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Edição Nº 19 - Uneb

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José Eduardo Ferreira Santos<br />

com as realidades históricas que aconteceram<br />

nos locais hoje abandonados pelos poderes públicos,<br />

como as áreas verdes, as praias e as<br />

favelas do referido Subúrbio, que guarda em si<br />

muitos séculos de história e monumentos importantes<br />

do Brasil.<br />

A primeira descoberta foi o próprio conceito<br />

de subúrbio como um referencial territorial<br />

positivo, o contrário daquilo que os alunos percebiam.<br />

Depois, a tônica passou a ser de que<br />

os alunos estavam diante de um conhecimento<br />

sobre a sua própria área de existência tendo<br />

consciência da importância do local na história<br />

do Brasil, fato este que pela primeira vez foi<br />

levado adiante num conjunto de aulas e visitas.<br />

Os conceitos de subúrbio e cidade<br />

A noção de subúrbio tem a ver, certamente, com<br />

a própria noção de afastado da cidade: isto é, o<br />

que podemos ver na própria etimologia da palavra<br />

subúrbio, sub urbis, indicando o que está à<br />

margem, fora da urbis, da cidade, que é o lugar do<br />

trabalho, das relações sociais e dos compromissos<br />

da semana.<br />

Isso fica bem claro na concepção sob a qual<br />

foi fundada a cidade do Salvador, com seu entorno<br />

murado na cidade alta, com o centro comercial<br />

abaixo, a alfândega e o porto, e as áreas afastadas<br />

geralmente ficando em lugares aprazíveis,<br />

longe do centro, como era o caso do Rio Vermelho,<br />

Vila Velha e o próprio Subúrbio Ferroviário,<br />

que é um lugar abaixo da cidade, afastado, uma<br />

sub urbis; uma cidade abaixo da cidade.<br />

O subúrbio, em oposição à cidade, era o lugar<br />

do descanso, um ambiente bucólico, de praias, e<br />

o seu “conceito era o do afastado, mas acessível,<br />

mas ao mesmo tempo o do não acessível às categorias<br />

populares …”. (ESPINHEIRA, <strong>19</strong>98, p.23)<br />

Segundo o professor Espinheira (<strong>19</strong>98, p.23),<br />

o Subúrbio Ferroviário “foi um espaço nobre de Salvador,<br />

no tempo em que a cidade ainda não tinha<br />

sofrido as grandes transformações que vieram fazer<br />

dela, nos anos 70”, principalmente com a abertura<br />

das avenidas de vales, que ampliaram o espaço<br />

urbano de Salvador, de forma desordenada.<br />

Para efeito de demarcação de espaço, entendemos<br />

o Subúrbio Ferroviário como uma área<br />

compreendida entre a Calçada, Baixa do Fiscal e<br />

Lobato, até Paripe, São Thomé, que tem esse<br />

nome devido à grande extensão de linha férrea<br />

que corta e contorna os diversos bairros da Avenida<br />

Afrânio Peixoto, nome oficial da via mais conhecida<br />

como Avenida Suburbana, cercados de<br />

belas praias e acidentes geográficos, outrora lugar<br />

de vegetação aprazível, oferecendo boas condições<br />

de vida, contando ainda com a proximidade<br />

do mar, os rios e cachoeiras, a terra boa para<br />

plantar e a fartura de alimentos do mar e das florestas.<br />

Para se chegar ao Subúrbio Ferroviário, mais<br />

ou menos até a década de 60, existiam somente<br />

dois meios: o marítimo (lanchas, barcos e saveiros)<br />

e o ferroviário.<br />

Embarcações de todo o tipo já aportaram nas<br />

praias do Subúrbio Ferroviário, desde as naus e<br />

grandes embarcações até saveiros, lanchas e<br />

pequenos barcos de pescadores.<br />

O trem foi o mais importante meio de transporte<br />

oficial dessa área, muito antes mesmo da construção<br />

da Avenida Suburbana, que só ocorreria na<br />

década de 70. O transporte ferroviário, dentre outras<br />

coisas, representou e contribuiu para o início<br />

de habitações de diversos empregados nas áreas<br />

do Subúrbio, pois os funcionários da antiga LES-<br />

TE moravam nas imediações dos lugares por onde<br />

passavam as linhas férreas.<br />

Antes, o trem ia pela Estrada Velha do Cabrito,<br />

fazendo um contorno pelo São João do Cabrito e<br />

Plataforma. Em <strong>19</strong>52, com a mudança do percurso,<br />

foi construída a Ponte São João. Esse mesmo<br />

trem ia até as cidades do Recôncavo, fazendo,<br />

com isso, um importante intercâmbio cultural,<br />

social e comercial, sendo um momento de crescimento<br />

e desenvolvimento da economia das áreas<br />

interligadas; hoje, após a sua crescente decadência<br />

devido a diversos fatores econômicos, a linha<br />

vai até Paripe, com uns poucos trens mal conservados.<br />

Andar de trem no Subúrbio Ferroviário é fazer<br />

um passeio diante de belezas naturais, pois apesar<br />

de todos os problemas, o Subúrbio ainda preserva<br />

o ambiente agradável de se ver, desde o<br />

mar, as praias, a maré com suas marisqueiras,<br />

as casas, a ponte de ferro, o túnel, enfim, todos os<br />

componentes para uma viagem inesquecível.<br />

Dentre as estações ferroviárias há uma que é<br />

um dos lugares mais bonitos da cidade, que é a<br />

Almeida Brandão com a sua beleza, sua perfeita<br />

implementação paisagística, com algumas belas<br />

palmeiras imperiais, tendo à frente o mar, e mais<br />

ainda uma bela visão da Baía de Itapagipe, Ribeira,<br />

Penha e Bonfim.<br />

Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 113-133, jan./jun., 2003<br />

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