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Anais DCIMA Final

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Página 529<br />

1. Formação identitária do masculino: as experiências no Varanda<br />

O próprio ato sexual é pensado em função do princípio do primado da<br />

masculinidade. (BOURDIEU, 2002, p. 27).<br />

A formação da sexualidade masculina é entendida como um processo de construção histórica e social<br />

e não como algo que é inerente ao ser humano. Nessa constituição está inserida diversos valores,<br />

comportamentos, relações e práticas, as quais determinam as categorias sociais e sexuais (BOURDIEU, 2002),<br />

homem ou mulher, partindo-se dos pressupostos de uma sociedade falocêntrica, que centraliza o homem como<br />

cerne dominador, em que<br />

A força da ordem masculina se evidencia no fato de que ela dispensa justificação:<br />

a visão androcêntrica impõe-se como neutra e não tem necessidade de se<br />

enunciar em discursos que visem a legitimá-la. A ordem social funciona como<br />

uma imensa máquina simbólica que tende a ratificar a dominação masculina<br />

sobre a qual se alicerça: é a divisão social do trabalho, distribuição bastante<br />

estrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de seu local, seu<br />

momento, seus instrumentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar de<br />

assembleia ou de mercado, reservados aos homens, e a casa, reservada às<br />

mulheres; [...] O mundo social constrói o corpo como realidade sexuada e como<br />

depositário de princípios de visão e de divisão sexualizantes. (BOURDIEU,<br />

2002, p. 18).<br />

Diante disso, o fato de ser homem, dentro desse tipo de sociedade, já justifica a ação e os<br />

comportamentos masculinos em relação à mulher, ou à construção e a cobrança social da identidade do menino<br />

no meio social em que ele está inserido, dessa maneira, “substitui-se o uso do corpo, no qual o sujeito e objeto<br />

se indeterminavam pelo domínio, […] como cconstituição da subjetividade” (AGAMBEN, 2017, p.116).<br />

Dessa forma, o narrador do conto Varandas da Eva, de Milton Hatoum, já inicia o relato, apresentando o lugar,<br />

onde passaria algumas de suas noites de aventuras, “Varandas da Eva: o nome do lugar”. (HATOUM, 2009,<br />

p.7), motivado pelo tio “Ranulfo, o tio Ran, o conhecia” (HATOUM, 2009, p.7), e por seus amigos: Minotauro,<br />

Gerinélson e Tarso, todos impulsionados por aventuras sexuais, justificadas por uma formação identitária<br />

masculina, instaurada por uma realidade social que cobra e massifica<br />

Os homens, particularmente, são instigados desde cedo a falar e valorizar o sexo,<br />

não como possibilidade de expressão de si, mas como maneira de se reproduzir<br />

o modelo de comportamento para eles determinado. As diferenças sexuais são<br />

percebidas como referências estruturais para a identidade dos indivíduos. [...].<br />

Assim, a representação do que é um homem fica reduzida a uma prática sexual<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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