20.10.2014 Views

Edição Nº 19 - Uneb

Edição Nº 19 - Uneb

Edição Nº 19 - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Práticas pedagógicas, cultura, história e tradição: um relato da experiência educativa em Novos Alagados<br />

Um dos outros meios de transportes utilizados<br />

no Subúrbio era a lancha, que conduzia os<br />

moradores na travessia de Plataforma até a Ribeira,<br />

levando principalmente estudantes e trabalhadores.<br />

Com o crescente abandono da área as<br />

lanchas pararam de funcionar, a estação de Plataforma<br />

foi totalmente depredada e hoje está entregue<br />

aos marginais. Ainda da Ribeira, porém,<br />

pode-se ver a belíssima paisagem de Plataforma,<br />

com suas palmeiras imperiais, símbolos de<br />

ostentação e afinidades com o império, os morros<br />

e outeiros verdejantes, assim como as fábricas<br />

abandonadas da Fagip e Fatbrás. A beleza<br />

deste bairro exemplifica muito bem o verdadeiro<br />

conceito do subúrbio, o que era essa área: um<br />

lugar propício ao descanso, ao viver.<br />

Foi assim que essa territorialidade suburbana<br />

passou a fazer parte de um referencial positivo<br />

para as crianças e os adolescentes de Novos<br />

Alagados que participaram destas atividades.<br />

Houve o desejo de conhecer os primeiros<br />

habitantes da área, a história, os locais e os seus<br />

desdobramentos. Esse conhecimento passou a<br />

oferecer uma perspectiva diversa daquela que<br />

vê o Subúrbio como um lugar sem passado e<br />

abandonado, como podemos verificar nas páginas<br />

de jornais e noticiário televisivos.<br />

O caráter didático dessas descrições quis<br />

apresentar inicialmente uma história do Subúrbio<br />

Ferroviário de Salvador que é negada pelos<br />

livros, e que não leva em conta as transformações<br />

sociais e históricas pelas quais o lugar<br />

passou.<br />

Primeiros habitantes<br />

Conforme vimos, no Subúrbio existiam todas<br />

as condições possíveis e imagináveis para a realização<br />

de uma vida em meio à fartura e à grande<br />

quantidade de comida, água doce, frutos do mar,<br />

caças, enfim, era uma espécie de lugar propício à<br />

moradia por parte dos índios que viviam em busca<br />

de condições necessárias à sobrevivência.<br />

Nos primeiros tempos, antes e durante a descoberta<br />

do Brasil, na colonização, a área do Subúrbio<br />

era habitada pelos índios Tupinambás, do tronco<br />

Tupi, que eram caracterizados por andarem nus,<br />

serem semi-nômades e antropófagos, isto é,<br />

comedores de carne humana, geralmente nas lutas<br />

entre tribos, e que conquistaram todo o litoral.<br />

Graças à sua grande população estavam habitando<br />

também “na Baía de Guanabara, no Rio; no<br />

Capibaribe em Pernambuco e na Baía de Todos<br />

os Santos, na Baía de Aratu, estuário do Rio<br />

Paraguaçu, estuário do Jaguaribe e na enseada<br />

dos Tainheiros e do Cabrito e o rio de Pirajá”<br />

(SAMPAIO, <strong>19</strong>98, p.262 ss).<br />

Eduardo Tourinho, no seu Alma e Corpo da<br />

Bahia, diz que “no Subúrbio havia muitas tabas<br />

tupinambás (...) principalmente no rio da aldeia –<br />

e as de Pirajá, Itacaranha, Pirípirí [sic]” (TOURI-<br />

NHO, <strong>19</strong>53, p.87).<br />

Como se pode ver, os Tupinambás tinham<br />

uma preferência pelo litoral brasileiro, de maneira<br />

que migravam com suas grandes tribos para<br />

lugares de localização e natureza privilegiada<br />

como a área do Subúrbio Ferroviário, onde existia<br />

um ambiente essencial para o desenvolvimento<br />

dos seus costumes, sendo, também, um local<br />

onde superabundavam os fartos alimentos marítimos,<br />

como os frutos do mar, o marisco e os<br />

caranguejos.<br />

Um dos chefes indígenas cujo nome chegou à<br />

nossa época é o chefe Mirangaoba, que era “um<br />

dos principais dos Tupinambá, senhor da aldeia<br />

de São João, no esteiro de Pirajá, na Bahia”, e seu<br />

nome moboy-rangá-oba significa “o manto de figura<br />

de cobra”, vestimenta com a qual o chefe indígena<br />

comparecia às festas e solenidades da tribo.<br />

(TOURINHO, <strong>19</strong>53, p.129)<br />

Os Jesuítas<br />

Juntos com Thomé de Souza, em 29 de março<br />

de 1549, vieram à Bahia os padres da Companhia<br />

de Jesus, dentre eles o padre Manoel da<br />

Nóbrega, chamados de Jesuítas, ordem religiosa<br />

recém fundada por Ignácio de Loyola, com a responsabilidade<br />

de catequizar os povos das terras<br />

recém descobertas no expansionismo lusitano.<br />

(CARVALHO, <strong>19</strong>98, p.37 ss.)<br />

É muito forte a presença desses homens na<br />

fundação do Brasil e não se pode pensar os primeiros<br />

anos e décadas da história brasileira, sem<br />

citar figuras importantes dessa ordem que passaram<br />

e fizeram um verdadeiro trabalho de conhecimento<br />

da cultura indígena, assim como a<br />

fundação de colégios para os filhos dos colonos.<br />

Através de toda essa atividade e da ligação com o<br />

centro da ordem em Roma, os Jesuítas prestaram<br />

um enorme serviço à história do Brasil; são<br />

dezenas de cartas que nos permitem recompor o<br />

painel dos primeiros anos da colonização.<br />

124 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!