Edição Nº 19 - Uneb
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Práticas pedagógicas, cultura, história e tradição: um relato da experiência educativa em Novos Alagados<br />
QUADRO 1<br />
Sambas de roda do Recôncavo baiano<br />
“O guarda civil não quer<br />
a roupa no quarador (bis)<br />
meu Deus, onde vou quarar<br />
quarar minha roupa?<br />
“É de Deus<br />
É de Deus<br />
É Deus<br />
Essa casa é de Deus”<br />
“Pega na galha do boi,<br />
pega na galha do boi,<br />
ô mulher (bis)”<br />
“A baiana me deu o sinal,<br />
Olerê baiana! (bis)<br />
Baiana me pega, me joga lama,<br />
Eu não sou camarão,<br />
mas o mar me chama,<br />
Olerê, baiana.<br />
A baiana me deu o sinalOlerê baiana.”<br />
“Tava na beira do rio<br />
quando a polícia chegou<br />
vamos acabar com esse samba<br />
que o delegado mandou”<br />
Escolhemos os sambas curtos e começamos<br />
os ensaios, junto com as crianças do Centro.<br />
Foi uma experiência por demais gratificante. Aos<br />
poucos a nossa cultura festeira ressurgia através<br />
da cadência repleta de palmas ritmadas que<br />
dava um brilho especial ao canto.<br />
O samba de roda caracteriza-se, como o próprio<br />
nome diz, por uma roda onde cada um tem a<br />
sua vez de participar, sambando à sua maneira,<br />
sem homologações, enquanto os refrões são cantados<br />
e repetidos. O significado da roda é que o<br />
samba pode ser repetido várias vezes e as pessoas<br />
podem se manifestar sambando dentro de<br />
um círculo contínuo, que não acaba. Os educandos,<br />
no ensaio, batiam palmas com o ímpeto de<br />
não deixar o ritmo cair enquanto as meninas cantavam<br />
os sambas aprendidos.<br />
No dia da apresentação conseguimos um<br />
atabaque, tocado pelo educador de capoeira do<br />
Centro Educativo João Paulo II, e um pandeiro,<br />
que foi tocado pelos educandos, enquanto cada<br />
um ia ao centro da roda e sambava à sua maneira,<br />
numa interessante demonstração de criatividade.<br />
Os sambas falam de fatos corriqueiros e do<br />
dia-a-dia do povo do Recôncavo da Bahia, a<br />
começar por alguns que são os mais bonitos, na<br />
predileção dos alunos, como o samba no Quadro<br />
1.<br />
O interessante é que quando o samba foi<br />
ficando mais intenso, o clima já não era mais o<br />
de uma atividade escolar, mas sim o de um terreiro,<br />
pois essas festas são a celebração da vida,<br />
e sempre acontecem após uma colheita farta<br />
ou uma festa religiosa, como casamento, batizado<br />
ou festa de padroeiros.<br />
Os educandos, que nem sequer têm acesso<br />
a essa cultura tão nossa, a partir dessa atividade<br />
de redescoberta do folclore se interessaram<br />
bastante e muitos pediram cópias das músicas<br />
para guardá-las. Durante os jogos e outros<br />
momentos eles estavam cantando os sambas já<br />
com muita familiaridade, portadores, agora sim,<br />
de sua própria cultura.<br />
Essa atividade foi importante porque é uma<br />
forma criativa de quebrar a homogeneidade das<br />
letras, ritmos e ‘coreografias’ – não sambas –<br />
dos tantos grupos de pagode que povoam as<br />
nossas rádios, que hoje fazem parte da mídia, e<br />
dos quais ninguém pode fugir, pois as crianças<br />
e adultos, vítimas dessa homogeneidade, não<br />
conseguem se expressar, mas somente repetir<br />
o que ouvem e vêem, sem qualquer contribuição<br />
pessoal.<br />
HISTÓRIA DO SUBÚRBIO<br />
FERROVIÁRIO<br />
Estudando, nos anos de 2000 a 2002, a história<br />
do Subúrbio Ferroviário de Salvador, local<br />
onde os educandos habitam, pudemos fazer<br />
várias descobertas interessantes e que possibilitaram<br />
uma nova significação do espaço e do<br />
território suburbano para eles. Essas descobertas<br />
deram-se através de aulas e visitas ao locais,<br />
estudando, fazendo uma ponte entre a teoria<br />
e a prática pedagógica, através do encontro<br />
122 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003