Edição Nº 19 - Uneb
Edição Nº 19 - Uneb
Edição Nº 19 - Uneb
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Relações econômicas no Atlântico Sul: evolução no início do século XXI<br />
Este texto faz parte do monitoramento bienal<br />
das relações econômicas no Atlântico Sul, iniciado<br />
com um trabalho relativo aos dois últimos<br />
anos do século XX, compreendendo aqui os dois<br />
primeiros do século XXI.<br />
Trata-se de uma região oceânica, cujos<br />
limites variam consoante os trabalhos. A noção<br />
mais alargada situa todos os territórios africanos<br />
e sul-americanos ao sul do estreito de<br />
Gibraltar. Outros, reduzem para o sul do Trópico<br />
de Câncer ou até para o sul do Equador.<br />
Neste texto, como ponto de partida, abordamos<br />
apenas quatro países dos extremos meridionais<br />
de ambas as margens, mas não temos<br />
nenhuma objeção ao alargamento da base geográfica<br />
de trabalho.<br />
O relacionamento entre as regiões, nesta<br />
área do globo, compreende vários séculos, iniciando-se<br />
com as empresas ibéricas de expansão<br />
marítima e tendo incidido, essencialmente,<br />
no tráfico escravista ao longo de quase três<br />
séculos.<br />
O fim deste período deu lugar a uma fase<br />
de escassos contatos comerciais e até políticos,<br />
mantendo-se, sobretudo entre Brasil e Angola,<br />
o que poderíamos chamar de “momentos<br />
de olhar cultural”.<br />
Na década de sessenta do século XX, as<br />
ditaduras militares do cone sul latino-americano<br />
e o regime de apartheid sul-africano imaginaram<br />
a possibilidade de aliança conservadora,<br />
iniciativa frustrada. Após a guerra das Malvinas,<br />
a ONU lançou o projeto “Zona de Paz e Cooperação<br />
do Atlântico Sul” que reuniu algumas<br />
conferências com vários países de ambas as<br />
margens.<br />
As sucessivas democratizações na América<br />
do Sul e África, as articulações de países do<br />
hemisfério Sul perante a configuração econômica<br />
mundial e iniciativas acadêmicas de conhecimento<br />
recíproco fizeram emergir de novo o<br />
interesse pelo estudo da área e até pela criação<br />
de uma zona de livre comércio na mesma.<br />
De fato, é da problemática geral das integrações<br />
transcontinentais que se trata, em toda<br />
esta pesquisa, abordando uma questão que tem<br />
estado presente, sob diversas formas, ao longo<br />
da História Econômica da Humanidade.<br />
As condições do desenrolar da economia<br />
mundial, no começo do século XXI, tornam a<br />
questão ainda mais presente: as proximidades<br />
geográficas que facilitam as trocas econômicas<br />
– e outras – são hoje muito mais vastas que<br />
no passado, com o progresso dos transportes,<br />
das telecomunicações, da comunicação cultural<br />
e do movimento de capitais.<br />
A situação econômica mundial conhece uma<br />
fase recessiva, desde o começo do século, sobre<br />
a qual a situação política consecutiva aos<br />
atentados de 11 de setembro exerce uma pressão<br />
suplementar.<br />
A conjuntura que se criou dá lugar a três<br />
fenômenos :<br />
– acentua o protecionismo em setores dos<br />
países do Norte – como a industria do aço e<br />
a agricultura;<br />
– aumenta o interesse das grandes potências<br />
pelos países do Sul, no quadro da política<br />
anti-terrorista, mas faz aparecer também<br />
uma postura mais autoritária, se comparada<br />
com final do século passado, em nível do<br />
relacionamento inter-Estados e com o FMI;<br />
– movimentos internacionais de protesto, por<br />
vezes violentos, contra instituições do tipo<br />
FMI, Banco Mundial, OMC, ou mesmo o<br />
Banco Africano de Desenvolvimento e o<br />
Banco Interamericano de Desenvolvimento.<br />
Nestas condições, a arena internacional não<br />
está propícia a acordos capazes de melhorar os<br />
níveis de crescimento dos países do Sul, nem<br />
os termos de equilíbrio na relação Norte-Sul ou<br />
mesmo na relação entre economias emergentes<br />
e economias mais atrasadas.<br />
Este fato, aliás, pode provocar acréscimo e<br />
radicalização das pressões para obter tais alterações<br />
por ruptura.<br />
As barreiras impostas pelos Estados Unidos<br />
às importações de aço foram seguidas por<br />
atitude semelhante da União Européia, provocando<br />
uma prova de força entre ambos, mas<br />
também mais dificuldades para produtores de<br />
aço do Sul, como Brasil, Índia e África do Sul.<br />
No capítulo dos subsídios agrícolas – que<br />
distorcem os preços no mercado mundial em<br />
favor dos países com mais poder financeiro –<br />
eles estão em ligeira redução, segundo o rela-<br />
206 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 205-212, jan./jun., 2003