Edição Nº 19 - Uneb
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Práticas pedagógicas, cultura, história e tradição: um relato da experiência educativa em Novos Alagados<br />
Um dos outros meios de transportes utilizados<br />
no Subúrbio era a lancha, que conduzia os<br />
moradores na travessia de Plataforma até a Ribeira,<br />
levando principalmente estudantes e trabalhadores.<br />
Com o crescente abandono da área as<br />
lanchas pararam de funcionar, a estação de Plataforma<br />
foi totalmente depredada e hoje está entregue<br />
aos marginais. Ainda da Ribeira, porém,<br />
pode-se ver a belíssima paisagem de Plataforma,<br />
com suas palmeiras imperiais, símbolos de<br />
ostentação e afinidades com o império, os morros<br />
e outeiros verdejantes, assim como as fábricas<br />
abandonadas da Fagip e Fatbrás. A beleza<br />
deste bairro exemplifica muito bem o verdadeiro<br />
conceito do subúrbio, o que era essa área: um<br />
lugar propício ao descanso, ao viver.<br />
Foi assim que essa territorialidade suburbana<br />
passou a fazer parte de um referencial positivo<br />
para as crianças e os adolescentes de Novos<br />
Alagados que participaram destas atividades.<br />
Houve o desejo de conhecer os primeiros<br />
habitantes da área, a história, os locais e os seus<br />
desdobramentos. Esse conhecimento passou a<br />
oferecer uma perspectiva diversa daquela que<br />
vê o Subúrbio como um lugar sem passado e<br />
abandonado, como podemos verificar nas páginas<br />
de jornais e noticiário televisivos.<br />
O caráter didático dessas descrições quis<br />
apresentar inicialmente uma história do Subúrbio<br />
Ferroviário de Salvador que é negada pelos<br />
livros, e que não leva em conta as transformações<br />
sociais e históricas pelas quais o lugar<br />
passou.<br />
Primeiros habitantes<br />
Conforme vimos, no Subúrbio existiam todas<br />
as condições possíveis e imagináveis para a realização<br />
de uma vida em meio à fartura e à grande<br />
quantidade de comida, água doce, frutos do mar,<br />
caças, enfim, era uma espécie de lugar propício à<br />
moradia por parte dos índios que viviam em busca<br />
de condições necessárias à sobrevivência.<br />
Nos primeiros tempos, antes e durante a descoberta<br />
do Brasil, na colonização, a área do Subúrbio<br />
era habitada pelos índios Tupinambás, do tronco<br />
Tupi, que eram caracterizados por andarem nus,<br />
serem semi-nômades e antropófagos, isto é,<br />
comedores de carne humana, geralmente nas lutas<br />
entre tribos, e que conquistaram todo o litoral.<br />
Graças à sua grande população estavam habitando<br />
também “na Baía de Guanabara, no Rio; no<br />
Capibaribe em Pernambuco e na Baía de Todos<br />
os Santos, na Baía de Aratu, estuário do Rio<br />
Paraguaçu, estuário do Jaguaribe e na enseada<br />
dos Tainheiros e do Cabrito e o rio de Pirajá”<br />
(SAMPAIO, <strong>19</strong>98, p.262 ss).<br />
Eduardo Tourinho, no seu Alma e Corpo da<br />
Bahia, diz que “no Subúrbio havia muitas tabas<br />
tupinambás (...) principalmente no rio da aldeia –<br />
e as de Pirajá, Itacaranha, Pirípirí [sic]” (TOURI-<br />
NHO, <strong>19</strong>53, p.87).<br />
Como se pode ver, os Tupinambás tinham<br />
uma preferência pelo litoral brasileiro, de maneira<br />
que migravam com suas grandes tribos para<br />
lugares de localização e natureza privilegiada<br />
como a área do Subúrbio Ferroviário, onde existia<br />
um ambiente essencial para o desenvolvimento<br />
dos seus costumes, sendo, também, um local<br />
onde superabundavam os fartos alimentos marítimos,<br />
como os frutos do mar, o marisco e os<br />
caranguejos.<br />
Um dos chefes indígenas cujo nome chegou à<br />
nossa época é o chefe Mirangaoba, que era “um<br />
dos principais dos Tupinambá, senhor da aldeia<br />
de São João, no esteiro de Pirajá, na Bahia”, e seu<br />
nome moboy-rangá-oba significa “o manto de figura<br />
de cobra”, vestimenta com a qual o chefe indígena<br />
comparecia às festas e solenidades da tribo.<br />
(TOURINHO, <strong>19</strong>53, p.129)<br />
Os Jesuítas<br />
Juntos com Thomé de Souza, em 29 de março<br />
de 1549, vieram à Bahia os padres da Companhia<br />
de Jesus, dentre eles o padre Manoel da<br />
Nóbrega, chamados de Jesuítas, ordem religiosa<br />
recém fundada por Ignácio de Loyola, com a responsabilidade<br />
de catequizar os povos das terras<br />
recém descobertas no expansionismo lusitano.<br />
(CARVALHO, <strong>19</strong>98, p.37 ss.)<br />
É muito forte a presença desses homens na<br />
fundação do Brasil e não se pode pensar os primeiros<br />
anos e décadas da história brasileira, sem<br />
citar figuras importantes dessa ordem que passaram<br />
e fizeram um verdadeiro trabalho de conhecimento<br />
da cultura indígena, assim como a<br />
fundação de colégios para os filhos dos colonos.<br />
Através de toda essa atividade e da ligação com o<br />
centro da ordem em Roma, os Jesuítas prestaram<br />
um enorme serviço à história do Brasil; são<br />
dezenas de cartas que nos permitem recompor o<br />
painel dos primeiros anos da colonização.<br />
124 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003