Edição Nº 19 - Uneb
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Narcimária Correia do Patrocínio Luz<br />
grande espaço aberto, com os olhos dirigidos para onde deveria cair a<br />
chuva dos poderes.<br />
Orumilá deixou cair todos os poderes do mundo, e, assim, foi que<br />
houve uma grande corrida e cada um dos Orixá tratava de pegar alguma<br />
coisa.<br />
Exu era um corredor extremamente rápido e assim ele foi capaz de<br />
conseguir como presente um dos poderes mais importantes do mundo,<br />
que fez dele o dono das encruzilhadas.<br />
Desse dia em diante todo mundo deveria pedir licença a Exu antes<br />
de iniciar alguma viagem ou qualquer projeto. Por isso sabemos que a<br />
personalidade de Exu varia assim como as encruzilhadas, de três a quatro<br />
direções e ele pode escolher a que mais lhe convier.<br />
Assim foi que Xangô também pegou o poder das pedras e do trovão.<br />
Ele se converteu no mais poderoso guerreiro de todos os líderes.<br />
Cada Orixá recebeu o seu presente de acordo com sua habilidade<br />
para poder usar e fazer alguma coisa com sucesso.<br />
E assim todos os Orixá ficaram satisfeitos com seu poder porque<br />
foi o que cada um conseguiu ganhar de acordo com seu merecimento.<br />
Dessa data por diante, cada Orixá ficou com a capacidade para resolver<br />
determinados problemas do mundo, de acordo com o poder que recebeu<br />
do Orun para fazer com que o povo da tradição dos Orixá possa<br />
encontrar em cada um deles uma maneira de resolver seus problemas e<br />
viver com muita paz e harmonia entre os seus semelhantes.<br />
Mais uma vez arkhé, eidos e ethos se intercambiam<br />
influenciando o viver cotidiano e estruturando<br />
a identidade africana. O conto, pleno<br />
de sabedoria, aponta para o infinito de onde<br />
emana a dimensão ontológica da diversidade<br />
humana. A ética estabelecida no contexto do<br />
conto:<br />
... expressa a variedade dos destino, as diferentes<br />
qualidades do axé, força vital, a multiplicidade<br />
da vida e de seu conhecimento. (...) a harmonia<br />
do cosmos se estabelece nesta visão do mundo<br />
através da afirmação da existência da diferença.<br />
A diferença expressa o contraditório, o conflito,<br />
o desconhecido, a complementação, o equilíbrio,<br />
a harmonia e a expansão: Se se pensa nas diferentes<br />
formas de percepção da realidade social e<br />
humana no âmbito do conhecimento ela é um<br />
sistema de nossa característica ontogenética e<br />
cosmogônica. (LUZ, <strong>19</strong>93, p.74)<br />
A fim de compreender melhor o conto, gostaríamos<br />
de realçar algumas características das<br />
personagens que realizam a dinâmica ético-estética<br />
da narrativa de Mestre Didi:<br />
Olorum é a entidade suprema, o detentor de todos<br />
os poderes que tornam possível e regulam a<br />
existência tanto no aiyê – este mundo, como no<br />
Orun – o além. Ele contém os poderes da existência,<br />
da direção e do objetivo. Ele é Alaba, é<br />
axé, aquele que é e possui propósito e poder de<br />
realização. A entidade suprema, origem das origens,<br />
protomatéria espiritual e material de todos<br />
os níveis do existir. (SANTOS, 2000 p.22).<br />
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 61-80, jan./jun., 2003<br />
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