimento,<br />
Língua Portuguesa, recursos<br />
humanos e cidadania, conhecimentos que muito<br />
contribuíram para reforçar o seu aprendizado.<br />
Etnia, para ela:<br />
– É raça... o que é raça?... o que é ter cultura?... é<br />
tudo isso que a gente está fazendo, o que está<br />
produzindo... tudo isso tem a ver com etnia... e,<br />
dentro da etnia, tem isso tudo que a gente está<br />
produzindo... o que é a raça africana, a cultura da<br />
África... como eles produziam... como a produção<br />
deles veio para cá, para o Brasil...<br />
Nidiane percebe aspectos da cultura africana<br />
através da atividade estética na qual ela está<br />
inserida. Para ela, a valorização da cultura negro-africana<br />
“veio através da beleza negra”:<br />
– Veio de lá para cá, mas aqui ninguém usa este<br />
tipo de roupa que a gente está produzindo... não<br />
usa, mas a gente está produzindo para que ela<br />
venha se espalhar - essa beleza negra - para que<br />
o povo venha ver que não só existe uma raça,<br />
existem várias, principalmente a negra...<br />
O curso ajudou Nidiane a construir uma identidade<br />
cidadã, ao trabalhar questões que envolvem<br />
uma sociedade que, apesar de dita democrática,<br />
ainda é promotora de muitas exclusões,<br />
desigualdades, estratificações e discriminações.<br />
No contexto do curso foram discutidas as principais<br />
questões sociais e raciais que envolvem<br />
as situações de racismo e discriminação racial,<br />
provocadoras da intolerância racial estrutural<br />
que envolve marcadamente nossa história.<br />
Assim nossa depoente define cidadania:<br />
– É ter direitos e deveres de cidadão... ter direitos<br />
e deveres, isso, sim!... o direito de ir e o direito<br />
de vir, também... o direito de ter uma empresa<br />
para si, uma empresa só sua... eu tenho esse direito...<br />
mas, basta o que?... Meu esforço!.... Meu<br />
dever é praticar e lutar para que eu venha a ter<br />
esse direito...<br />
Além de encarar o curso como um meio para<br />
adquirir conhecimentos práticos para ser uma<br />
“grande costureira”, o curso também ofereceu<br />
a Nidiane outros conhecimentos, que lhe permitiram<br />
conhecer um novo contexto, o étnicocultural,<br />
até então pouco conhecido por ela.<br />
Com muito entusiasmo e envolvimento Nidiane<br />
afirma:<br />
– Tudo que aprendi no curso tem a ver com<br />
minha raça....minha raça é negra, então, costura<br />
étnica faz parte de mim... tem um pedaço de mim...<br />
então, para me completar, gostei de ter juntado<br />
eu e o curso...<br />
Percebemos, através da fala da nossa entrevistada,<br />
que a raça, dentre outros elementos<br />
da cultura, como a religião e a língua, “tem mais<br />
força que outros possíveis fatores da identidade<br />
étnica” (D’ADESKY, 2001, p.44).<br />
Ao falar sobre etnia, Nidiane assim se pronuncia:<br />
– Essa parte – etnia – foi o que me chamou mais<br />
atenção... eu já tinha tomado outro curso de corte<br />
e costura... mas no outro curso só ensinaram a<br />
cortar e costurar... foi uma pena... a etnia não<br />
estava incluída e daí acho que foi muito bonito<br />
este curso de corte e costura étnica...<br />
92 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 81-98, jan./jun., 2003