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Anais DCIMA Final

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Página 378<br />

de 1500, para comunicar-lhe “o descobrimento das novas terras”, conforme diz um fragmento do seu texto,<br />

apresentado na epígrafe que abre este tópico.<br />

Não temos os registros do que aquelas indígenas pensaram quando viram pela primeira vez os<br />

europeus, a não ser pela fala e pelo filtro do olhar religioso dos escrivães e dos padres católicos que aqui<br />

chegaram naquela época, que percebiam as práticas locais, muitas vezes como, selvageria (NEVES, 2009).<br />

Essa ideia sobre a população era impregnada nos relatos escritos e visuais da época, o que podia gerar uma<br />

uniformização do pensamento ocidental sobre a população brasileira.<br />

Nos relatos religiosos e dos viajantes, que acompanhavam as expedições coloniais, é possível verificar<br />

também uma série de regularidade em relação à presença da mulher indígena e uma forte tendência em mantêlas<br />

sem identificação, seguindo uma perspectiva homogeneizante sobre elas, como já frisado. Em relação aos<br />

nomes, por exemplo, são quase todas reduzidas a ‘índias’, ou no máximo, a mulher do cacique, filha de um<br />

homem, escrava de um senhor. Os discursos em relação à maioria dessas mulheres, quase sempre partiam de<br />

binarismos e as interpretações sobre elas, partiam de referências cristãs, relacionadas à Maria ou à Eva, que<br />

nada tinham haver com as práticas religiosas destas populações locais.<br />

Para a pesquisadora Ivânia Neves (2009, p.76): “existe um discurso dicotômico bastante visibilizado<br />

em relação a elas: a passividade identificada à virgem Maria, ou a volúpia associada à Eva, portanto, visto com<br />

lentes cristãs”. Há uma forte tendência em pensar a sexualidade dessas mulheres, a partir dessas duas posições,<br />

ainda que em suas narrativas deixem escapar a interpretação de uma realidade observável bem mais plural.<br />

Em relação às imagens reproduzidas sobre indígenas neste período, é possível observar, que elas<br />

seguiam esta mesma ordem de homogeneização e exotização dos povos indígenas, que apareciam nestes<br />

primeiros registros textuais, em que seus corpos, são mostrados, quase sempre desnudados, apesar das<br />

referencias icônicas para estas construções, serem de base cristãs. As imagens deste período eram produzidas<br />

quase sempre com base na indumentária e na pose europeia ‘civilizada’, encontradas nas pinturas barrocas da<br />

época, cujo discurso central é associado à religião católica.<br />

Atualmente, a partir dos conceitos de história descontínua e condições de possibilidades históricas<br />

defendidos por Michel Foucault (2012), é possível perceber um nó que as ligam numa rede de memórias, ao<br />

encontrá-las, por exemplo, na internet e nos livros didáticos.<br />

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