23.01.2018 Views

Anais DCIMA Final

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Página 322<br />

A Cerimônia de pedido de desculpas realizado pelo Estado Brasileiro aos familiares das pessoas<br />

assassinadas na Chacina da Fazenda Ubá, vinte e sete anos depois, constituiu um ato simbólico de reparação,<br />

assumido pelo Estado como parte do acordo amistoso pactuado pelo Brasil, familiares de vítimas da chacina<br />

sob mediação das organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos. Objetivou o<br />

reconhecimento por parte do Estado em reconhecer que cometeu violações contra os oito trabalhadores rurais<br />

que no ano de 1985, juntamente com suas famílias, ocupavam a Fazenda Ubá e foram brutalmente assassinados<br />

(BASTOS, 2013).<br />

A cerimônia ocorreu no dia 16 de agosto de 2012, no assentamento fazenda Ubá, em São João do<br />

Araguaia, sudeste do Pará. Contou com a presença de participantes do governo federal, estadual, Comissão<br />

(CIDH/OEA) e Movimentos Sociais de Luta pela terra, além das organizações que denunciaram o caso aos<br />

organismos internacionais, como SDDH, o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), A CPT, e o<br />

Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e alguns familiares das vítimas, dentre eles, Carlito, que<br />

assistiu o assassinato de seu pai enquanto se escondia com os irmãos embaixo da cama. Trechos do discurso<br />

de Carlito, vinte e sete anos depois da chacina, no ato simbólico celebrado pelas organizações e sociedade civil<br />

ali presentes:<br />

(...) mas a batalha não terminou, porque a luta foi pela terra, pelo direito de<br />

trabalhar. As pessoas que perderam suas vidas, foi por causa da terra, para<br />

adquirir um pedaço de chão para que pudesse cultivar e garantir o sustento de<br />

seus filhos. Essas famílias ficaram e ainda estão fora do programa do governo<br />

federal (...) os mártires partiram, mas as famílias ficaram (...) vinte e sete anos<br />

passaram, mas ainda hoje nós podemos contemplar os momentos terríveis que<br />

ocorreram em nossas vidas. Esperamos que o Estado Brasileiro possa cumprir<br />

com todos os itens do acordo amistoso, com todas as famílias (...). Disponível<br />

em: https://www.youtube.com/watch?v=6ZIJU1QZrOE<br />

Francisco de Assis Soledade, na época presidente da Federação dos trabalhadores na Agricultura<br />

(FETAGRI), apresentando uma visão crítica a esse processo de reparação simbólica, afirmou<br />

O estado não tá vindo aqui porque é bonzinho e porque quer reconhecer...é<br />

porque ele está sendo forçado a fazer esse processo. Digo isso porque nós temos<br />

vários outros processos que estão engatilhados nesses processos (referindo-se ao<br />

pedido de reparo junto aos organismos internacionais, diante da negação do<br />

Estado Brasileiro em julgar e reparar danos e violações). Os parentes de pessoas<br />

que foram assassinadas, até hoje essas pessoas não tem um lugar pra trabalhar,<br />

pra morar e viver. Então, pra falar em justiça tem que reparar isso também. E aí,<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!