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Anais DCIMA Final

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Página 262<br />

Neste viés, o discurso não deve ser vislumbrado como um compêndio de textos prontos e à espera de<br />

constatações acerca de espaços reticentes e lacunares, mas como produto de uma prática discursiva:<br />

Nestas condições, a pesquisa de Michel de Certeau sobre a historiografia, mesmo<br />

não se inscrevendo no quadro de uma teoria explícita, mostra-se mais próxima<br />

das preocupações da AD (...) parte do princípio que não é possível compreender<br />

o discurso histórico, desvinculando seu conteúdo das instituições que o<br />

produzem. Trata-se de repetir, no que tange a disciplina histórica, o próprio gesto<br />

que a funda, aquele que relaciona ideias a lugares, compreendendo a história<br />

como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão etc.),<br />

procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma<br />

literatura); os dois primeiros elementos definem as leis silenciosas que<br />

organizam o espaço produzido como texto. (MAINGUENEAU, 1997, p. 58)<br />

Neste cenário, o discurso publicitário é percebido como um discurso “a mais” ou em excesso. Não se<br />

pode considerar a consistência e a delimitação, sendo cada vez mais difícil atribuir-lhe fronteiras, pois é no<br />

confronto destes efeitos de sentidos, apreendidos dentro de condições de enunciabilidade paralelas ao discurso<br />

que o ethos emerge e é percebido, provocando a adesão dos consumidores de um produto sob o efeito de uma<br />

história na História. Para o autor, o gênero publicitário não permite ver antecipadamente qual cenografia será<br />

mobilizada. Como os sentidos não são estáveis, por mais que haja um esforço para controlar a cena enunciativa,<br />

a memória sempre funcionará de forma a evocar imagens cristalizadas na história.<br />

Nesta teia, “os enunciados são produtos de uma enunciação que implicam em uma cena”<br />

(MAINGUENEAU, 2011, p. 95). Dentro da publicidade, a voz que sustenta o texto, encarna e legitima o que<br />

é dito, provocando a adesão do público. “Produz-se assim, por meio da enunciação, uma confusão entre o<br />

enunciado e o mundo representado” (p.96).<br />

Assim, aponta-se que a eficácia do ethos envolve a enunciação em sua constitutividade histórica, ou<br />

seja, sem que a categoria esteja explícita no enunciado: “o ethos discursivo é coextensivo a toda a enunciação”<br />

(MAINGUENEAU, 2010, p. 80).<br />

Para Maingueneau (2010), a noção de ethos visa à articulação de corpo e discurso, algo que vai além<br />

de uma posição empírica entre oral e escrito. Para o autor, as experiências são evocadas a partir da instância<br />

verbal, como produto das práticas enunciadas historicamente.<br />

A instância subjetiva que emerge da enunciação implica uma ‘voz’, associada a<br />

um corpo enunciante, especificado sócio historicamente: uma maneira de<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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