Edição Nº 19 - Uneb
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Jaci Maria Ferraz de Menezes<br />
Com esta citação conclui o seu parecer, agregando<br />
seu entendimento de que o ensino,<br />
civilizatório, viria a ser propulsor do trabalho (de<br />
melhor qualidade). Como tal pensa que “este<br />
aceno deveria ajudar a fazer frutificar, no parlamento,<br />
contra os desleixos, os abusos, os preconceitos<br />
e a ignorância que protelam (...) a grande<br />
reforma” – numa referência à Abolição.<br />
C. O Parecer – Projeto sobre a emancipação<br />
gradual do elemento servil<br />
Mas como fazer a Abolição de uma maneira<br />
segura? Como garantir, como diz Macauly,<br />
as pessoas e as suas fazendas? É na análise do<br />
terceiro documento, o Parecer sobre a emancipação<br />
gradual, que se completa a visão sobre a<br />
estratégia de inclusão gradual dos ex-escravos<br />
à cidadania brasileira expresso por Rui Barbosa<br />
(BARBOSA, <strong>19</strong>88). O parecer 48-A , elaborado<br />
em 1884, está na origem da Lei dos<br />
Sexagenários, aprovada em 1885 com modificações<br />
no projeto inicial. Extenso, argumentativo,<br />
erudito, o parecer atende ao que Rui<br />
Barbosa denomina “chamar a sí” o problema<br />
da escravidão.<br />
O centro da sua argumentação é de que a<br />
escravidão deve se extinguir, ou seja, acabar<br />
por si, e veremos como constrói sua argumentação<br />
neste sentido, por um lado discutindo e<br />
negando a realidade do direito “natural” de propriedade<br />
do senhor sobre o escravo como sendo<br />
um direito individual e, portanto, advogando<br />
que o Estado deve intervir para sua extinção: o<br />
que é estabelecido por lei, por ela pode ser<br />
modificado; nestes casos, não cabe o laissez<br />
faire, cabendo ao Estado fixar o que é justo ou<br />
injusto. De outro, trata de fazer o convencimento<br />
da necessidade da reforma, da impossibilidade<br />
de adiá-la e busca combater o medo do futuro.<br />
O Projeto propõe a extinção da escravidão<br />
através de dois mecanismos: a colocação de<br />
uma idade limite para a escravidão, no caso os<br />
60 anos de idade, quando se daria a libertação<br />
sem indenização ao proprietário; e a perda paulatina<br />
de valor do escravo de acordo com os<br />
anos de idade, de modo que, até 1898, se extinguiria<br />
a escravidão, mesmo com os últimos escravos<br />
estando com cerca de 30 anos. Para<br />
tanto, propõe reforçar o Fundo de Emancipação<br />
e acelerar os mecanismos para incentivar<br />
o dono de escravos a alforriá-los. Agrega, como<br />
veremos, uma série de mecanismos para obrigar<br />
o escravo liberto a continuar a trabalhar no<br />
local onde antes trabalhava ou nas suas cercanias.<br />
Não é aprovado o projeto, em especial por<br />
conta da não indenização do escravo sexagenário<br />
libertado.<br />
Mas o que nos interessa é entender o raciocínio<br />
e a estratégia de Rui Barbosa. São os seguintes<br />
os pontos que queremos destacar:<br />
1. A sua argumentação sobre a necessidade<br />
da Reforma:<br />
Não adianta opor um nome (socialismo) à reforma.<br />
A iniqüidade do cativeiro, uma vez tocada,<br />
não se sustenta mais - os alicerces vacilam. Para<br />
que não desabe o edifício, o meio de agüentá-lo<br />
temporariamente será aliviá-lo, com prudência e<br />
oportunidade, da carga que ameaça desabar.<br />
Melhores amigos... são os promotores da reforma<br />
que os pregadores da imobilidade. A imobilidade<br />
é a ruína, a reforma é a transição, não sem<br />
contratempos e dissabores, mas ao menos sem<br />
catástrofes, misérias e desmoronamentos. (p.717)<br />
No entanto, reafirma, a estratégia é prudente,<br />
cuidadosa:<br />
Queremos discutir a escravidão como um fato<br />
passageiro, a cuja supressão radical e instantânea<br />
não nos atrevemos, por considerações de<br />
prudência, de economia política, de ordem social.<br />
(...) No entanto, a reação chama de roubo o que<br />
é prudência. A resistência atiça o incêndio. (...)<br />
Cabe ao governo tomar a sí o problema e por<br />
termo à ansiedade de todos. Esperar é prudente,<br />
contanto que se espere alguma coisa. Esperar<br />
por esperar... Não adianta esperar a anuência<br />
geral de todos os proprietários. (p. 780; 781; 789)<br />
2. Outro bloco de argumentação, neste processo<br />
de convencimento da necessidade de<br />
encontrar o caminho para a “reforma com prudência,<br />
sem catástrofes”, é a demonstração<br />
de que não há riscos, não há perigo na extinção<br />
da escravidão. Nem do ponto de vista econômico<br />
– porque a implantação do trabalho livre<br />
daria conta da necessidade de mão-de-obra, do<br />
mesmo modo como se havia passado em todo<br />
o mundo, assim como pela tomada de medidas<br />
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. <strong>19</strong>-40, jan./jun., 2003<br />
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