Anais DCIMA Final

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ou sistemáticas. Assim, em uma primeira definição, os saberes dominados constituem blocos de saber histórico
que, mesmo presentes, são mascarados pelas organizações funcionais e sistemáticas, podendo aparecer com a
critica e por meio do instrumento da erudição.
Em uma segunda acepção, os saberes dominados são uma série de saberes que foram desqualificados
como não competentes ou insuficientemente elaborados, tidos como ingênuos, inferiores em termo de
conhecimento ou de cientificidade. Tais saberes foram colocados embaixo, desqualificados em relação a outros
saberes. Foucault (2013a) os denomina de “saber das pessoas”. Não se trata de um saber comum, mas sim de
um saber particular, regional, localizado, incapaz de unanimidade. Assim, segundo ele, foi o reaparecimento
desse saber que realizou a crítica.
Dizíamos, no início dessas reflexões, que Foucault traçou algumas linhas acerca de dois fenômenos
por ele observados no campo epistemológico, quais sejam: a eficácia das ofensivas dispersas e descontínuas e
o retorno do saber. O último fenômeno conduziu a uma insurreição dos saberes dominados, postos em termos
de um embate entre o saber da erudição e o saber desqualificado. Em ambos os casos, tratava-se do saber
histórico da luta, dos combates, que tinha sido subordinado.
Com isso, segundo o autor, delineou-se uma genealogia ou múltiplas pesquisas genealógicas. Na
concepção de Foucault (2013a), a genealogia é o acoplamento do saber erudito com o saber das pessoas, e só
foi possível realizá-la com a eliminação da tirania dos discursos totalitários e suas hierarquias e vanguardas
teóricas.
A genealogia não é uma oposição entre teoria e prática, nem de uma desclassificação do especulativo
para lhe opor o rigor científico. Na concepção de Foucault (2013a, p. 268):
Trata-se de ativar saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados,
contra a instância teórica unitária que pretenderia depurá-los, hierarquiza-los,
ordená-los em nome de um conhecimento verdadeiro, em nome de uma ciência
detida por alguns. As genealogias não são, portanto, retornos positivistas a uma
forma de ciência mais atenta ou mais exata, mas anticiências.
Indo além, Foucault (2013a, p. 268) afirma que se trata “de uma insurreição dos saberes antes de tudo
contra os efeitos de poder centralizadores que estão ligados à instituição e ao funcionamento de um discurso
científico organizado no interior de uma sociedade como a nossa”. Nesse sentido, a genealogia visa combater
os efeitos de poder de um discurso considerado científico e verdadeiro.
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