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Edição Nº 19 - Uneb

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Antonio Sérgio Alfredo Guimarães<br />

“classe média”, de que falei acima. Como veremos,<br />

essas demandas encontraram respostas<br />

quase que imediatas do sistema político brasileiro,<br />

tanto por parte do governo, quanto por<br />

parte dos políticos, ainda que continue encontrando<br />

fortes resistências da sociedade civil.<br />

Meu objetivo é compreender as razões de reações<br />

tão díspares.<br />

Antes, porém, faz-se necessário uma rápida<br />

apresentação tanto dos problemas educacionais<br />

do país, quanto das medidas que vêm sendo<br />

adotadas pelo governo e pelo sistema político<br />

em geral para contorná-los ou solucioná-los.<br />

A crise educacional brasileira<br />

O fato mais marcante na política educacional<br />

brasileira depois de <strong>19</strong>64, ou seja, depois da<br />

derrota das forças nacionalistas que entretinham<br />

um projeto socialista para o país 5 , foi a estagnação<br />

da rede de ensino público universitário,<br />

conjuntamente com a expansão do ensino privado<br />

em todos os níveis de educação – o elementar,<br />

o médio e o superior 6 . Esse relativo<br />

abandono da educação por parte do estado brasileiro<br />

é parcialmente responsável pelo fato de<br />

que apenas 7,8% da população brasileira de 18<br />

a 24 anos estivesse nas universidades em <strong>19</strong>98<br />

(IBGE/PNAD, apud SAMPAIO; LIMONGI;<br />

TORRES, 2000) 7 .<br />

Deve-se salientar, entretanto, que a solução<br />

dada pelos governos militares ao “problema<br />

educacional” do país não foi alterada pelos quatro<br />

governos democráticos depois de <strong>19</strong>85 (as<br />

administrações Sarney, Collor, Itamar e Fernando<br />

Henrique). A linha mestra continuou sendo<br />

a expansão do sistema superior de educação<br />

privada e a estagnação da rede pública. A rede<br />

privada de ensino superior, que já congregava<br />

59% dos alunos, em <strong>19</strong>85, passou a concentrar<br />

62%, em <strong>19</strong>98 (INEP-MEC, <strong>19</strong>99). Na verdade,<br />

o ensino público superior se expandiu apenas<br />

através da criação de universidades estaduais<br />

ou municipais, mas em número insuficiente<br />

para contrabalançar a retirada de investimentos<br />

na expansão da rede pública federal.<br />

De fato, a presença do governo federal na educação<br />

superior, medida em termos de alunado,<br />

caiu de 40%, em <strong>19</strong>85, para <strong>19</strong>%, em <strong>19</strong>98<br />

(INEP-MEC <strong>19</strong>99).<br />

Ora, se o problema da escassez de vagas<br />

universitárias foi parcialmente compensada pela<br />

rede privada, formou-se, com o tempo, um novo<br />

problema, pois a expansão do ensino privado<br />

elementar e médio deu-se pari passu ao crescimento<br />

da “qualidade” do serviço ofertado, o<br />

mesmo não acontecendo com o nível superior,<br />

no qual a iniciativa privada demonstrou-se incapaz<br />

de ofertar um ensino equivalente, em termos<br />

de “qualidade”, à rede pública já estabelecida<br />

8 . Isso por vários motivos, o principal deles o<br />

alto custo da formação acadêmica e da pesquisa<br />

científica, que exigem altos investimentos em<br />

recursos humanos e treinamento. No ensino<br />

elementar e médio, ao contrário, a iniciativa privada<br />

foi capaz não apenas de atrair os melhores<br />

professores, como alguns dos melhores professores<br />

tornaram-se eles mesmos, com o tempo,<br />

grandes empresários.<br />

5<br />

As forças socialistas a que me refiro eram aquelas ancoradas<br />

principalmente por três movimentos sociais: as Ligas<br />

Camponesas, no campo, que demandavam por reforma<br />

agrária; o movimento estudantil, que lutava pela ampliação<br />

das vagas das universidades públicas; e o movimento<br />

operário, nas cidades, cujas demandas eram basicamente<br />

salariais. Essas eram as principais forças sociais<br />

a trazerem para o sistema político demandas potencialmente<br />

desestabilizadoras, posto que este se organizava<br />

de modo conservador, preservando e casando os interessas<br />

das antigas oligarquias agrárias aos interesses da indústria<br />

emergente.<br />

6<br />

A tendência de crescimento do ensino privado em detrimento<br />

do ensino público é analisada em Cunha (<strong>19</strong>86). Por<br />

outro lado, Barros, Henriques e Mendonça (2001, p.<strong>19</strong>),<br />

analisando dados internacionais, chegam à conclusão de<br />

que “o sistema educacional brasileiro entre meados dos<br />

anos 60 e 80 se expandiu a uma taxa bem mais lenta que a<br />

média internacional correspondente.”<br />

7<br />

Maria Helena Guimarães de Castro (2000), usando dados<br />

do INEP/MEC, estima em 14,8% o percentual de<br />

jovens entre 20 e 24 matriculados em escolas superiores,<br />

em <strong>19</strong>98.<br />

8<br />

Uso o termo “qualidade” para designar algo que não é<br />

objetivo e unívoco, mas uma construção histórica sobre o<br />

que é o bom ensino. Em grande parte, a percepção da<br />

“qualidade” está associada ao sucesso dos alunos no vestibular,<br />

no caso do ensino de nível médio, e no mercado de<br />

trabalho, no caso do ensino superior.<br />

Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. <strong>19</strong>1-204, jan./jun., 2003<br />

<strong>19</strong>3

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