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Edição Nº 19 - Uneb

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Por uma escola da roça<br />

elas”, tem como uma de suas linhas de ação o<br />

trabalho com a formação de professores e professoras<br />

que se faz através de uma “inversão<br />

curricular”, que tenciona rever o conteúdo que<br />

se ensina na escola, a forma e principalmente<br />

sua intencionalidade buscando: a) tornar a escola<br />

um espaço de novas aprendizagens mais<br />

significativas e prazerosas; b) desfazer a cultura<br />

historicamente produzida que criou inúmeros<br />

conceitos e pré-conceitos e produziu diversos<br />

estereótipos (FREITAS, 2002, p. 4). Os<br />

resultados desse trabalho revelam que a escola<br />

passa a ter um outro nível de relacionamento<br />

com a comunidade, passando a ser um espaço<br />

que não só disponibiliza novos conhecimentos,<br />

mas converte-se num espaço de reflexão e criação<br />

de formas de intervenção e transformação<br />

da realidade onde se insere. Conforme testemunha<br />

Freitas (2002, p.6), com o desenvolvimento<br />

da experiência do IRPAA:<br />

Em algumas comunidades (...) a escola tem sido<br />

um dos principais instrumentos que têm modificado<br />

a dinâmica de vida destas comunidades,<br />

algumas que inclusive se encontravam em processo<br />

de despovoamento, após a escola, ganharam<br />

um outro tipo de vida e passaram a ser mais<br />

movimentadas e divertidas.<br />

Merece destaque também a proposta pedagógica<br />

“CAT” (Conhecer, Analisar e Transformar)<br />

desenvolvida pelo MOC em parceria com<br />

a Universidade Estadual de Feira de Santana,<br />

nos municípios de Santa Luz, Santo Estêvão,<br />

Retirolândia e Valente (MOC, <strong>19</strong>99). Trata-se<br />

de um trabalho de capacitação de professores<br />

rurais que tem como princípio metodológico o<br />

respeito à cultura local, partindo-se “... da realidade<br />

concreta em que vivem as crianças”,<br />

para, em seguida, ampliar criticamente “... seu<br />

universo de conhecimento e (...) contribuir para<br />

a inserção da criança, do professor e sua comunidade<br />

no mundo” (MOC, <strong>19</strong>99, p. 9). Elaborada<br />

a partir da PER (Proposta de Educação<br />

Rural) desenvolvida no Estado de Pernambuco<br />

desde os anos 70 do século XX, e (re)elaborada<br />

à medida que se desenvolvia, a proposta do<br />

MOC (CAT - Conhecer, Analisar e Transformar),<br />

metodologicamente, desenvolve-se em<br />

três fases:<br />

1) “O Conhecer: observar, ver, levantar dados<br />

da realidade”;<br />

2) “O Analisar: desdobrar, confrontar, sistematizar,<br />

desenvolver o conhecimento produzido<br />

pelos alunos e alunas e elevá-lo a um<br />

novo patamar”;<br />

3) “O Transformar: agir, vivenciar, intervir na<br />

realidade a partir dos novos conhecimentos<br />

produzidos” (MOC, <strong>19</strong>99, p.22-25).<br />

No desdobramento dessas fases, há uma<br />

preocupação com um calendário letivo que esteja<br />

adequado ao calendário agrícola, de forma<br />

que a escola tire o melhor proveito do trabalho<br />

agrícola desenvolvido nas comunidades da roça,<br />

e que estas, por sua vez, possam fazer proveito<br />

dos conhecimentos mais gerais (re)construídos/<br />

(re)elaborados na escola. Além disso, há uma<br />

constante problematização da questão ambiental/ecológica,<br />

a valorização do material disponível<br />

no meio rural e a inserção da pesquisa como<br />

elemento fundamental do trabalho escolar. Nesse<br />

sentido, todos são aprendizes e não há apenas<br />

um que ensina e outros que aprendem<br />

(MOC, <strong>19</strong>99).<br />

Rodrigues (2002), analisando o Projeto Pedagógico<br />

do MST em dois assentamentos rurais<br />

no município de Vitória da Conquista, sudoeste<br />

baiano, constata que a configuração que<br />

as práticas educativas assumem nas escolas<br />

daqueles assentamento, difere das práticas desenvolvidas<br />

nas demais escolas rurais da rede<br />

oficial de ensino daquele município.<br />

A questão que julgamos interessante trazer<br />

aqui sobre o que diferencia a escola dos assentamento<br />

ligados ao MST das demais escolas da<br />

zona rural é no que tange aos conteúdos e métodos<br />

de trabalho. Este grupo trabalha com redes<br />

temáticas, levantando em reunião com toda<br />

a comunidade os temas que consideram importantes<br />

estar tratando na escola. A partir daí, o<br />

grupo de professores elege os temas geradores<br />

e constrói o programa do curso, associando os<br />

temas aos conteúdos oficiais considerados importantes<br />

para a formação do grupo e seu intercâmbio<br />

com a sociedade urbana. Consideram<br />

a realidade do assentado como sendo importante,<br />

além de dar voz e liberdade ao educando<br />

e ao educador, despertando-os para o<br />

156 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. <strong>19</strong>, p. 147-158, jan./jun., 2003

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