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Edição Nº 19 - Uneb

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Do monopólio da fala sobre educação à poesia mítica africano-brasileira<br />

Orumilá, princípio de sabedoria de todo o<br />

universo, é responsável pela consulta ao oráculo<br />

mediador entre aiyê e orun, obtendo orientações<br />

para abrir os caminhos.<br />

É assim que, através da Chuva dos Poderes,<br />

cada Orixá adquiriu características originais:<br />

Exu ficou com toda mobilização do sistema<br />

existencial, conduzindo oferenda, mensagens,<br />

mediante a comunicação entre os Orixá e os<br />

seres humanos e até com Olorum.<br />

Ogum, princípio que reúne a força das pedras<br />

e do ferro, é referência das ferramentas,<br />

armas, guerreiros.<br />

Ossayin princípio das folhas, ervas, farmacologia.<br />

Xangô adquiriu o poder do fogo e do trovão<br />

e representa a realeza, a dinastia, as linhagens.<br />

Oxum, princípio das águas doces, é responsável<br />

pelo fluxo menstrual, da maternidade, dos<br />

nascituros.<br />

Nanã, princípio da lama, fecundidade, dialética<br />

da vida e da morte, é patrona da agricultura.<br />

São alguns exemplos de poderes alcançados<br />

pelos orixá, estabelecendo a harmonia no<br />

universo e demonstrando a capacidade interdinâmica<br />

desses poderes.<br />

O conto realça a importância dos Orixá no<br />

panteão ético-estético do universo sagrado africano.<br />

Todo o poder dos Orixá vem da força de<br />

Olorum, expressa através da natureza, água,<br />

floresta, fogo, ar, terra... É desse universo simbólico<br />

que as comunalidades se organizam, estabelecem<br />

instituições e toda conduta emocional-cognitiva<br />

que regula o estar no mundo.<br />

A INFINITUDE DA DIVERSIDADE<br />

Certa vez, na Mini Comunidade Oba Biyi,<br />

primeira experiência de educação pluricultural no<br />

Brasil, uma professora apresentou o globo terrestre<br />

para as crianças dizendo-lhes: “Isso aqui<br />

é o mundo”. Imediatamente, as crianças responderam<br />

admiradas, surpresas e perplexas com a<br />

“verdade” da professora: “Isso é o mundo?”<br />

É essa perplexidade que, todo o tempo, procuramos<br />

imprimir nas contribuições reunidas<br />

neste ensaio – a ruptura com o olhar universal<br />

de Édipo: a dúvida diante de verdades apresentadas<br />

como inquestionáveis, irreversíveis, absolutas.<br />

Relativizar deve ser a meta dos analistas<br />

simbólicos diante dos desafios que nos levam à<br />

leitura do mundo.<br />

A compreensão sobre Pluralidade Cultural,<br />

ou, como preferimos, Diversidade Cultural, não<br />

pode ser finita, mensurável, submetida à taxionomia<br />

cartorial burocrática que a reduz ao confinamento<br />

da bacia semântica erigida pela onipotência<br />

edipiana da episteme ocidental. Precisamos<br />

conceber uma abordagem de Educação que<br />

acolha os múltiplos universos.<br />

Os Universos!<br />

Múltiplos, alternativos, complementares, todos em mim.<br />

E quantos outros, ainda por incorporar viver<br />

viver neles, entre eles, nos interstícios do preformado:<br />

etnia, grupo, família<br />

Interstícios-poentes em meio dos específicos<br />

Pressionada e pressionando aberturas, espaços ricos,<br />

de inconscientes outros que não apenas os da<br />

história limitada de meus próprios ancestrais (...)<br />

Por que não?<br />

sonhar com outros símbolos, ter premonições,<br />

e abalar os próprios limites de um inconsciente<br />

ou um superego herdados contextuais,<br />

quem nem sequer foram por mim escolhidos,<br />

nem mesmo consentidos<br />

78 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 61-80, jan./jun., 2003

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