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Anais DCIMA Final

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Página 614<br />

As caixeiras têm autoridade para louvar para o sagrado, para esse divino, pois é uma festa de caráter<br />

familiar, sendo repassada entre os familiares fortalecendo os laços entre eles e renovando a tradição. Nas<br />

palavras de Marlene Silva, é marcante a presença das irmãs no louvor ao divino espírito santo:<br />

Na minha família são três caixeiras que já tem, ela – minha irmã Maria, a mais<br />

velha, Anica... ela é a minha irmã, a mais velha... eu aprendi com ela tocando<br />

caixa... com ela, com as outras caixeiras que Deus já tem... eu me criei na festa...<br />

eu nasci na festa. (Marlene Silva) 3<br />

Essas senhoras humildes e detentoras de um conhecimento responsável por abrir a comunicação entre<br />

o terreno e o divino dedicavam a sua vida pessoal e sua devoção em função dos festejos e dos festeiros, pois<br />

passavam vários meses no litoral (beira da costa) ou no interior (beira do campo) em busca de donativos<br />

(esmolas ou joias) para o divino.<br />

Conforme seu Antônio de Coló, mestre sala do Imperador há mais de 40 anos, relata que:<br />

antigamente era muitas as caixeiras. Elas viviam em função da festa. Partiam<br />

para interior para tirar joias 4 e só voltavam para Alcântara perto da festa! Agora<br />

são poucas e não fazem mais isso. Não passam esse tempo todo tirando joias. 5<br />

Segundo Reis e Schucman (2010, p. 390), não se pode negar a importância da memória oral, pois é na<br />

narrativa de fatos vividos pelo recordador, pode-se reencontrar o ponto de interseção entre a História e a vida<br />

de seus protagonistas.<br />

Ao falar das peculiaridades existentes na Festa do Divino, Heidimar Guimarães Marques relata que:<br />

E<br />

Eu acho que meu avô, e principalmente a Mãe Calu que conhecia esta festa há<br />

muitos anos antes do que eu. Eles diziam que a festa do Divino era programada,<br />

agilizada pelos escravos, quando começou a Festa do Divino aqui a aceitação foi<br />

dos escravos, e naturalmente, eles fizeram assim um sincretismo. Eles<br />

procuraram assim envolver as entidades conhecidas e acreditadas pelos nobres,<br />

pela casta social daquele tempo e, com isso, a festa se tornou assim muito<br />

popular, muito pública e colocavam-se os senhores em suas posições honrosas,<br />

convidavam os filhos dos senhores para representá-los nas cerimônias. Por isso<br />

tem Imperatriz, Vassalos, Mordomos, reconstituindo uma corte. (MARANHÃO,<br />

1997, p. 124)<br />

[...] Mãe Calu já tinha assim me elucidado como era e porque a festa do Divino<br />

em Alcântara [...] aqui a festa do Divino eles procuravam reconstituir uma corte<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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