Anais DCIMA Final

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apoiando-se com o chapéu, que a mão direita segurava, e metendo a esquerda no
bolso da calça lançou o olhar observador em derredor: bem defronte, na calçada
oposta, uma mulata velha vendia doces a caixeiros e populares que passavam;
mais adiante uma preta vendia comida feita, arroz-de-toucinho e feijão a
duzentos réis o prato. (MORAES, 2000, p.58, grifos nossos).
É importante destacar que o panorama da decadência de São Luís – e por extensão ao estado
do Maranhão – não está apenas nas páginas ficcionais de Vencidos e Degenerados, mas na própria memória
historiográfica da cidade. Martins (2006) afirma que o ideário da decadência formou-se:
A partir da segunda metade do século XIX, especialmente no último quartel, à
elite intelectual maranhense e à classe dirigente maranhense não restavam
dúvidas de que o cenário que se lhes apresentava, adquiria contornos mais bem
definidos pela ocorrência de vários processos traumáticos que culminariam na
abolição da escravidão, na queda da monarquia, na derrocada da agroexportação
e no corolário de problemas deles decorrentes. (MARTINS, 2006, p.33).
Com base nesse viés da história, formado através de distintas concepções e interpretações,
observamos que tanto nele quanto no texto literário escrito por Nascimento Moraes, o interdiscurso atua como
elemento discursivo essencial para a produção de sentidos, os quais são propostos por meio de um incessante
diálogo com o já-dito, o pré-construído, o que “fala antes”. O discurso literário e o discurso da história,
constituídos pelo trabalho da ideologia, estão, portanto, imbricados. Um, para constituir-se, reclama a presença
do outro, eles são indissociáveis.
Em suma, foi possível observar os fatos que levaram, no romance, São Luís ser apresentada
como uma cidade em ruínas. As ruas seculares que presenciaram uma noite gloriosa foram o mesmo espaço
onde os personagens viveram em duras circunstâncias: os arcaicos ditames orquestrados pela elite local que
emudecia aqueles que a ela não pertenciam, a decadência dos postos de emprego que não supriam as
necessidades sociais, sobretudo dos negros; a certeza de que crescer nessa terra era uma tarefa difícil,
principalmente àqueles que iam de encontro às práticas que disseminavam a desigualdade social.
4. Considerações Finais
Tendo em vista o romance Vencidos e Degenerados, observamos que a construção simbólica de
múltiplas São Luís foi conduzida, na perspectiva da análise do discurso, por meio do diálogo com o
interdiscurso, lugar da memória discursiva.
Dessa forma, estando a pouco mais de um século após a
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