Edição Nº 19 - Uneb
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Odemodé egbé asipá: para além do “ensino da história e cultura afro-brasileira”<br />
Foto 1 – Jovens do Projeto Odemodé<br />
Egbé Asipa na aula de inglês na<br />
UNEB com a professora Christiane<br />
Viens (foto: Léa Austrelina F. Santos).<br />
nasce no contexto de uma comunidade africano-brasileira<br />
que recria, dignifica e irradia, por<br />
meio das relações sócio-comunitárias, o<br />
patrimônio civilizatório africano-brasileiro: a<br />
comunidade-terreiro Ilê Asipá.<br />
A proposta pedagógica do Odemodé foi concebida<br />
por integrantes da comunidade, pessoas<br />
que têm uma grande experiência em Educação<br />
Pluricultural e que fazem parte da hierarquia<br />
da própria comunidade-terreiro, como, por<br />
exemplo, Mestre Didi, fundador da comunidade,<br />
e Juana Elbein dos Santos, etnóloga e membro<br />
da comunidade, pessoas responsáveis pela<br />
primeira experiência desse caráter no Brasil, a<br />
Mini Comunidade Oba Biyi.<br />
A Mini Comunidade Oba Biyi foi uma experiência<br />
pioneira em educação pluricultural no<br />
Brasil, tratando-se de uma iniciativa da comunidade-terreiro<br />
Ilê Axé Opô Afonjá, que se desenvolveu<br />
de <strong>19</strong>76 a <strong>19</strong>86.<br />
Iyá Oba Biyi era o nome sacerdotal de Mãe<br />
Aninha. Eugênia Anna dos Santos era o seu<br />
nome católico. Mãe Aninha teve uma vida social,<br />
política e religiosa importantíssima para a<br />
afirmação dos valores e da religião africana no<br />
Brasil. A Mini Comunidade recebeu esse nome<br />
em sua homenagem e visava atender a um de<br />
seus desejos que ficou expressado numa de suas<br />
frases: “Quero ver nossas crianças de hoje, no<br />
dia de amanhã de anel nos dedos e aos pés de<br />
Xangô”. 7<br />
De anel nos dedos e aos pés de Xangô é a<br />
possibilidade de uma educação em que nossas<br />
crianças aprendam a lidar<br />
com o repertório de códigos<br />
da sociedade europocêntrica,<br />
mas utilizando-os como estratégia<br />
de legitimação da<br />
alteridade civilizatória africana;<br />
no caso, conquistando espaços<br />
institucionais, para neles<br />
fincar, recriar, e expandir,<br />
também o repertório de valores da tradição – a<br />
arkhé africana. (LUZ, 2000, p.161).<br />
Os objetivos principais do Projeto Odemodé<br />
envolviam o fortalecimento da rede de relações<br />
comunitárias onde pulsa a sociabilidade que<br />
caracteriza as identidades dos jovens, aliando a<br />
isso a aquisição de conhecimentos do universo<br />
escolar, especificamente em informática e manutenção<br />
de computadores, áreas indicadas<br />
pelos jovens para obter capacitação profissional.<br />
(Vide Foto 1).<br />
Através da capacitação profissional, procurou-se<br />
fortalecê-los, estimulando o desenvolvimento<br />
de determinadas habilidades para inserção<br />
no mercado de trabalho, mas principalmente<br />
de habilidades que concorressem para a<br />
afirmação dos valores comunitários. O Projeto<br />
Odemodé Egbé Asipá integralizou formas de<br />
comunicação, linguagem e códigos, a partir da<br />
referência ancestral emanada da arkhé civilizatória<br />
da comunidade Ilê Asipá.<br />
O Projeto envolveu jovens de 16 a 21 anos<br />
de idade, num total de 20 adolescentes. Além<br />
de ter a participação dos jovens da comunidade<br />
Ilê Asipá, o Odemodé também conseguiu reunir<br />
jovens de outras comunidades-terreiros como<br />
o Ilê Oxumaré e o Ilê Axé Opô Afonjá, favorecendo<br />
o intercâmbio entre os jovens de comunidades<br />
distintas.<br />
7<br />
A dinâmica curricular da Mini Comunidade Oba Biyi e<br />
seus desdobramentos estão apresentados de uma forma<br />
significativa no livro Abebé: a criação de novos valores<br />
em Educação, de Narcimária C. P. Luz (2000).<br />
106 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 99-111, jan./jun., 2003