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Edição Nº 19 - Uneb

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Narcimária Correia do Patrocínio Luz<br />

utiliza uma política de denegação aos valores<br />

originários da tradição africana. Os orixá do Panteão<br />

da Terra são os que nos alimentam e nos<br />

ajudam a manter a vida. Os meus trabalhos<br />

estão inspirados na natureza, na Mãe Terra-<br />

Lama, representada pelo orixá Nanã, patrona<br />

da agricultura. (Mestre Didi). (Vide Foto 3).<br />

Toda a expressão estética de Mestre Didi<br />

faz transbordar a linguagem mítica, emocionando<br />

e encantando aqueles que se põem a observar<br />

suas obras, aproximando-os dos códigos e<br />

repertórios do universo milenar africano.<br />

Numa poderosa linguagem suas obras contribuem<br />

para atualizar a visão de mundo, herdada e<br />

reelaborada, expandindo-se para fora de sua comunidade<br />

inicial, universalizando-se. Resultado<br />

de antigas memórias introjetadas milenarmente,<br />

vivenciadas - experiência existencial – Mestre<br />

Didi conduz com originalidade a continuidade<br />

emocional do complexo africano<br />

brasileiro, permeandoo<br />

e renovando-o com singularidade.<br />

As obras de Mestre<br />

Didi estão imbuídas de<br />

uma consciência, incorporada<br />

quase que geneticamente,<br />

da relação do homem com<br />

a Terra. Ao assumir a experiência<br />

ancestral de sua comunidade,<br />

recriando-a, sua<br />

alma transmite um sentimento<br />

de atemporalidade quando<br />

presentifica a anterioridade<br />

de origem unida do vital<br />

impulso de constante regeneração”<br />

(SANTOS, <strong>19</strong>85,<br />

Prefácio).<br />

Diante da plasticidade<br />

das esculturas do Mestre<br />

Didi, o observador é transportado<br />

para um outro universo<br />

de percepção que rompe com o olhar matemático<br />

que tende a enxergar apenas cores,<br />

formas e matérias objetivas.<br />

O impacto da linguagem plástica das esculturas<br />

permite acesso “... às subjacências absolutas<br />

do religare: homem, cosmos, homem e<br />

natureza, homem e estrutura comunitária, homem<br />

e linhagem, dinastia, ancestralidade, homem<br />

e continuidade existencial”. (SANTOS,<br />

<strong>19</strong>85, p.14).<br />

A estética do sagrado do Mestre Didi emana<br />

poesia mítica, plena de arkhé, eidos, e ethos<br />

fundamentais à constituição da episteme africana.<br />

Tudo isso é poesia! É essa linguagem que<br />

falta à nossa educação escolar.<br />

É com essa linguagem poética, emocionallúcida,<br />

rica em afetividade portadora do conhe-<br />

Foto 3 – XARARÁ – Cetro reunindo<br />

os símbolos do panteão da<br />

Terra / Nervura de palmeira, couro,<br />

búzios, contas e miçangas. Altura:<br />

72 cm. (Esta foto foi autorizada<br />

pelo autor da escultura,<br />

Deóscoredes Maximiliano dos<br />

Santos - Mestre Didi).<br />

Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 61-80, jan./jun., 2003<br />

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