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Edição Nº 19 - Uneb

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José Manuel Gonçalves<br />

tório da OCDE, nesta matéria, divulgado em<br />

junho de 2002. Ainda assim, os níveis foram<br />

superiores a 350 bilhões de USD para 2001, no<br />

conjunto da OCDE, a maior parte dos quais de<br />

apoio aos produtores no que toca a preços.<br />

Dois aspectos favoráveis, porém, são importantes<br />

pelo menos para os países beneficiados.<br />

Trata-se do importante crescimento do México<br />

– hoje a maior economia latino-americana – em<br />

grande medida graças à NAFTA e o aumento,<br />

em cerca de 50%, nas exportações da África<br />

do Sul para a União Européia, em 2000 e 2001,<br />

como resultado do Acordo de Livre Comércio<br />

entre ambos.<br />

No Atlântico Sul, o fato mais marcante, desde<br />

final de 2001 a final de 2002, foi a crise argentina.<br />

A imagem deste país como tendo uma<br />

economia problemática, mas articulada e com<br />

bom nível de responsabilidade governativa, desapareceu<br />

e passou a fazer parte dos países do<br />

Terceiro Mundo, altamente problemáticos, mesmo<br />

quando no primeiro trimestre de 2003 deu<br />

sinais de recuperação.<br />

A situação da moeda argentina foi fortemente<br />

abalada e, durante meses, ficou pior que a da<br />

moeda do Brasil, tão criticada nos anos noventa<br />

por Domingo Cavallo. Com o “corralito”<br />

(blocagem de levantamento de depósitos a prazo)<br />

seu sistema bancário perdeu credibilidade<br />

interna e internacional. Como efeito de seu enfraquecimento,<br />

o país foi muito pressionado pelo<br />

FMI, que procura restabelecer seus paradigmas<br />

e autoridade à escala dos países sub-desenvolvidos.<br />

A crise provocou uma brusca mudança de<br />

Presidência da Republica e sucessivas mudanças<br />

nos ministérios mais ligados à economia,<br />

enquanto se manifesta um importante movimento<br />

social, com potencial para impor mudanças.<br />

Perspectivas de crescimento, ainda que modesto,<br />

inverteram-se: o PIB acusou em 2002, segundo<br />

dados do INDEC (2003), uma perda de<br />

10%, situando o mesmo em cerca de 93 bilhões<br />

de USD ao câmbio do começo de 2003.<br />

As incertezas do comportamento do sistema<br />

bancário e a redução do poder de compra,<br />

tanto dos consumidores como das empresas,<br />

reduzem em cerca de 59% as importações procedentes<br />

do Brasil (segundo dados oficiais citados<br />

na mídia brasileira), diminuindo o impacto<br />

do Mercosul no plano das trocas.<br />

No plano dos posicionamentos, no entanto,<br />

a crise argentina reforçou a solidariedade entre<br />

os membros do Mercosul, quase não se assistindo<br />

mais a troca de críticas entre entidades<br />

oficiais do Brasil e Argentina, como tem sido<br />

comum e como foi constante no final da década<br />

de noventa.<br />

A questão principal neste momento é avaliar<br />

até que ponto a crise argentina vulnerabiliza<br />

mais os países do Mercosul nas negociações<br />

para configurar a ALCA, nas quais o Brasil<br />

continua insistindo em bloco de garantias para<br />

não acentuar desequilíbrios com a economia dos<br />

Estados Unidos.<br />

O Brasil absorveu relativamente bem a crise<br />

do Real de <strong>19</strong>99, manteve baixas taxas de<br />

inflação e permaneceu como um dos maiores<br />

destinos no Sul para Investimento Direto Estrangeiro<br />

(IDE), mas não reduziu significativamente<br />

as taxas de desemprego nem as elevadas<br />

faixas de pobreza, o que retira a sustentabilidade<br />

do modelo.<br />

Para acentuar este elemento, no começo de<br />

2002 tornou-se evidente que a elevada dívida<br />

interna do governo federal reduzia o interesse<br />

do mercado pelos títulos da dívida publica, o que<br />

provocou surtos de subida do dólar e oscilações<br />

em baixa da bolsa. As particularidades da campanha<br />

pré-eleitoral para a Presidência foram,<br />

por seu lado, aproveitadas pelo capital especulativo<br />

para ataques no mercado de câmbios e<br />

no financeiro em geral.<br />

Mesmo assim, o Brasil conseguiu um dos<br />

maiores saldos de sua balança comercial nesse<br />

mesmo ano e uma subida do PIB da ordem de<br />

1,5%, colocando-o em cerca de 388 bilhões de<br />

USD, ao câmbio de final de março de 2003<br />

(IBGE, 2003)<br />

A conjuntura sul-africana se assemelha à do<br />

Brasil, com respeito à inflação relativamente<br />

baixa (pelo menos em termos africanos), no<br />

caráter atraente de alguns setores da economia<br />

do país ao capital internacional e, também,<br />

na persistente blocagem do mercado de trabalho,<br />

portanto, no alto índice de desemprego.<br />

Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 205-212, jan./jun., 2003<br />

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