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Edição Nº 19 - Uneb

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Júlio César Lobo<br />

36. Os sacerdotes dos deuses em todos os outros lugares usam os cabelos<br />

longos: no Egito, eles raspam a cabeça. Em todos os outros lugares, quando<br />

se trata de chorar pelos mortos, os parentes mais próximos raspam as cabeças;<br />

os egípcios têm-nas raspadas em outras ocasiões, mas, depois de uma<br />

morte, deixam crescer seus cabelos e sua barba. Entre todos os outros povos,<br />

os homens vivem separados dos animais; no Egito, eles mantêm seus<br />

animais consigo dentro de suas casas. Os outros povos se alimentam de trigo<br />

e cevada; para os egípcios, a maior humilhação é usar esses grãos; eles<br />

preparam seus alimentos com um grão rústico, chamado espelta, que outras<br />

pessoas chamam de zeia. Eles preparam as massas de que se alimentam com<br />

os pés, mas amassam a argila com as mãos. Os egípcios e os outros povos que<br />

aprenderam o costume com eles são os únicos a praticar a circuncisão. Todos<br />

os homens usam duas peças de roupa, mas as mulheres usam apenas uma.<br />

As argolas e as cordas das velas são presas em todos os outros lugares na<br />

parte externa das embarcações, mas no Egito são presas na parte interna.<br />

Os helenos escrevem e calculam movendo a mão da esquerda para a direita;<br />

os egípcios movem-na da direita para a esquerda...<br />

Heródoto. História, Livro II (Euterpe)<br />

Introdução 1<br />

A par de uma atenção à contextualização,<br />

busca-se aqui, na análise do filme Com as Horas<br />

Contadas, evidenciar determinadas estratégias<br />

narrativas com a finalidade de se discutirem<br />

determinadas questões, a saber:<br />

a) como são construídas caracterizações dos<br />

correspondentes como tradutores culturais;<br />

b) de que modo e em que intensidade determinados<br />

referenciais culturais influenciam no<br />

desempenho dos repórteres; e<br />

c) como alguns aspectos importantes da sua<br />

subjetividade são trabalhados.<br />

Inclui-se também na última indagação acima<br />

a busca de como se manifesta nos correspondentes<br />

a antiga dicotomia presente nos argumentos<br />

cinematográficos: observar ou participar?<br />

Trata-se de uma oposição que, por sinal,<br />

omite em seu primeiro termo as duas outras<br />

fases do processo de conhecimento – o registro<br />

e a análise – e que costuma perseguir repórteres<br />

investigativos em filmes em que o universo<br />

da política é um dos mais relevantes em<br />

sua fatura.<br />

Em geral, com maior ou menor intensidade,<br />

o filme Com as Horas Contadas parece-nos<br />

constituir uma amostra significativa para uma<br />

discussão mais contemporânea em torno desses<br />

tópicos:<br />

a) “o Ocidente não possui mais respostas” (O<br />

Ano em que Vivemos em Perigo - The Year<br />

of Living Dangerously, AUST, <strong>19</strong>83, dirigido<br />

por Peter Weir);<br />

b) o jornalista em estado de crise, solucionada<br />

através de um percurso que culmina ora<br />

numa espécie de redenção, ora em salvação<br />

pessoal, ou na radicalização fatal;<br />

c) a língua do Outro étnico como uma longa<br />

onomatopéia;<br />

d) o vínculo social que se constrói através da<br />

interação; e<br />

e) por último, mas não menos importante, a<br />

configuração de um novo exotismo: à alteridade<br />

étnica dos antagonistas ou coadjuvantes<br />

dos protagonistas se soma, agora, um<br />

nov estereótipo – o que esses filmes entendem<br />

por “fundamentalistas” islâmicos. O filme<br />

em foco é um bom exemplo do que se<br />

1<br />

Diferentes versões desse ensaio foram apresentadas no<br />

IV Lusocom, São Vicente (SP), <strong>19</strong>-22 de abril de 2000, e<br />

no IV Encontro Anual da Sociedade Brasileira de Estudos<br />

de Cinema (Socine), em Florianópolis, Universidade Federal.<br />

de Santa Catarina, 8-11 de novembro de 2000. Agradecemos<br />

os comentários e as sugestões dos presentes a<br />

ambos os eventos.<br />

Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 159-171, jan./jun., 2003<br />

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