Edição Nº 19 - Uneb
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Odemodé egbé asipá: para além do “ensino da história e cultura afro-brasileira”<br />
E assim chegaram ao topo da ladeira onde Tio Ajayi fez sinal para que<br />
todos sentassem, a fim de descansar um pouco cantou:<br />
‘Ekú, Jokó (solo) Tabará, tabará!<br />
Tin Tin Jaká! (solo)<br />
Tabará, tabará (solo)<br />
Tabará, tabará’<br />
Já iam começar a jornada quando um carneiro berrou e uma criança<br />
chorou. Tio Ajayi atento, cantou :<br />
‘O carnero berrô...(solo)<br />
bereré (coro)<br />
o menino chorô (solo)<br />
bereré (coro)<br />
Tio Ajayi declarou:<br />
Meus irmãos, de agora em diante, estamos livres, não só dos soldados<br />
que nos perseguiam, como também dos senhores e do cativeiro que nos era<br />
dado.<br />
Olorum ati awon orixá da fé awon gbogbo (Deus e que todos os orixás<br />
abençoem a todos). (grifos meus)<br />
A partir da dramatização, o professor Marco<br />
Aurélio Luz explorou uma diversidade de aspectos<br />
que abordavam a História, a Geografia,<br />
a estética e a ética, proporcionando vários desdobramentos.<br />
Essa história, além de fortalecer as identidades<br />
culturais, proporciona dignidade e afirmação<br />
para os jovens, pois a abordagem do<br />
conto transcende a identidade de escravo, tão<br />
exaltada pela historiografia oficial.<br />
O Projeto Odemodé pode ser considerado<br />
como um marco entre as realizações na área<br />
de Educação Pluricultural, pois nasce a partir<br />
da referência de ancestralidade do grupo de<br />
jovens pertencentes à comunidade Ilê Asipá.<br />
Ele recria uma linguagem capaz de fortalecer<br />
as identidades culturais, na transmissão de valores<br />
de um patrimônio civilizatório milenar para<br />
novas gerações, contemplando as afirmação<br />
existencial e das identidades dos jovens envolvidos.<br />
As formas de comunicação tão originais e<br />
sublimes podem inspirar políticas curriculares<br />
que realmente contemplem o direito à alteridade<br />
da população de origem africana à mercê das<br />
políticas recalcadoras da educação brasileira.<br />
4. Conclusão<br />
Iniciei essa abordagem com a música Alabê.<br />
Para concluir, quero reafirmar a importância<br />
dessa música, como ilustração da necessidade<br />
de os projetos, currículos e políticas educacionais<br />
no Brasil estarem voltados para a afirmação<br />
da nossa diversidade cultural e do direito à<br />
alteridade própria da população afro-descendente.<br />
Muitos currículos no Brasil, a partir de agora,<br />
começarão a inserir a temática “História e<br />
Cultura dos Afro-descendentes” em seu escopo<br />
apenas por uma questão de obrigatoriedade<br />
trazida pela Lei.<br />
A proposta pedagógica do Projeto Odemodé<br />
foi capaz da criação de uma linguagem referendada<br />
no contexto da tradição africano-brasileira,<br />
da ancestralidade e de aspectos do<br />
patrimônio civilizatório. Esse projeto concorreu<br />
para a concepção de uma pedagogia capaz de<br />
estruturar as identidades culturais da população<br />
infanto-juvenil, através do ensino da história,<br />
utilizando a referência ancestral.<br />
A afirmação existencial dos jovens da comunidade-terreiro<br />
Ilê Asipá foi a motivação do<br />
Projeto Odemodé Egbé Asipá. Em um país<br />
como o Brasil, cuja pluralidade é imensa, as<br />
possibilidades de criação de currículos signifi-<br />
110 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 99-111, jan./jun., 2003