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Anais DCIMA Final

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Página 846<br />

ressaltando o elemento literário – o narrador como construção de rememoração para a construção do enredo e<br />

do espaço romanesco na obra montelliana.<br />

3. Análises e discussão<br />

A literatura é uma criação estética, tendo como natureza a ficção, num evento linguístico de forma<br />

ordenada, mas diferenciada do cotidiano.<br />

Na obra literária a memória é instrumento de estratégia, na qual o escritor utiliza-a com a função de<br />

recuperar o tempo no texto ficcional de forma de poetizada. O recurso da memória se destaca na narrativa<br />

fictícia pela forma representativa da linguagem com a utilização de metáforas e outras figuras conotativas, que<br />

constitui uma modalidade específica da comunicação, distinguindo-a das demais utilizadas no cotidiano para<br />

Ecléa Bosi a linguagem é: “o instrumento decisivamente socializador da memória é a linguagem.” (BOSI,<br />

1987, p. 18).<br />

Em A Noite sobre Alcântara, a narrativa trazida de outros tempos da cidade e sua decadência, pode-se<br />

perceber o quanto o munícipio se transformou, o narrador ratifica a ideia de transfiguração, transmitindo-a<br />

com seu “atravessamento” no discurso ao longo da obra.<br />

Por esse tempo, em algumas ruas próximas ao Largo da Matriz, as luminárias<br />

ainda pendiam dos suportes de ferro, nos balcões dos sobrados. Mas pouca gente<br />

as acendia, a não ser nas noites de festas. Toda iluminação da cidade se reduzia<br />

assim aos lampiões encardidos, numas tantas esquinas, e que mal davam para<br />

clarear a calçada com sua chama.<br />

A despeito das ruas escuras, andava-se por ali, a horas mortas, sem perigo de<br />

malfeitores. (MONTELLO, 1979, p. 25, 26).<br />

A personagem, Natalino, passa a reafirmar no discurso narrativo, ao evocar o passado pela ação da<br />

memória, o mundo ao seu redor transfigurando o agora do que vê pela sobreposição a ele do outrora que viu,<br />

tornado marca do seu discurso:<br />

Alcântara com a sequência de suas casas vazias, como que o oprimia e esmagava.<br />

Por toda a parte, nas ruas retilíneas, o mesmo silêncio, sem um piano a tocar,<br />

sem correrias de meninos, sem uma voz de mulher cantando ao embalo de rede.<br />

Em vez de pleque-pleque das sandálias das negras nas calçadas, o uivo do vento,<br />

logo esfuziante, misturando-se ao ruído das ramagens que a rajada fresca<br />

sacudia. (MONTELLO, 1979, p. 14)<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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