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Anais DCIMA Final

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Página 604<br />

humanizando”, um discurso complementar à pena do periodista de 1968 e coerente às pretensões de sentido e<br />

consenso público pelo governo ditatorial que construía a rodovia, bem como participava e produzia um sentido<br />

da fronteira como limite do humano. Além dela, estaria o não-humano, o natural, o animal. Assim, foi a “transaamazônica”<br />

para diversos povos indígenas que tinham seus territórios de vida na rota da “estrada”.<br />

3. Considerações finais<br />

O grupo de pesquisadores que convive, desde 2014, com mais proximidade com os “reinos-saberes”<br />

na vida, nas narrativas e nas práticas pedagógicas da/na aldeia Kyikatêjê, compreende desses sucessivos<br />

encontros sua desautoridade tradutória para os regimes de sentidos do povo indígena da Terra Indígena Mãe<br />

Maria. Entende que as experimentações simétricas ou até mesmo reversas não seriam facilmente executáveis,<br />

mas, a partir dessa convivência e das experiências nem sempre frutíferas dos indígenas com pesquisadores que<br />

já passaram e já se foram de aldeia, procura executar uma “conexão entre campos semânticos e também<br />

etnográficos – heterogêneos” (GOLDMAN; VIVEIROS DE CASTRO et al, 2006, p.01). Seria uma agenda<br />

hercúlea, iniciada no Programa de Extensão “Mito-Poéticas Kyikatêjê: Repertórios Culturais “Tectônicos” em<br />

“Devir” com Práticas de Educação Bilíngue (2014/2015/2016), com a composição de um livreto a partir dos<br />

ensinamentos dos professores Kyikatêjê e de narrativas relacionadas ao Ritual do Pemp ligado à iniciação<br />

masculina. Jovens permanecendo “reclusos” em pequena habitação tecida por palhas de babaçu recebem<br />

ensinamentos relacionados à bravura e à honradez, bem como uma dieta alimentar. Saem apenas para<br />

atividades coletivas relacionadas à caça, colheita de roças e, especialmente, para banhos no igarapé, momento<br />

de purificação do corpo-alma. Portanto essa proposição apenas dá prosseguimento a esse diálogo na busca de<br />

um “Nós”, não significando uma opção tranquila ou até mesmo marcada pelo consenso e a harmonia. Pelo<br />

contrário, seria um campo de tensões ou zona de instabilidade problematizando o que seria um eu no outro ou<br />

um eu com o outro. Sujeitos tentando deixar seus lugares fixos, para as relações. “Morte” parcial de “sujeitos”<br />

substantivados: “não há sujeitos, o que há são regimes e modos de subjetivação, com suas linhas centrais e<br />

periféricas”. (ILHA, 2011, p.50)<br />

Desse campo, indígenas são devorados pela imaterialidade simbólica das páginas dos jornais,<br />

indígenas tornam-se “funcionários” de um discurso segregador, na maioria das vezes pelos periodistas: O<br />

aparelho se apropria da vontade do funcionário, devorando sua força de decisão [...] uma atitude de entrega,<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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