Edição Nº 19 - Uneb
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José Manuel Gonçalves<br />
igualdade com os norte-americanos. A África do<br />
Sul representa 10,2% das importações angolanas<br />
(EIU, 2001), o que constitui um dos raros<br />
casos de elevado reforço de relações comerciais<br />
na zona SADC e, de certa maneira, reduz os<br />
efeitos da queda nas relações sul-africanas com<br />
o Zimbabwe, em virtude da crise neste país.<br />
A este volume, aliás, deve somar-se o<br />
comércio através da fronteira de Angola com a<br />
Namíbia, sobretudo na área do Cunene, com<br />
grande impacto no Sudoeste angolano. Grande<br />
parte do movimento é informal o que dificulta a<br />
recolha estatística. A maioria dos produtos é de<br />
origem sul-africana, comercializados por empresas<br />
namibianas, muitas vezes filiais de matrizes<br />
da África do Sul<br />
A subida dos preços do petróleo em 2003<br />
deve permitir que o PIB angolano atinja os 10<br />
bilhões de USD até final do ano, com base nos<br />
dados sobre o PIB em 2002 publicados pelo<br />
Banco Mundial (WORLD BANK, 2002)<br />
Mas o fato mais relevante é o fim da longa<br />
guerra civil e as fracas possibilidades de que<br />
possa recomeçar, como ocorreu em <strong>19</strong>92. Apesar<br />
disso, os efeitos do conflito exigem tempo<br />
para serem superados e, por exemplo, quase<br />
três milhões de pessoas continuam na situação<br />
de deslocadas.<br />
A corrupção, problema grave nos quatro países,<br />
assume em Angola aspectos mais repugnantes,<br />
dada a escala da pobreza. O fim da guerra<br />
já produziu algumas aberturas que autorizam uma<br />
abordagem publica mais livre e implicando prestação<br />
de contas.<br />
Consultas internacionais decorrem desde<br />
março de 2002 para convocar uma conferência<br />
internacional financeira, de onde possa sair<br />
apoio às intenções angolanas de reconstrução<br />
e, neste quadro, há indicações de empenho por<br />
parte do Brasil que reabriu sua linha de crédito<br />
com Angola e que vai recebendo carregamentos<br />
de petróleo para amortizar a dívida angolana<br />
anterior.<br />
Esta linha de crédito é, aliás, responsável pela<br />
reativação do comércio entre os dois países,<br />
colocando o Brasil em quinto lugar na lista das<br />
importações angolanas, com 4,4% do total em<br />
2000 (EIU, 2001).<br />
No começo do segundo semestre de 2002,<br />
Angola e Uruguai assinaram um acordo de cooperação<br />
agrícola.<br />
As relações econômicas entre os dois países<br />
africanos e os dois sul-americanos, considerados<br />
neste trabalho, aumentaram nos três<br />
últimos anos tendo o Brasil como ponto fulcral.<br />
São as trocas entre Brasil e África do Sul e<br />
Brasil e Angola que determinam a evolução, que<br />
se processa agora num marco institucional um<br />
pouco diferente do século XX e com tendência<br />
para se modificar mais ainda.<br />
Na reunião de Cúpula do Mercosul de 2000<br />
em Florianópolis, o Presidente sul-africano<br />
Thabo Mbeki esteve presente e foi assinado um<br />
acordo para negociações sobre a criação de<br />
uma zona de livre comércio entre ambos. Embora<br />
tal acordo se destine apenas a promover<br />
negociações, sua existência e a realização (durante<br />
a visita de Mbeki) de uma compra importante<br />
de aviões brasileiros, por uma empresa<br />
da África do Sul, funcionaram como ponto de<br />
partida para aumento das trocas.<br />
Em 2001, o Presidente moçambicano, Joaquim<br />
Chissano, na qualidade de Presidente da<br />
SADC esteve na reunião do Mercosul em<br />
Assunção, Paraguai. Meses mais tarde, o Chefe<br />
de Estado angolano, José Eduardo dos Santos,<br />
visitou uma vez mais o Brasil, em termos<br />
bilaterais, num momento em que também aumentavam,<br />
percentualmente, as trocas entre os<br />
dois países.<br />
O primeiro passo concreto das negociações<br />
Mercosul-África do Sul foi a elaboração de uma<br />
lista de produtos a isentar de direitos aduaneiros,<br />
submetida pelos sul-americanos e que deve<br />
ter resposta sul-africana em data próxima à<br />
redação deste artigo.<br />
Progressos deste tipo provocaram reações<br />
várias, entre as quais o aumento do interesse<br />
entre diversas empresas de ambos os lados do<br />
Atlântico e algumas reclamações de proteção<br />
no caso de assinatura do acordo formal.<br />
Neste caso, foi bastante noticiada, em finais<br />
de maio de 2002, a declaração da entidade sulafricana<br />
de produção e comercialização de<br />
frangos, sublinhando a fatia de mercado da<br />
África do Sul já ocupada pelo frango brasileiro<br />
e receando seu aumento esmagador.<br />
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 205-212, jan./jun., 2003<br />
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